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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

O mundo na mira do dedo

“O que há a fazer hoje é começar a caminhar e ver o mundo como ele realmente é, ver o modo como ele caminha e fala realmente. Agora quero ver tudo. E mesmo que nada do que eu absorva agora seja meu, depois de algum tempo dentro de mim passará a sê-lo. Meu Deus, olha-me só para esse mundo aí fora, todo esse mundo fora de mim, bem para além dos limites da meu rosto, e a única maneira de tocar-lhe realmente é colocá-lo todo dentro de mim, a circular-me no sangue, a ser bombardeado mil vezes, dez mil vezes ao dia! Absorverei tudo isso para que nunca se esgote em mim. Um dia destes, terei todo o mundo em mim. Para já, tenho-o na mira do dedo, já é um começo. “ (Fahrenheit 451, Ray Bradbury)

Ler: Fahrenheit 451

“- A minha mulher diz que os livros não são reais. - Graças a Deus por isso. Podemos fechá-los e dizer: Espera lá... Podemos ser Deus com eles.” [este livro foi escrito em 1953 e retratava uma realidade imaginada e futurista de 2022. Infelizmente só o li em 2018. E a cada página não consegui deixar de pensar como é possível que em 1953 alguém escrevesse algo que em 2018 faz todo o sentido. Todo. Pelos vistos em 1953 já se sabia que em 2022, que é já amanhã, iria faltar ao mundo uma boa dose de humanidade. Em 1953 este livro era de ficção científica quase! Em 2018 é assustadoramente possível. Um clássico obrigatório para todos os amantes da literatura!]

Ler: Filho Único, Rhiannon Navin

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Este foi um dos melhores livros que li este ano. Nunca será um grande clássico da literatura mas é um livro com uma brutalidade emocional que não nos deixa indiferentes. O enredo é simples e até tinha tudo para ser só mais um livro de ficção baseado na realidade: um maluco entra numa escola armado e começa a disparar em todas as direcções, ferindo e assasinando diversas pessoas, crianças incluídas. Zach Taylor tem 6 anos e estava na escola nesse dia, viveu este pesadelo e o seu irmão mais velho é morto no atentado. A partir daqui temos o relato do episódio por esta criança de 6 anos, o trauma que esta vivência lhe deixou e a forma como a família gere o luto de um filho perdido de uma forma tão brutal, alienando-se do filho que sobreviveu. Podia ser só mais um livro, como disse, mas tem relatos tão emocionais e brutais na voz deste menino de 6 anos, que passou de só mais um livro para um grande livro! 

 

O homem armado apareceu e a vida real desapareceu, e agora era como se vivêssemos numa nova vida falsa. (...)

Fora da nossa casa, parecia que tudo o resto estava normal e igual. quando olhei pela janela do meu quarto reparei que a vida continuava na nossa rua, e era como antes. O senhor Johnson continuava a levar o Otto a passear pelo bairro, o camião do lixo ainda veio, e o carteiro trouxe na mesma o correio às 4 da tarde, sempre quase à mesm hora. Todas as pessoas que não pertenciam à nossa casa faziam o seu dia normal, e perguntava-me se saberiam que dentro da nossa casa tudo tinha mudado. 

A única coisa do exterior que era igual ao interior da nossa casa era a chuva. Chovia e chovia sem parar, e era como se nunca fosse parar, tal como a mamã, que chorava e chorava e nunca parava. 

Ais estavam a passar as mesmas coisas de sempre na televisão, e os anúncios ainda falavam dos mesmos assuntos, como, por exemplo, do quão maravilhosos eram os cereais Frooot Loops, como se tudo fosse como antes e como se isso ainda tivesse importância. Achei que, se visse os programas que normalmente vejo, talvez me fizessem sentir menos esta nova vida falsa, mas agora as piadas do Phineas e Ferb já não pareciam tão divertidas, e mesmo quando aparecia uma engraçada não me ria. Porque sentia que quase tudo no meu interior era o oposto de rir.

Ir é o melhor remédio: Islas Cíes, Vigo, Espanha

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Gente do Norte: o paraíso está bem perto de nós e dá pelo nome de Islas Cíes! 

As Islas Cíes fazem parte do parque nacional das ilhas atlânticas e localizam-se em Vigo, a 150km do Porto, numa viagem rápida e confortável, sempre por autoestrada. Depois é só apanhar o ferry (super ocnfortável) no porto de Vigo (importante: reservar antes os vossos lugares online e pedir a autorização de entrada na ilha, também online) e 45 minutos depois chegam à ilha onde vão querer voltar muitas vezes (e se tiverem a mesma sorte que eu, ainda podem ver golfinhos durante a viagem no ferry!).

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 A ilha oferece-nos a oportunidade de nos estendermos nas suas praias a lembrar as Caraíbas (mas com um mar gelado!!!) ou de caminharmos pelos percursos pedestres que por lá existem e que deverão ser igualmente bonitos. Nesta primeira visita e porque estava um calor de ananases, optamos por nos deliciarmos com as praias. 

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A cor daquelas águas é absolutamente irresístivel, e é isso que nos dá a vontade de, apesar de nos gelar até à alma, passarmos o dia de molho. 

Tratando-se de uma reserva natural, há uma relativa escassez de recursos e condições, mas que compensam se pensarmos que estamos a preservar um pequeno paraíso. A título de exemplo, locais para comer, só dois cafés, estupidamente caros e limitados, por isso carregam a marmita convosco, casas de banho apenas as do parque de campismo, a 10/15min a pé das praias e caixotes do lixo não existem por toda a ilha. Se isto torna a experiência menos tentadora? Nada! 

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O dia passa a voar por lá, seja na areia, seja na água, seja a caminhar, seja a afastar o olhar dos nudistas (sim, há lá praia para eles, que também é para nós, não fosse ela uma praia lindíssima!). Preparem as vossas máquinas fotográficas, porque não se vão cansar de fotografar e fotografar! E que bem que aquelas cores do mar ficam nas fotografias!

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Deixo-vos aqui só um cheirinho de um dos locais que mais gostei de descobrir este Verão e que passará a fazer prte do meu roteiro anual de passeios de praia!

Ide e comprovai!

 

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"De pequenino se volta a menino"

Contextualizando: o Sr. J. tem mais de 80 anos e um comportamento apelativo vincado há imensos anos. Deveria frequentar o centro de dia todos os dias, mas nas fases mais apelativas, especialmente dirigido aos familiares, não o faz durante uma carrada de dias seguidos, ficando por casa "a morrer aos poucos", num estado de total prostração e a fazer asneiras atrás de asneiras, principalmente no que ao controlo do seu xixizito diz respeito. Nestas alturas, é necessário ser dura com ele, ameaçá-lo com lares e internamentos e ralhar muito. Normalmente no dia seguinte está no centro de dia, como se nada se tivesse passado. 

Depois de mais de 2 semanas em casa, uma carrada de asneiras e uma visita ameaçadora minha na passada 6ª feira, o Sr. J. voltou na 2ª feira ao centro de dia. Ontem apareceu-me à porta do gabinete ao final do dia...

- Que se passa, Sr. J.?

- Sra. Dra., eu tenho levado esta semana seguidinha direitinho... portei-me bem na 2ª, portei-me bem na 3ª, portei-me bem na 4ª, portei-me bem na 5ª...

- É verdade! E então? (neste momento só um pensamento na minha cabeça, "vai-me pedir para amanhã ficar em casa!")

- E então eu agora fui à casa-de-banho e fiz um bocadinho de xixi por fora... e acho que sujei as calças...só um bocadinho... posso vir na mesma para o centro amanhã? Ainda por cima é dia de rezarmos o terço...e foi só um bocadinho... não conte a ninguém!

(Ok! O meu coração estalou!)

- J., foi um acidente, não foi? Se foi foi um acidente, acontece, ninguém lhe vai ralhar. E amanhã quero-o cá assim bonito de cor-de-rosa!

- Gostas de me ver assim? (e um grande sorriso de menino!). 

- Muito! Está um rapaz todo jeitoso! E agora a quem é que vamos contar este segredo para lhe podermos dar banho? Fica só entre o Sr., eu e mais quem? 

 

E ele escolheu quem com queria partilhar o nosso segredo. E hoje lá estava no centro de dia. 

É nisto que nos tornamos. Velhinhos envergonhados por termos feito umas pinguinhas de xixi nas calças. Tal como as crianças! 

Quando tudo é levado ao extremo

Caiam-me em cima, insultem-me, atirem-me todas as pedras, mas eu não consigo aplaudir uma capa destas. E a questão é apenas uma: isto não é saúde. Isto é tudo menos saúde!!! Se valorizamos atitudes de marcas que proíbem modelos anorécticas e estupidamente magras não podemos aplaudir capas destas. Todo o meu apoio para a valorização pessoal e gostarmos de nós como somos e do nosso corpo com todas as suas imperfeições, mas isto é demais. Dêem-nos rabos com celulite, mamas descaídas, barrigas sem abs definidos, mas não esperem com isto em capas de revistas mundialmente reconhecidas! Isto não pode ser inspiração para ninguém. Isto não pode ser modelo para nada! E não é por eu ser defensora da alimentação saudável e da prática regular de exercício físico, é porque esta capa está carregadinha de falta de saúde! Os riscos a que esta jovem está sujeita não compensam em nada, nada, o fato de um dia ter sido capa da Cosmopolitan. Claramente caímos na loucura dos extremos e já não sabemos até onde é que essa onda do “valoriza-te e aceita-te tal como és” deve ir. Não sei qual foi o real objetivo desta capa. Não consigo perceber. Mas sei que também esta capa é um reflexo claríssimo de tudo aquilo que não deveremos querer ser. Valorizem-se sim. Exponham as vossas imperfeições. Gostem-se. Mas olhem por vocês e pela vossa saúde. Não. Eu não aplaudo esta capa.

Salário emocional

  Não vem espelhado no recibo ao final do mês e pode assumir as mais diversas formas, mas este tipo de "pagamento" poderá bem ser aquele que mais diferença faz na saúde do nosso local de trabalho e no bem estar dos colaboradores. Desconhecia a expressão, mas rendi-me a ela à primeira leitura, talvez porque me tenha identificado imediatamente com ela. 

   Há coisa que não têm preço na vida: gestos, palavras, sorrisos, toques, palavras... No nosso emprego também! Se o ordenado ao final do mês na nossa conta sabe bem, são os pequenos gestos diários que fazem de cada colaborador aquilo que ele é e aquilo que ele ainda poderá ser. O salário emocional não se reflete em números, mas reflete-se com toda a certeza em produtividade, motivação e satisfação com o trabalho diário. Mais do que o verdadeiro salário, é este salário emocional que nos arranca da cama todos os dias para irmos trabalhar e é este que trazemos diariamente para casa quando saimos com aquela magnífica sensação de "missão cumprida". 

   O desafio da coordenação, de serviços, espaços e equipas, foi provavelmente dos maiores desafios que recebi até hoje e aquele que mais me surpreendeu pela forma como me foi cativando dia após dia. Se chefiar pessoas inicialmente me causou a maior das confusões, atualmente é das coisas que mais prazer me dá. E a justificação é simples: eu aprendi, com as minhas equipas, que o segredo não é saber mandar e controlar e impôr. O segredo é ir conquistando o nosso lugar de topo indo lado a lado com a equipa. O segredo é estar lá, para chefiar e para brincar, para trabalhar e para a vida pessoal. O segredo é pedir justificando e explicando em vez de mandar. O segredo é dedicar tempoa a conhecer cada um dos nossos colaboradores, até chegarmos aquele ponto em que conseguimos conviver pacificamente e espontaneamente com todos eles, sem a pressão do "ela é a minha chefe". O segredo é não esquecer que todos são pessoas como nós, que todos têm os seus dias, as suas qualidades e os seus defeitos e que todos, todos, gostam de ser valorizados, ouvidos, estimados e que não podemos esperar que se entreguem a nós (ou ao trabalho) sem retorno. E o melhor retorno é, sem sombra de dúvida, o retorno diário, o retorno das pequenas coisas, o salário emocional. 

   Se são a emoções que nos guiam, se são elas que nos alimentam, que nos constroem e nos destroem, porquê ignorá-las no local de trabalho? Valorizem-nas! E terão colaboradores que não só se valorizam, como saberão valorizar todos os esforços de quem chefia! 

Banda sonora da nossa vida

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 Que maravilha que era se pudessemos efetivamente acompanhar alguns momentos da nossa vida com banda sonora escolhida de propósito para aquela ocasião e esta novidade do instagram de podermos acompanhar as nossas stories com pedacinhos de músicas é absolutamente adorável, porque nos permite ter um cheirinho do bom que isso seria.

   Quem nunca se comoveu ou sorriu ao ver uma daquelas montagens fotográficas acompanhadas por uma bela músiquinha que atire a primeira pedra. Ou então quem nunca achou que todo o poder de uma determinada cena de um filme estava na música que o acompanhava que atire a segunda pedra. Há músicas que encaixam perfeitamente em determinados momentos e os tornam ainda mais significativos e poderosos. A música descomplica e embeleza a vida, dá-lhe força. Seja ela mais animada ou mais a tocar para o melodramático, se tem música sabe melhor, fica melhor e, literalmente, soa melhor, seja para animar ou para deprimir.

   Por isso, toca a sonorizar as vossas fotos! Toca a dar música aos vossos momentos. Sabe tão bem que só nos apetece dizer que isto é música para os nossos...olhos!

 

As pessoas felizes lêem livros e bebem café (ou sobre a importância de sabermos o que nos faz felizes)

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Num mundo que corre cada vez mais rápido, saber abrandar é fundamental. Parar para apreciar o que de bom esta vida tem e saber reconhecer aquilo que nos preenche e reconforta a alma é cada vez mais um exercício obrigatório para mantermos os nossos níveis de energia e motivação em alta. 

Se falar é fácil e bonito, pôr isto em prática pode tornar-se um verdadeiro desafio. Julgo que facilmente todos nós somos capazes de identificar uma série de coisas que nos fazem realmente felizes, mas até que ponto somos capazes de realmente parar, desligar, para disfrutarmos dessas coisas? Até que ponto não estamos a fazer essas coisas felizes mas com a cabeça a fugir recorrentemente para lugares comuns e quotidianos? Milhentas vezes, certo? No que me diz respeito, certíssimo! 

Se a idade e a vida me têm ensinado a valorizar cada vez mais e melhor aqulo que realmente importa para mim e faz a diferença nos meus dias, a mesma idade e a mesma vida têm transformado a minha mente e as minhas entranhas numa garrafa de coca-cola que está constantemente a ser agitada. Desligar é para mim atualmente um exercício dificílimo! Pode parecer um contra senso; eu, psicóloga por formação e convicção, eu, que passo os meus dias a dizer "tenha calma, tudo se vai resolver"...mas já diz o ditado, em casa de ferreiro espeto de pau e é bem verdade. Aconselhar é fácil, saber o correto e o errado é possível, aconselhar é maravilhoso, mas quando viramos o espeto para nós é que conseguimos perceber que a teoria é realmente muito bonita. 

O meu esforço é constante e permanente, mas a minha ´ansiosa mente´ não tem remédio. Sou feliz a fazer uma série de coisas; tenho procurado rodear-me daquilo e daqueles que me fazem bem e me acalmam a alma; sei reconhecer quando estou a exagerar; sei que tenho de abrandar mental e fisicamente (a difuculdade que eu tenho e estar parada chega a ser assustadora!); sei isso tudinho, mas a garrafa de coca cola, que não bebo há séculos, continua a borbulhar cá dentro. Talvez também por isto, por reconhecer isto, cada vez valorizo mais a vida e cada vez me foco mais em aproveitar o meu tempo livre a fazer aquilo que mais gosto e me acalma. Dificilmente consigo desligar totalmente, mas algures lá pelo meio há momentos de calmaria! 

Se eu gostava de ser diferente? Gostava! Sou positiva, sou optimista, sei não dramatizar, sei gerir esta mixórdia toda que nos vai cá dentro. Mas também sei que esta minha característica me rouba anos de vida, me rouba sorrisos, me acelera os minutos e o metabolismo (é um facto!) e me faz descarregar muitas vezes em cima de quem não tem culpa nenhuma. Como positiva que sou resta-me acreditar que mais uma vez a vida, as pessoas e a experiência me vão ensinar a ser capaz de passar de garrafa de coca cola a garrafa de água. Entretanto vou continuando a tentar, sem nunca deixar de viver o que me faz feliz! Acima de tudo! O que quer que seja que nos faz felizes é o que tem de ser valorizado, é onde temos de investir o nosso tempo e o nosso dinheiro, se assim for necessário (e, venha quem vier, muitas vezes é necessário), seja em mais uma viagem de descoberta ou em 20 min sentada numa esplanada a beber um café e ler um livro. 

Valoriza quanto vales. Sem pudores.

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Vivemos num mundo de excessiva valorização do que é material. Não é novidade nenhuma isto; o dinheiro comando o mundo moderno e, por isso, ter tornou-se muito mais importante que ser. Mas também hoje, mais do que nunca, assistimos a fortes incentivos à valorização do "não material". O desprender dos bens materias está na moda, os retiros espirituais em Bali estão na moda (e custam balúrdios, by the way, só para contrabalanças as coisas), o yoga e toda a sua filosofia de bem com a vida está na moda (nada contra, o yoga é provavelmente dos hábitos passados que abandonei de que mais falta sinto!), a meditação está na moda, vender a roupa que já não usamos nas redes sociais está na moda... ou seja, há uma forte corrente no sentido de nos ensinar a viver com menos, mas a viver mais.

   Eu gosto de ter. Ou de poder ter aquilo que gostaria de ter. Não sou excessivamente materialista, sou relativamente poupada, não sonho com marcas ou smartphones de última geração, mas gosto de ter as minhas coisas, os meus caprichos. Gosto de poder comprar uma peça de roupa que gosto, gosto de poder esbanjar/investir pequenas fortunas em livros e na minha alimentação "diferente", gosto de ir ali ao site da Ryanair e marcar uma viagem de um dia para o outro (posso fazer uma pausa para?). Gosto. Ponto. E não me envergonho. Felizmente a vida e a idade (maldita idade que tem as costas largas para tudo!) têm me ensinado a, não me armando em fundamentalista, valorizar muitos mais momentos do que coisas, afinal, são os momentos que vivemos, sejam eles bons ou menos bons, que nos tornam pessoa e que fazem esta passagem por cá valer realmente a pena.  

   Ora e este discurso toda sem nada de novo para quê? Por isto: hoje fui informada pela chefia que, como forma de reconhecimento pelo meu bom trabalho e pela forma positiva como agarrei o desafio que me foi lançado de assumir funções de coordenação há mais de 2 anos, o meu ordenado será aumentado (calma, ainda não vou poder fazer um retiro espiritual em Bali). 

   Todos nós gostamos de ser reconhecidos pelo esforço e dedicação diárias nas nossas funções, certo? Eu costumo dizer que o meu maior reconhecimento vem do feedback que vou recebendo dos meus clientes, idosos e crianças, e do bom ambiente de trabalho que consigo ter com toda a equipa que coordeno. E de fato tem de ser mesmo isto a alimentar-nos a alma diariamente. Mas o reconhecimento que vem de quem está a cima de nós também é igualmente importante. Fundamental até! Felizmente posso dizer que tenho tido diversos momentos em que fui superiormente reconhecida pelo meu trabalho, alguns deles públicos até, o que alimenta ainda mais a nossa auto-estima. Não tenho vergonha de o dizer, nem o faço com sentido de gabarolas. Eu faço o meu trabalho o melhor que posso e sei. Nem todos os dias são iguais, nem todos os dias estamos com a mesma capacidade, nem todos os dias sou o exemplo do bom profissional. Mas todos os dias sou o meu melhor. Ter um idoso a dizer "toma lá um beijinho que tu és um amor" é bom. Ter um familiar de um idoso dizer "obrigada por tudo o que fizeram pelo meu pai" é bom. Ter uma mãe no final do ano letivo a dizer "obrigada pela forma como sempre educaram o meu filho" é bom. Ter uma equipa com quem almoço diariamente e com quem partilho momentos de verdadeira galhofa mas que também se sente à vontade para desabafar comigo problemas pessoais é bom. Mas ouvir do presidente do conselho de administração dizer "os bons resultados deste centro devem-se ao excelente trabalho de quem dirige diariamente esta equipa e este serviço" ou "você agarrou os desafios que lhe lançamos e superou as expetativas de todo o conselho de administração" também é muito bom. E ser aumentada como forma de reconhecimento por tudo isto é bom. É muito bom! Hoje eu estou feliz por isso. Sem vergonhas. Sem falsas modéstias.

   Se é isto que me vai arrancar da cama amanhã para mais um dia de trabalho? Também é! Afinal não podemos esquecer que cada gesto de reconhecimento, material ou humano, tem acima de tudo de ser um elemento motivador e o combustível que nos faz querer ser ainda mais e melhor. Fazer aquilo que gostamos e chegar ao final do dia com aquela sensação deliciosa de missão cumprida tem de ser aquilo que nos move, mas, venha quem vier, o dinheiro também nos move. Tudo nesta vida tem um valor. Tudo. Cada um de nós também o tem. E sabe muito bem saber que a partir de 1 de Setembro o meu valor vai ser superior ao de hoje! 

(atendendo à temática, achei que uma foto tirada à porta do Casino de Tróia, encaixava bem aqui...)