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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

La Isla Bonita

 

 

   Nove dias de férias são muito bons. Nove dias de férias em Palma de Maiorca são ainda melhor. Mais do que uma ilha espanhola, Palma é um pequeno mundo à parte, um local completo e que nos oferece tudo o que podemos imaginar. Há sol, calor e, como este ano descobri, chuva que aparece e desaparece em 1, 2 horas. Há praias para todos e praias mais desertas; há um mar a perder de vista com uma água de um “azul – esverdeado – transparente” (estranho, mas não encontro outras palavras); há a agitação de uma grande cidade que consegue ser cosmopolita e histórica ao mesmo tempo; há locais onde a mão humana ainda não chegou e nunca chegará, locais de cortar a respiração, onde nos sentimos puros, livres, renascidos.
  Mais do que um destino de férias, é um dos meus destinos de eleição. Um destino onde me sinto leve como uma pena, onde o sorriso não se desfaz de manhã até à noite e onde as 24horas de cada dia parecem poucas para tanta vida.
 
(o meu paraíso na terra - Sa Calobra)
 
   Em Palma de Maiorca suspiramos profundamente ao chegar e ao partir. Sente-se alegria ao chegar e saudade ao partir.
   Em Palma desejamos que os nossos olhos captem cada pormenor, cada imagem, e que o nosso cérebro as guarde interminavelmente, para podermos lá voltar mentalmente sempre que o físico não nos permite.
   Naquela isla bonita as máquinas fotográficas nunca parecem suficientemente boas e as fotografias nunca são suficientemente reveladoras, porque não captam a perfeição de uma vivência.
   Quem lá vai quer voltar, é por isso que depois de 4 visitas e 2 dias depois de regressar já fui invadida pela nostalgia, ou melhor, já sinto saudades do espírito daquele pequeno paraíso rodeado de azul.
 

 

Fechado para férias

   Com esta chuva deprimente estou de partida para lugares onde há sol e calor, praia, um mar infinito com temperaturas invejáveis e um espírito latino no ar. O destino: Palma de Maiorca.

   A borboleta repousará durante 9 dias em terras espanholas, regressando com a alma renovada e o espírito rejuvenescido.

   Até já.

 

 

O desespero de uma mala

  

Tal como toda a gente, gosto de ir de férias. Gosto da escolha do local ideal, dos bilhetes de avião na mão, dos corredores do aeroporto, dos placards com os voos, do check in, das lojas das papelarias do aeroporto, de entrar no avião, da sensação de ficar colada ao banco no momento da aterragem (o mesmo não posso dizer da descolagem, que me faz agarrar o banco com todas as minhas forças para controlar a aparente sensação de estar a desfalecer), de recolher as malas, de entrar no autocarro que nos leva ao hotel, de entrar no hotel...

   Mas há algo que dá um toque menos colorido a tudo isto: fazer a mala! Não é uma questão de impaciência, mas sim de incerteza e impotência! Sim, impotência! Impotência por ter de escolher umas coisas em deterimento de outras. Como é possível escolher determinadas peças de roupa e deixar outras no guarda vestidos tão tristes e sozinhas? Como é que eu sei se não vou querer combinar aqueles calções com aquele top e não com o outro? E se em algum dia está frio, que casacos levo? E os vestidos? Quantos? E se?...e se?...e se...?

   A solução é: levar o máximo possível, tentar não passar os 20kg legalmente (e moralmente) permitidos, pedir ajuda para pegar na mala e sorrir perante todos os comentários e observações jucosas em relação ao meu guarda-vestidos com rodas.

   Time to go...a mala ainda está a meio e muitas gavetas pedem desesperadamente para serem esvaziadas.

 

Verdades a peso de ouro

   E hoje foi dia da verdade, que é como quem diz, do programa «Momento da Verdade». Confesso que não assisti ao primeiro programa e que toda a discussão e polémica que o mesmo suscitou despertou o meu interesse e curiosidade. E, por isso, hoje sentei-me no sofá em frente à televisão para perceber qual a receita de tanta polémica.
   No final, a ideia que eu tinha do que seria “a verdade” dos nossos portuguesinhos saiu reforçada. Estamos perante uma nova forma de reality show muito ao jeito do “verdade e consequência”, na qual os podres e os doces de um grupo de pessoas são expostos, explorados, aplaudidos e vaiados, através de uma sequência de perguntas formuladas por uma apresentadora que se esquece que o seu papel ali é apresentar e não julgar. É natural que os espectadores gostem de conhecer as verdades e mentiras da vida dos outros, pois isso alimenta-lhes as conversas de café, enche páginas de revista e fá-los abstrair das suas próprias vidas.
   Depois de um tropa machista, inconsciente, ausente e infiel, hoje tivemos um português do Norte aparentemente facilmente inflamável,  que gosta de “roubar” os clientes da sua mercearia e piscar o olhinho a uma miúda gira ao mesmo tempo que pisca o outro olho a rapazes, senhores e homens, desde que isso lhe encha a carteira. A estas verdades juntaram-se-lhes outras tantas, havendo espaço para doenças fingidas, frustrações perante as dimensões daquilo que a natureza lhe deu e sentimentos de rancor e desilusão para com um dos filhos. Neste caso, tanta verdade dita com um sorriso matreiro na cara resultou em nada, consequência de uma verdade que afinal era mentira para o polígrafo, que não se livrou de ser também acusado de mentiroso pelo próprio indivíduo que diz ser verdade as mentiras que conta, afinal não foi para sair dali de mãos a abanar que ele se submeteu a tamanha exposição.
     O Momento da Verdade parece-me mais um programa para ocupar o tempo dos comentadores da Tertúlia Cor de Rosa e, a ser verdade tudo o que ali se expõe (vagueiam por aqui algumas dúvidas relativas ao processo de selecção dos candidatos, à forma como a produção fica a conhecer tão profundamente a vida dos mesmo, à autenticidade das vidas que ali se sentam e à fidelidade e fiabilidade do polígrafo), acho lamentável tamanha exposição a troco de dinheiro. A quantia é muito boa, é certo, mas a dignidade humana tem um valor incalculável e, se quem se senta naquela cadeira está ali sem reservas, sem vergonhas, para ganhar dinheiro a qualquer custo, já o mesmo não se poderá dizer da família do corajoso, que muitas vezes é a mais atingida por tanta verdade bem remunerada.

Aprendizagem para reciclar

   Em dia de início de ano lectivo e resultados do ingresso (ou não) no ensino superior dediquei-me à "reciclagem" de muitas horas de estudo e resiliência. Foi dia de arrumações do material escolar / universitário e disso resultou uma boa quantidade de folhinhas e folinhas que a partir de amanhã passarão a residir num ecoponto perto de mim.

   Eram capas e capas de aulas, apontamentos, resumos, fotocópias e afins à mistura com uma quantidade significativa de pó e recordações. Um ano depois de terminar o meu percurso académico chegou a hora de terminar com uma boa parte da "palha" com que nos vão enchendo os ouvidos e o cérebro (ao mesmo tempo que nos esvaziam os bolsos). Um ano depois, o balanço é...duvidoso. O desanimo provocado pelas 1001 barreiras que colocam aos jovens licenciados é exarcebado pela certeza cada vez mais "certa" de que a minha licenciatura em Psicologia me ofereceu muita teoria e pouca psicologia (daí a bela quantidade de papel com destino ao ecoponto). Ao olhar para aquelas folhas carregadas de horas de dedicação perguntava-me constantemente: "Mas para que é que isto me serviu? Nunca mais vou ler nada disto ou utilizar qualquer uma destas supostas teorias...", enquanto pronunciava a alto e bom som: "Lixo...lixo...lixo...".

   E assim, em dia de início para muitos, pus um fim a uma parcela da minha vida. O que ficou, acompanhar-me-á naquele que será o meu verdadeiro percurso de aprendizagem: a experiência, o "trabalho de campo". Quanto aos estudos, esses prosseguirão e cada vez mais enriquecedores e menos teóricos. Sim, porque embora enviar para a reciclagem uma parcela da minha vida com o sentimento de missão cumprida com sucesso me deixe bastante satisfeita, aprender é para mim essencial e igualmente satisfatório. Depois de uma licenciatura de 4 anos e uma pós graduação de 2, vejo e planeio mais desafios a iniciar brevemente.

    "Parar é morrer". Aprender é crescer. E os desafios adoçam a vida.

And the winner is...

...ME!!!!

   E ao fim de muitos meses de treino finalmente consegui ganhar-lhe!!! E com uma vantagem assombrosa e memorável! Sim, sim, uma vitória com direito a casas e casinhas, hóteis e resorts de luxo e muito dinheirinho em caixa. Tanto que desisti de o contar...

   O doce sabor da vitória... Parabéns a mim. Arrasei-te, empreendedor de meia tigela com capa de economista. Sinto-me uma vencedora!

 

   Ahh...estava a falar da minha vitória no Monopólio.

 

 

 

Palavras

"As nossas palavras já não correspondem ao mundo. Quando as coisas eram um todo, podíamos confiar nas nossas palavras para as exprimirem. Mas essas coisas fragmentaram-se aos poucos, rasgaram-se, ruíram num caos. E, no entanto, as nossas palavras permaneceram as mesmas. Não se adaptaram à nova realidade. Assim, sempre que tentamos falar do que vemos, estamos a falar com falsidade, distorcendo assim precisamente aquilo que tentamos representar. E agora é tudo uma confusão. (…)
Quando digo a palavra “guarda-chuva”, vemos o objecto na mente. Vemos uma espécie de bengala, com varas de metal que se dobram e que formam uma armação para um tecido impermeável que, quando aberto, nos protege da chuva. Este último pormenor é importante. O guarda-chuva não é apenas uma coisa, é uma coisa que exerce uma função; por outras palavras, exprime a vontade do homem. Quando pararmos para pensar nisto, verificamos que todos os objectos são semelhantes ao guarda-chuva, pois também servem uma função. Um lápis serve para escrever, um sapato para o calçarmos, um automóvel para o guiarmos. (…) o que acontece quando uma coisa deixa de cumprir a sua função? Ainda é a mesma coisa ou transformou-se numa coisa diferente? Quando arrancamos o tecido a um guarda-chuva, o guarda-chuva ainda é um guarda-chuva? Abrimos a armação, pomo-la sobre a cabeça e saímos para a chuva e ficamos completamente encharcados. Será que ainda podemos chamar guarda-chuva àquele objecto? De uma maneira geral é isso que as pessoas fazem. (…) Mas para mim isto é um erro grave, é a causa de todos os nosso problemas. Como já não pode desempenhar a sua função, o guarda-chuva deixou de ser um guarda-chuva.(…)No entanto, a palavra é empregue na mesma. (…). É imprecisa, é falsa, esconde a coisa que deveria revelar. E se nem sequer conseguimos nomear um objecto comum do dia-a-dia que temos nas mãos, como é que podemos esperar falar das coisas que verdadeiramente nos preocupam?"
in "A Trilogia de Nova Iorque", Paul Auster

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