Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Não há volta a dar

 

   Por todos os centros de dia que tenho passado há sempre algum utente com tendência para as cantorias. O que a mim me faz rir e aos restantes irrita tremendamente, sei lá bem eu porquê. Afinal, ver um senhor de 97 anos a cantar fadinhos personalizados só pode ser um grande motivo para sorrir.

Dos humanos

 

 

« (...) de facto não há quem consiga compreender estes bichos, batem e vão logo acariciar aquele a quem bateram, batem-lhes e vão logo beijar a mão que lhes bateu, se calhar tudo isto não é senão uma consequência dos problemas que vimos tendo, desde o remoto começo dos tempos, para nos conseguirmos entender uns aos outros, nós, os cães, nós, os humanos.»

 

JSaramago, em "A Caverna"

Dos criadores

 

 

   «Nem todos os criadores se distraem das suas criaturas, sejam elas cachorros ou bonecos de barro, nem todos se vão embora e deixam no seu lugar a inconstância de um zéfiro que só sopra de vez em quando, como se nós não tivéssemos esta necessidade de crescer, de ir ao forno, de saber quem somos.»

 

JSaramago, "A Caverna"

"É a vida..."

 

 

   É a frase que mais vezes ouço por estes dias. De facto, acho que ainda não encontrei um utente que não me dissesse, entre uma história e outra, mas sempre com uma tristeza tremenda no olhar e uma resignação, "é a vida!".

   Provavelmente, é esta a realidade dos e para os nossos idosos. Que esta "é a vida", que pouco ou nada haverá a fazer daqui para frente, afinal a grande parte já está vivida e o que resta parece demasiado pesado.

   É este o espírito que é necessário mudar. Nos nossos idosos e em muitos dos profissionais que com eles trabalham ou lidam e que adoram a desculpa do "eles já viveram muito" para justificarem o facto de um idoso permanecer sentado numa cadeira o dia todo.

   Há muito trabalhinho pela frente ainda...

Os dois primeiros dias de trabalho

 

   Resumindo que o sono já é muito, mesmo ao segundo dia:

 

   Ontem conheci mais gente do que durante toda a minha vida. Só não me perguntem nomes porque reti zero.

   A grande maioria do meu trabalho é junto de idosos, o que me agrada muito, muito.

   Os 14 centros sociais que visitei, apesar de se situarem em bairros sociais e alguns deles degradados e de muito mau ambiente, têm excelentes condições e equipas tão diversificadas e completas que dá gosto fazer parte daquela realidade.

   Consegui não me perder no meu primeiro dia by myself.

   "Borrei-me de medo" ao dirigir-me sozinha e a pé a um apoio domicialiário num dos piores bairros de tráfico e consumo do Porto (e sobrevivi!).

   Decididamente, adoro "meter conversa" com idosos demenciados e deixar-me levar naquelas fantasias.

   Magnífica D. M. com os seus constantes Viva à República! Viva ao 25 de Abril!

   Há demasiadas mulheres à minha volta.

   Apesar disso é um trabalho demasiado individual, já que ando sempre sozinha, o que por vezes me incomóda.

   Ainda não me sinto "no trabalho", que é tanto que nem sei bem para onde me virar.

   Ainda em fase de adaptação - às rotinas, à população, ao tipo de trabalho...à nova vida!

 

   Por agora é tudo. Não estranhem a minha ausência, que isto de trabalho a tempo inteiro e corre-corre de um lado para o outro é tudo muito novo para mim.

  

 

Dos bons filmes

 

   Aqui está um filme que deveria passar em todos os Centros de Emprego, se estes realmente fizerem algo para ajudar quem se encontra em situação de desemprego.

   The Company Men apresenta-nos homens de poder, boa vida e luxos, que vivem para o trabalho (típico americano?) e que de um dia para o outro vêem toda a sua vida mudar ao serem dispensados dos seus empregos, devido à crise económico-financeira. A partir daí, há toda uma nova vida para descobrir, quase em jeito de aprendizagem de uma nova forma de viver. Há perspectivas para mudar, estilos para alterar. Mas a mudança mais difícil é aquela que temos de operar bem dentro de nós: aceitar que não temos o que tinhamos, que tudo mudou, que pedir ajuda não é sinal de fraqueza e que, apesar de tudo, continuamos a ser magníficos. Tudo junto e no final, a vitória da esperança e da determinação. Porque um novo começo é sempre possível, mesmo nos momentos mais difíceis.

   É que este vale mesmo a pena ver!

Pág. 1/7