Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Ampulheta

 

«Durante alguns minutos viu fugir-lhe o ânimo como se assistisse ao correr da areia numa ampulheta, fatigadíssima comparação que, apesar de oser, sempre regressa, um dia a dispensaremos, quando, por termos uma vida longa de duzentos anos, formos nós próprios a ampulheta, atentos à areia que em nós corre, hoje não, que a vida, curta sendo, não dá para contemplações.»

 

JSaramago, O ano da morte de Ricardo Reis

Uma manhã pav(ã)orosa

   Pois que hoje, último dia de férias, lá tive de acordar com os pardais e ir para a formação de trabalho. Saio de casa com muuuiiittto tempo de antecedência e deparo-me com o maravilhoso cenário de trânsito caótico por tudo quanto era acessos ao centro da cidade e depois de chegar, finalmente, ao local da formação, já com quase 10 minutos de atraso, deparo-me com uma total ausência de local de estacionamento num raio de, vá, 30 km, e estou a ser simpática, e uma quantidade absurda de ruas de apenas um sentido, que me obrigou a vir quase a até casa para dar volta e voltar ao local.

   Quando me decido pelo estacionamento pago, eis que o encontro a uma distância relativamente razoável, com o fantástico senão de aceitar o máximo de 2 horas de estacionamento, o que para mim, que lá ia estar todo o dia e não teria oportunidade de sair da formação a cada 2 horas para colocar nova moedinha, era de todo desadequado. O santo do arrumador com muito mau aspecto ainda me tentou demonstrar a sua muito boa vontade e, vejam lá, até se ofereceu para me ajudar com um simpático "a menina deixa-me o dinheirinho e eu vou pondo os tickets no carro". Não percebi muito bem se ele também queria a chave do carro, assim só para fazer os serviço completo e colocar os ditos tickets lá no tablier. Vá se lá saber porquê, tive de recusar a sua tentadora proposta e não foi por mal, nem por preconceito, o senhor que não se ofenda. É que "eu não confio" é o meu nome do meio e a "profissão" do senhor não ajuda nada à festa.

   Solução? Vamos ali pôr o carro ao parque do Palácio de Cristal, que não só é longe como o caraças como também me vão roubar o dinheiro deste mês e do outro, mas o que tem de ser tem muita força e o atraso já ia nuns vergonhosos 30 minutos. Mas a coisa esteve para não se concretizar por um motivo completamente e totalmente rídiculo. Chegada à entrada do dito parque deparo-me com nada mais nada menos do que 3 belos exemplares de aves do género pavão-perú-raio-de-espécime-colorida-e-gigante-do-demo a barrarem a entrada do parque de estacionamento. A barrarem mesmo. Todas as três, exibindo toda a sua altivez de ave gira e dona do pedaço. Quando duas das senhoritas resolvem retirar-se ao fim de uns bons 5 minutos, eis que a terceira, imagine-se a fofa, resolve observar o meu carro bem de perto, bicando a matrícula. Pela primeira vez na minha vida, amaldiçoei uma espécie animal.

   E que credibilidade tinha eu para entrar numa sala, com 45 minutos de atraso, e dizer "Peço desculpa, masnão confiei no senhor arrumador e os perús barraram a entrada do parque de estacionamento"?  

Entre mortos e vivos

 

   «(...) O morto tem a vantagem de já ter sido vivo, conhece todas as coisas deste mundo e desse mundo, mas os vivos são incapazes de aprender a coisa fundamental e tirar proveito dela, Qual, Que se morre, Nós, vivos, sabemos que morremos, Não sabem, ninguém sabe, como eu também não sabia quando vivi, o que nós sabemos, isso sim, é que os outro morrem (...)»

 

JSaramago, O ano da morte de Ricardo Reis

Do novo acordo ortográfico

 
 

   Não gosto, não uso e, enquanto poder, não usarei.

   Não escrevo segundo as novas regras, que na verdade nem conheço muito bem, e, sinceramente, nem sei ler com este novo acordo. Aquela história de tirar os acentos é absolutamente pavorosa e dou por mim a ler e reler as frases para realmente perceber o seu sentido.

   Será que alguém é capaz de me explicar porque raio nos querem obrigar a aprender a ler e as escrever outra vez?

A verdadeira verdade de La Palice

 

   «Por um pouco veríamos aqui repetida a graciosa aventura de La Palice, o tal que um quarto de hora antes de morrer ainda estava vivo, isto diriam os humoristas expeditos, que nunca pararam um minuto para pensar na tristeza que é já não estar vivo um quarto de hora depois.»

 

JSaramago

O ano da morte de Ricardo Reis

Pág. 1/6