Já aqui falei do G., que muito antes dos 3 anos que hoje tem, já sabia todo o alfabeto e mais os números até quanto quisermos e as formas geométricas e as cores e sabe-se lá mais o quê.
Ora o G. foi a um especialista, que depois de ouvir a sua história atirou o diagnóstico: autismo! Coisa simpática para qualquer mãe ouvir, principalmente quando até já considerava a hipótese de uma sobredotação. Sugestão? Consultar um outro especialista. Novo médico, a mesma história, a mesma bomba, mas agora mascarada de sensibilidade paternal: uma forma leve de autismo, ou um quadro de síndrome de Asperger.
Hum...ok! Não vou questionar os diagnósticos dos dois especialistas. Mas se me permitem, questiono apenas a forma como os mesmos foram feitos, afinal, basearam-se em 50 minutos de conversa e observação do G. fechado num consultório, que é sempre um local onde todos gostamos de ir e de estar.
E questiono isto porquê? Porque se os especialistas passassem algum tempo com o G., se estivessem com o G., se interagissem com o G., veriam que ele, de facto, é uma criança extremamente inteligente, que não sabe lidar com a frustração, provavelmente porque os pais poucas vezes o deixaram passar por ela, que não sabe partilhar, mas que com calma e paciência aprende a ceder, que adora fazer uma boa birra, embora já tenha visto cenas bem piores do que a dele e nunca ninguém os rotulou seja com o que for e que, realmente, não gosta de brincar com outras crianças, que ainda nem sequer sabem dizer o seu nome, quanto mais estar no seu nível de desenvolvimento cognitivo.
Mas o que os especialistas realmente veriam é que o G. adora a aceitação e o contacto com pessoas mais velhas, que o G. estranha as pessoas mais depois as entranha, que o G. me reconhece desde o primeiro dia em que me conheceu, que o G. me pede todas as semanas para brincar com ele, que o G. a semana passada começou a correr para o meu colo, que o G. hoje fartou-se de me pedir colo e de brincar comigo e de conversar comigo e de gozar comigo e que hoje o G. se agarrou a mim a choramingar a pedir um beijinho e a pedir para eu não me ir embora.
Se eles tivessem visto tudo isto não achariam demasiado precoce e grave um diagnóstico como o que ofereceram àquela mãe e àquela criança?