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Tive na faculdade um professor que nos dizia que um bom psicólogo é antes de mais um bom "voyeur". Se há coisa que gosto de fazer desde que me conheço é praticar a "observação comportamental". Ele costuma dizer e chamar-me a atenção durante esses meus devaneios com um "deixa de ser cusca", mas a verdade é que não se trata de mera curiosidade pela vida alheia, trata-se mesmo de gosto em observar os outros e aferir algumas características de personalidade ou de vida através dessa observação. Quando esta observação me permite captar excertos de falas, é o regozijo total e as histórias que construo para aquelas pessoas tornam-se bem mais ricas.
Durante as férias este é um dos "desportos" que não me inibo de praticar. Gosto de o fazer na praia, na piscina, na recepção do hotel ou no restaurante durante as refeições. Por estas alturas de férias gosto particularmente de observar quem chega e quem parte: a excitação da novidade dos que fazem o check in e a tristeza no olhar dos que entregam a chave do quarto, como se não soubessem desde o primeiro dia que todo aquele bem-estar e alegria durariam apenas o tempo que o nosso dinheiro pagou.
Se as férias são no estrangeiro, gosto também de atribuir uma nacionalidade àqueles que me rodeiam e, aqui, começo a ficar especialista: portugueses e espanhóis são facilmente diferenciáveis dos ingleses e alemães e os italianos têm qualquer coisa que os diferencia de todos os outros (tenho de aprefeiçoar as minhas competências perante russos e outros povos do leste). E neste ponto de clarificação de nacionalidade, há um elemento que facilita bastante o trabalho: os livros, ou a falta deles. Infelizmente, poucos são os livros portugueses que vejo serem lidos durante as férias. Já os "estrangeiros" fazem-se quase sempre acompanhar de um qualquer volume, a maior parte das vezes as versões de bolso.
E depois é deixarmo-nos levar, colocar uns óculos de sol para passar despercebida e invadir aquelas vidas que se cruzam connosco naquele tempo e lugar e com as quais provavelmente nunca mais partilharemos o mesmo tempo e lugar. Nas férias, isto tem outro sabor, mas fazê-lo no dia-a-dia é igualmente fascinante. Principalmente quando percebemos o quanto conseguimos aprender acerca da natureza humana.
...muitas fotos! Assim que aqui o blog se decidir a funcionar em condições no que a carregamento de fotos diz respeito.
Decorrendo durante a odisseia trágica da participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial, A Filha do Capitão conta-nos a aventura de um punhado de soldados nas trincheiras da Flandres e traz-nos uma paixão impossível entre um oficial português, o capitão Afonso Brandão e uma bonita francesa Agnés Chevallier. Mais do que uma simples história de amor, esta é uma comovente narrativa sobre a amizade, mas também sobre a vida e sobre a morte, sobre Deus e a condição humana, a arte e a ciência, o acaso e o destino.
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Na minha opinião, a tal história de amor impossível (que não me parece de todo impossível) passa completamente ao lado e não constitui o foco central deste livro. Pelo contrário, ele representa um excelente quadro da vida dos nossos soldados durante a Primeira Guerra Mundial, com algumas reflexões filosóficas sobre o sentido da vida, da morte e de Deus.
Se querem um romance de lágrima no canto do olho, esta não é a escolha ideal. Se querem um quadro da participação de Portugal na Guerra, não hesitem e deixem-se levar. facilmente se impressionarão.