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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Parece fácil...

O pior de tudo é o corpo que a vida tem de aguentar, somos feitos de trampa e temos de o suportar, é nos pequenos gestos que o velho acontece, quando tenho de dobrar para apanhar um papel do chão, quando tenho de descer as escadas e os joelhos doem, quando até os braços ao escrever me mostram que hei-de acabar. (...)

O tempo passa-nos inteiros, e o pior é o que nos lembramos perfeitamente do que já fomos capazes de fazer, que desgraça. (...)

Era uma vez e já foi, a melhor maneira de um velho sofrer é acreditar no que não existe em si (...)

Bastava trocarmos o corpo para continuarmos, parece simples para um Deus que inventou isto tudo, não parece?

Um velho é uma biblioteca, que miséria a minha, só queria aprender e tenho de me contentar com ensinar (...)

Pedro Chagas Freitas, "Prometo Falhar"

Ama.Te

Ama.
Lavar os dentes ao lado de quem amas.
Apalpar-lhe descaradamente o rabo.
Comer chocolates até te fartares.
Passar a noite a dizer asneiras.
Beijar sempre de língua.
Passar o dia a dizer asneiras.
Mandar o chefe bugiar.
Passar a vida a dizer asneiras.
Deixar declarações de amor escondidas pela casa.
Fazer o teu pai feliz.
Preguiçar regularmente.
Fazer a tua mãe feliz.
Atirar o despertador à parede periodicamente.
Fazer quem tu puderes feliz.
Dormir quinze ou vinte horas seguidas.
Pôr a mão de fora do vidro do carro.
Pintar o cabelo de azul ou de amarelo.
Pôr a cabeça de fora do vidro do carro.
Cantar no banho para todo o prédio ouvir.
Lamber a tampa dos iogurtes.
Correr que nem um louco na praia.
Falhar que nem um burro só porque tentas.
Praticar sexo oral com frequência.
Tentar que nem um burro só porque queres.
Mudar a decoração de casa num dia só.
Dançar quando estás feliz.
Passar horas só a cuidar de ti.
Dançar quando estás triste.
Dizer bem de quem amas.
Enfiar o dedo no nariz às escondidas.
Dizer bem de quem não amas.
Dançar enquanto estás vivo.
Guardar segredos inconfessáveis.
Experimentar posições sexuais improváveis.
Contar segredos inconfessáveis.
Ter segredos inconfessáveis.
Ver quanto dá o teu carro.
Dizer o que não se pode dizer.
Cagar assiduamente nas convenções sociais.
Sonhar com o que não pode acontecer.
O orgasmo sempre que puderes.
Coçar e ser coçado nas costas.
O gemido sempre que souberes.
Passar muitas horas a contar anedotas.
Adormecer todo torto no sofá.
Passar muitas horas a ouvir anedotas.
Rir que nem um desalmado.
Fazer um penteado estrambólico só porque te apetece mudar.
Rir por tudo e por nada.
Chorar a torto e a direito.
Rebolar na areia quando estás todo molhado.
Chorar porque também é um direito.
Abraçar o teu gato ou o teu cão.
Mandar a austeridade tomar no cu.
Beijar incansavelmente.
Não te levares minimamente a sério.
Dispensar quem te chateia.
Tocar um instrumento qualquer.
Perdoar quem é humano.
Desistir do que não te serve.
Lutar pelo direito à parvoíce.
Escrever um livro.
Dar prioridade ao prazer.
Ler um livro.
Nunca desistir de quem amas.
Aprender desvairadamente.
Fazer cadeirinha com quem amas.
Ensinar desvairadamente.
Perder a respiração pelo menos uma vez por dia.
Nascer pelo menos mais uma vez do que as vezes em que morreres.
Viver desvairadamente.
Te.
Pedro Chagas Freitas, "Prometo Falhar"
 

«Prometo Falhar», Pedro Chagas Freitas

Prometo Falhar" é um livro de amor.O amor dos amantes, o amor dos amigos, o amor da mãe pelo filho, do filho pela mãe, pelo pai, o amor que abala, que toca, que arrebata, que emociona, que descobre e encobre, que fere e cura, que prende e liberta.O amor.No seu estilo intimista, quase que sussurrado ao ouvido, Pedro Chagas Freitas leva o leitor aos estratos mais profundos do que sente. E promete não deixar pedra sobre pedra.Mergulhe de cabeça numa obra que mostra sem margem para equívocos porque é que é possível sair ileso de tudo.Menos do amor.
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   Já está! Confesso que demorei algum tempo a decidir-me a comprar este livro. Quando o vi nas prateleiras a primeira vez e segunda e terceira, não me chamou minimamente a atenção. O título fez-me pensar que seria uma espécie de livro de auto-ajuda para essas coisas do amor e das relações, escrito por algum pseudo entendido na matéria. Nunca tinha ouvido falar de Pedro Chagas Freitas! Verdade! E então comecei a ver pela net uma espécie de invasão de citações deste livro e a coisa começou a interessar-me. Fiquei curiosa e fui ver de que se tratava o livro e finalmente percebi que não era de auto-ajuda mas sim de pequenos textos ou crónicas cheias de vida. A dada altura estava desejosa de o ler. 
   Não posso dizer que o devorei, simplesmente porque raramente devoro livros de crónicas. Devoro histórias. Este tipo de livros é para ir lendo ao sabor da inspiração e das necessidades, intercalado com um bom livro "de história". O medo de encontrar páginas carregadas de lamechice a roçar o piroso passou logo nas primeiras linhas e nunca apareceu. Pedro Chagas Freitas escreve sobre sentimentos de maneira humana e por isso real, sem lápis cor-de-rosa e pózinhos de contos de fadas. Põe vida nas páginas, nas letras, na ficção. É por isso que este livro vale a pena. Porque está carregado de vida. Da boa e da menos boa. De vida como as nossas, portanto. 

Reborn (ou a ilusão)

   Dizia uma reportagem do Expresso deste fim-de-semana que há por aí quem se dedique a criar bonecos de borracha que imitam na perfeição bebés reais, ao ponto de em alguns deles se instalar um dispositvo que simula os batimentos cardíacos, a respiração e até mesmo o aparelho urinário. Chamam-lhe "Reborn" e eu fui pesquisar.  A arte do “reborn” terá os seus antepassados nas mães que viveram no tempo da II Guerra Mundial. Perante tanta destruição, eram obrigadas a reconstruir, dentro do possível, os brinquedos dos seus filhos. Principalmente na Alemanha e no Reino Unido, construiu-se um gosto pela reciclagem dos bonecos, que precisavam muitas vezes de cabelos ou roupas novas. Até aqui tudo bem. Ou tudo normal.

   Mas a reportagem do Expresso vai mais longe e explica-nos que actualmente, estes bebés reais de borracha são mais do que meros objectos de colecção de gente crescida. Apesar de também serem utilizados para terapia e estimulação em casos de autismo e Alzheimer, por exemplo, estes bonecos são sobretudos subsitutos de bebés reais para quem não pode ter um real ou perdeu um filho. Se aqui isto me começa a fazer confusão, o pior está para vir. Há mulheres que adoptam literalmente estes bonecos, às vezes mais que um, e os tratam como verdadeiros filhos de carne e osso e sangue e vida. Vestem-nos, mudam-lhes a roupa, dão-lhes banho, dão-lhes mimo, penteiam-nos 3 vezes ao dia (o testemunho é real!), decoram-lhes quartos, levantam-se de noite para ver se estão a dormir descansados (!!!), levam-nos a passear em verdadeiros carrinhos de bebé...e a lista poderia, assustadoramente, continuar por aqui fora. Resumindo: tudo o que uma mãe faz a um bebé, a um dos reais, estas mulheres fazem a um boneco.

   E é de um boneco que estamos a falar! Por mais real que pareça! Um boneco! Analisando isto com olhos clínicos e não com os olhos de alguém que perdeu um filho (porque serão sempre olhares e perspectivas diferentes), acho tudo muito pouco saudável. Doentio até. A roçar o louco. E preocupante. Pior do que não fazer o luto, não aceitar a morte, ão quebrar as rotinas que se tinha com a criança perdida, é alimentar estas ilusões com objectos de borracha. Porque se eu sair por aí a passear um gato de peluche todos me chamarão louca, mas se eu sair por aí a passear um bebé de borracha, vão chamar-me o quê?

   Quem perde um filho, precisa de ajuda. Precisa de lidar com a perda, com a morte, com a ausência, com o finito de algo que julgavam infinito. Precisa da dor que será eterna, mas com a qual aprenderão a (sobre)viver. Não precisam, com toda a certeza, de um boneco que rejeita tudo isto e prolonga um amor falso, alimentando uma relação que não existe e que cria a ilusão de que tudo é substituível. E um filho que parte não é NUNCA substituível. Muito menos por um boneco.

   Desculpem a minha frieza, mas isto completamente louco!!!!

 

 A própria realidade deste bebés de borracha é assustadora.

 

«Jesusalem», Mia Couto

Jesusalém é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor em plena posse das suas capacidades criativas. Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa. A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este nosso mundo.
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   Dei mais uma hipótese a Mia Couto. E mais uma vez também, ainda não é desta que me convenceu totalmente. Não sei se terei alguma embirração com este escritor, mas ainda não o consigo encaixar no meu leque de preferências. Os seus livros parecem-me sempre demasiado ficcionados, mágicos, surreais...não me consigo envolver verdadeiramente com as personagens.
   Ainda assim, vou continuar a dar-lhe mais hipóteses e não me ficarei por aqui. Recomendaram-me o "Terra Sonâmbula", por isso qualquer dia será dia de novamente Mia Couto e um dia será dia de eu escrever qualquer boa acerca dos seus livros. 
Certo é que mesmo não apreciando por aí além, leio Mia Couto com voracidade. Este em pouco mais de uma semana foi lido e intercalado com Pedro Chagas Freitas, cujas histórias vou saboreando quando me quero inspirar. 

Olha. Olha. Olha.

Olha. Olha sempre. Olha muito. Olha com olhos de tocar, com olhos de sentir, com olhos de abraçar, de amar, de odiar até. Ma olha. Nunca deixes de olhar. É pelos olhos que a vida acontece. Mesmo que estejas com eles fechados, mesmo que eles não consigam ver. É pelos olhos que a vida acontece.

Olha o espaço inútil entre o sonho e a realidade. Preenche-o. Tenta preenchê-lo com tudo o que és. Há dificuldades grandes para ultrapassar, momentos em que te vai apetecer não olhar. É nesses momentos que tens de olhar mais ainda, é nesses momentos que tens de abrir mais os olhos. Para veres o que podes fazer para passares a ver outra coisa. O segredo do sucesso é ver bem. Perceber quem tens à frente, quem tens ao lado, quem tens atrás. Tens de ver bem para escolheres bem, para decidires bem. Nem que doa, nem que custe, nem que apeteça não olhar. Olha. Olha sempre. 
Olha o que tens. E é tanto o que tens. É sempre tanto o que tens. Olha o que te ama. Olha quem te quer bem, quem te procura para ser feliz. Olha ainda a rua cheia, milhares de pessoas que podes conquistar. Arrebata. Nunca queiras menos do que arrebatar, nunca dês menos do que tudo, nunca entres numa qualquer tarefa se não for para devorar, para consumir, para lamber, para saborear sem deixar um único pedaço intacto. Olha com olhos de viver. Olha com olhos de querer, com olhos de raptar, com olhos, mesmo, de roubar. Rouba o mundo que te está destinado e rouba mais ainda o mundo que não te está destinado. Olha tudo o que puderes, tudo o que souberes. Os mais felizes são os que vêem melhor, os que vêem primeiro e mais rápido – e sobretudo os que vêem do lugar certo. Tudo tem um lugar certo para ser visto. Procura o teu. Todos os olhares têm um lugar feliz. Olha pelo ângulo exacto. Podes até cansar-te, fraquejar porque fraquejar é de homem. Mas nunca deixes de olhar. 
Levo da vida o que olhei. E quando fecho os olhos é o que olhei que me ocupa, que me mantém entretido enquanto a dor magoa cada vez mais e a morte se aproxima. 

 

"Prometo falhar", Pedro Chagas Freitas

Coisas (ou pesos) de mulher

   Nunca estive tão magra. E não sei o que me incomóda mais, se ver os dígitos da balança a subir, se os ver descer. 
  Nunca estive tão magra. E nunca me cansei tanto como agora. Nunca me senti "em baixo" tantas vezes com agora. Nunca o meu sistema imunitário me pregou tantas partidas como agora. E nunca eu entrei tantas vezes na Zara, decidida a comprar algo, para sair de mãos a abanar simplesmente porque o tamanho mais pequeno não me serve (o que acontece normalmente em calças non skinny ou em calções/saias/vestidos)! A verdade é que é esta última questão que mais me perturba, já que após as minhas duas últimas visitas à adorada loja sai de lá com vontade de comer pizza ao almoço e ao jantar durante as próximas 5 semanas! 
   Posto isto, continuo sem me empanturrar de pizza (não me lembro quando foi a última vez que a comi!) e cheia de vontade de treinar, assim que o meu corpo se decidir a deixar-me sair do ginásio sem a sensação de precisar de uma semana e muita pizza para recuperar. Isso e se o Brufen levar sozinho este bichinho que me assaltou a garganta pela segunda vez num mês. 
   É isto. Por agora. Já desabafei, já estou melhor, vou comer umas bolachitas. Três. Quatro no máximo. Maria. Integral. Sem açucar e sem sal.

Nós, como a fruta...

   Somos como a fruta. Alguma vez pensaram nisso? 

   Esta ideia surgiu-me enquanto descascava uma maçã já rejeitada pela sua pele encurrilhada. Dei por mim, estupidamente talvez, a pensar "nós somos como a fruta; quando temos a pele encurrilhada já ninguém nos quer". E daqui deixei-me levar ao sabor de uma maçã que já ninguém queria mas que ainda estava totalmente comestível e rapidamente estabeleci os pararelos entre a fruta e os seres humanos. 

   Nós, seres humanos, crescemos a a partir de uma semente plantada, como a fruta. E, também como a fruta, crescemos juntos, em comunidades, que não são mais do que árvores de fruta gigantes onde vamos encontrando outros, ou com os outros. Às vezes caímos dessa árvore e os mais fragéis ficam pisados, como a fruta. Algumas marcas marcam-nos ao ponto de alterarem por completo a nossa essência e aquilo que somos e é aqui que, por vezes, enfrentamos o primeiro desafio da rejeição. Estamos marcados, somos diferentes, haverá quem não nos queira.

   Há um momento certo em que a fruta é comestível. Nós somos imaturos, verdinhos, ou maduros, ou seja, estamos na árvore da vida há tempo suficiente para nos podermos considerar gente e para os outros poderem olhar para nós e confiar em nós. Depois claro, há a velha questão: há quem goste dela mais verde e há quem gosta dela mais madura...e humanos, há-os para todos os gostos!

   Temos a fruta doce e a amarga, a que nos põe com cara feia a cada trinca. Na vida, há boas pessoas e más pessoas, e perante estas últimas, as caras que fazemos serão tão feias quanto as que fazemos ao comer uma laranja ácida. E depois há aquela fruta brilhante, cheia de cores vistosas, com um aspecto suculento, mas que dada a primeria trinca se torna uma grande desilusão, criando a desconfiança perante outras peças de fruta "hum , aquela era tão má, será que esta presta?". Desilusão, falsidade, cinismo, exteriores de sonho para interiores que nos dão vontade de cuspir, medo de encontrar outra tão má ou pior...será fruta ou será gente? 

  Como a fruta, vamos amadurecendo, que é como quem diz envelhecendo, a pele enruga-se, a nossa aparência exterior altera-se e cada vez menos vamos sendo a escolha. A fruta envelhecida fica na prateleira ou no fundo do caixote. Ninguém dá nada por ela e se a pudermos atirar para o lixo, ainda que discretamente, melhor ainda. Para quantos seres humanos o envelhecimento não é uma experiência tão dolorosa quanto a de ser deixado no fundo do caixote?

   Da casca enrugada até à podridão é um instante. Começamos a apodrecer por dentro, pelo coração, da fruta e das gentes e a dada altura a podridão é já tanta que o único passo que falta dar é o do caixote do lixo...ah! E às vezes, vêm uns bichinhos que aceleram todo o processo. Uns chamam-lhe o bicho da fruta, nós achamos giro dar-lhes o nome de doença, com apelidos tão variados quanto assustadores.  

   E os seres humanos, como a fruta, precisam de alguém que olhe por eles. Que os regue com amor, dedicação, carinho. A fruta, como o ser humano, tem o propósito de satisfazer alguém, vive para o outro e não é nada sem ele. O que seria de uma fruta que nascesse para nunca ser saboreada por alguém? O que seria do ser humano que vivesse para nunca ser saboreado por alguém?

   Somos fruta. Ou como a fruta. 

A aprender com os gatos

Dias cinzentos espalhados pela casa. Os gatos miam, com fome, e ensinam-me que tudo o que interessa é um prato cheio de comida. E depois viver. Há uma lição imensa a cada vez que um gato mia – mas há uma lição ainda mais imensa a cada vez que um gato, absolutamente despreocupado, se deita e passa horas a dormir, descansado pelo estômago cheio e pela felicidade de estar saciado. Quando estarei assim, saciado na plenitude? Quando serei capaz de fechar os olhos, despreocupado, e simplesmente dormir com a felicidade sem igual de um estômago cheio?

Pedro Chagas Freitas, "Prometo Falhar"

16 anos, 20 anos de prisão

  Uma notícia de jornal dá conta de dois jovens, de 16 anos frescos, que mataram um idoso aos pontapés e à pedrada sem qualquer motivo, apenas porque estavam aborrecidos com uma discussão que haviam tido horas antes no café da aldeia com uns amigos... 

  Discuti com os amigos, sou um jovem frustrado e porque não aliviar a minha raiva num ser inocente, matando-o violentamente? 

  E depois do crime, que pena aplicar? 

  Não podem votar, estão impedidos de tirar a carta de condução, entrar num casino ou sair do país sem autorização dos pais. Apesar disso, em Portugal os menores de 18 anos podem enfrentar um julgamento como adultos e ser condenados e presos, misturados com os restantes reclusos. A idade da imputabilidade legal está fixada nos 16 anos, menos dois que a maioridade. Quais as consequências disto?

   Pessoalmente, e pondo aqui um olho clínico, todo o crime tem de ser punido e crime de homicídio mais do que qualquer outro. Independentemente da idade do arquido, tem de ser aplicada uma pena severa. Já se essa pena deve ser cumprida numa prisão dita comum quando o arguido é menor, é algo que já me deixa mais reticente. Por um lado está provado que a prisão tem muitas vezes efeitos criminógeneos; por outro não devemos esquecer que um dos objectivos de qualquer pena deverá ser o de reabilitar o ser humano. Quando falamos de criminosos de 16 anos, esta reabilitação assume um papel primordial e uma cadeia parece-me não ser o local ideal para que este objectivo se cumpra minimamente. Estes jovens têm de ser castigados, ferozmente castigados, têm de cumrpir penas duras, têm de ser culpados pelo que fizeram, têm de aprender que uma vida não se rouba nunca, independentemente da nossa raiva ou frustração e têm de o aprender da forma mais dura possível. Mas não o devem fazer junto de criminosos "de alto gabarito". Nunca. Jamais. Desta forma, estaremos muito provavelmente a educar estes jovens para mais e mais refinada criminalidade. 

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