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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Sim, eu (também) vi

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   Começo já: não gostei. Mas voltando atrás, a minha curiosidade pelo filme era a mesma que tive pelos livros: zero! Não os li, não senti a miníma vontade de os ler, passaram-me completamente ao lado e nem sequer sabia (sei) muito bem do que se tratava, apesar de na altura se falar da dita literatura erótica para mulheres. Ora bem, depois de ter visto o filme e acreditando que o filme é sempre pior que os livros, não percebo qual é a parte erótica da coisa, já que o que mais se salienta ali é o lado dominador e sadomasoquista do Mr. Grey (a propósito, não se arranjava um Grey melhorzinho na enorme e maravilhosa indústria cinematográfica?) e a total submissão da mulher, que ora parece gostar, ora não gosta, ora não sabe o que quer.

   Não gostei. Enquanto mulher, chegou a incomodar-me. Não conheço o resto da história, não conheço os motivos para estes comportamentos de Mr. Grey, vou tendo as minhas desconfianças clínicas, mas ainda assim aqueles actos não deixam de menosprezar e humilhar as mulheres. Quanto ao resto, se conseguirmos encontrar nesta história uma suposta veia romântica, ela está bastante infantilizada. Acredito que a juventude corra para os cinemas e devore estes livros, afinal quem não sonha com um jovem milionário que nos leva a passear de helicópetro assim como quem vai lá à Foz comer um gelado? Mas não há conteúdo nesta história e se alguma lição podemos tirar daqui é que o ser humano tem comportamentos que realmente nunca seremos capazes de compreender. 

Quem te viu e quem te vê!

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 É inevtável não pensar na pessoa que eu era e na que me tornei no que a exercício fisíco diz respeito. Quando me lembro que fugia de tudo o que fosse exercício desde que me conheço, que arranjava mil e uma desculpas para não fazer as aulas de educação física e para mim "treinar" limitava-se a aulas de natação (até isso me cansava!), hip hops e zumbas ou yoga e pilates (ok, destes sinto saudades!), tudo coisa ligeira, já que o meu lema era "ir para o ginásio e sair de lá toda rota? Nem pensar!"... essa pessoa não parece ser a mesma que hoje sou. Coisas de água nem pensar (até porque, para mim, a água das piscinas está sempre desagradavelmente fria), bailaricos é para meninas e dia em que vou treinar e não saio de lá completamente K.O é dia em que o treino não prestou. 

   E com este gosto pelo exercício físico (que surgiu, decididamente, desde que comecei a frequentar o Solinca e conheci o método de treino das aulas de grupo que eles praticam) vem também o prazer pelos resultados, o orgulho pelos patamares que atingimos/conquistamos e a vontade de chegar mais longe, dentro dos nossos limites. Eu sinto-me "orgulhosamente orgulhosa" por todas as minhas conquistas e pelo nível a que cheguei, em termos de resistência cardiorespiratória e física, de força muscular (tão orgulhosa dos meus 25kg na barra para agachamento no Body Pump atingidos hoje pela primeira vez!), de capacidade de "sofrimento". Sinto-me bem ao olhar para trás e ver que comecei do menos um e consegui chegar aqui, com vontade de melhorar sempre. Sinto-me um tanto vaidosa ao olhar para o lado e ver que consigo mais do que quem me acompanha...

   O difícil não é chegar lá; é acreditar que conseguimos e arriscarmos. Como em quase tudo na vida. Porque quando realmente comprovamos que conseguimos, a sensação de batalha vencida é das melhores que podemos sentir, porque é ela que nos faz querer ser ainda melhores. No desporto. E na vida.

   Bons treinos! 

Not in the mood...

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   Os últimos tempos não têm sido emocional e psicologicamente fáceis para mim, devido ao meu trabalho. Têm sido dias de muito trabalho, funções estranhas, pressão e exigências por vezes rídiculas. O mesmo por que passam milhares e milhares de pessoas por esse mundo fora, mas que mesmo assim nos afectam, pelo cansaço que nos causam, mas sobretudo pelo ponto de saturação emocional a que nos levam. E saturação é, por estes dias, a palavra de ordem no meu mood. Saturação, impaciência e desmotivação, um cocktail perigoso, que me afecta o corpo e a mente e me mexe com os fígados e os sonos.  

   Há dias difíceis, muito difíceis, em que acordo sem vontade de ir trabalhar (o que nunca me aconteceu antes!), em que conto as horas para regressar a casa, nos quais estou sem paciência para falar seja com quem for, ouvir seja quem for, fazer o que quer que seja... dias sem paciência para comer, para ler, para ver um filme, para me sentar e desligar, para dormir... há dias assim na vida de toda a gente, há, mas que eles custam a aguentar e a acumular, lá isso custam. Valha-nos saber que, como em tudo o resto na vida, isto é uma fase menos boa, e as fases, mesmo as menos boas, passam. Passam sempre. 

   Até lá, força! 

De menininha se aquece o coração

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 Parece que as mulheres nasceram para ser romanticamente sonhadoras e apaixonadas desde meninas. Todas as meninas que acompanho em consultas, e falo de meninas de menos de 10 anos, a dada altura chegam ao tema "há um rapaz de quem eu gosto"... e assim dá-se o mote para um rol de sonhos e devaneios e dramas e sorrisinhos tolos. Parece que nos está no sangue esta tendência para gostarmos de romances e amores mais ou menos impossíveis. Nos rapazinhos não falamos destas coisas; eles querem é saber de futebol e jogos de computador violentos; miúdas é preocupação que não têm. Mas as meninas... as meninas despertam os seus sentimentos muito cedo e sofrem com eles como gente crescida. Mas sobretudo sonham, sonham muito com os namoradinhos que poderão ter, como os poderão ter, sem se preocuparem muito com o tempo que os poderão ter ou com a possibilidade de os perderem. E acho que é nesta parte que é preferível sermos crianças apaixonadas: vivemos no agora, pensamos no concreto; o que poderá ser (ou não ser) amanhã é coisa que não nos preocupa. Há quem lhe chame inocência e é um facto que, muitas vezes, a inocência é das melhores armas de defesa pessoal. 

O casamento

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Em criança era assim que eu imaginava a vida de casado.

No dia depois do casamento, começa-se a andar de mãos dadas, a atravessar um planalto grandioso e vasto, e no horizonte à nossa frente há obstáculos espalhados, mas também há prazeres, pequenos oásis, por assim dizer - os filhos que se vão ter e que crescerão saudáveis, amorosos e fortes, os netos, as manhãs de Natal, as férias, a segurança financeira, o sucesso no trabalho. Fracassos também, mas nada que nos mate. Há portanto altos e baixos, ondulações na planície, mas geralmente consegue-se ver o que se aproxima, e caminha-se nessa direcção, a dois, de mão dada, durante trinta, quarenta, cinquenta anos, até que um escorrega pela beira abaixo e o outro segue pouco depois. Ao olhar para cima, da perspectiva de uma criança, era isto que o casamento parecia. 

Bem, agora posso dizer-lhe que a vida de casado não é de todo um planalto. Há ravinas e grandes picos dentados e fendas profundas escondidas que nos atiram pela escuridão às apalpadelas. Depois há extensões monótonas, ressequidas, que se tem a sensação de nunca mais acabarem, e grande parte da jornada passa-se em silêncio nervoso, e às vezes não se consegue ver de todo a outra pessoa, às vezes ela vagueia para muito longe, perde.se completamente de vista, e a jornada é dura. É simplesmente muito, muito, muito dura. 

"Nós", David Nicholls

«Nós», David Nicholls

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Douglas Petersen compreende a necessidade da sua mulher de se «redescobrir a si própria» agora que o filho vai sair de casa. Estava apenas convencido era de que se iriam redescobrir juntos. Por isso, quando Connie anuncia que também se vai embora, ele resolve transformar as últimas férias em família na viagem das suas vidas: uma viagem que irá reaproximar os três e conquistar o respeito do filho. Uma viagem que irá fazer com que Connie volte a apaixonar-se por ele. As reservas estão feitas, os bilhetes comprados e o itinerário planeado com uma precisão cirúrgica. O que poderá correr mal?

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   David Nicholls é o autor de um dos meus livros preferidos, lido há uns bons anos, e que até chegou ao cinema:  "Um dia". Não estamos a falar de um grande escritor, até porque raramente ouvimos falar dele e o seu outro romance, o primeiro, "Uma questão de atracção" deixou muito a desejar. Ainda assim, quando vi este livro fiquei curiosa em o ler, não tanto pelo resumo da história que a contracapa nos oferecia, mas na esperança de ser tão bom como "Um dia". 

   Na verdade, este livro é muito mais do que aquilo que a contracapa anuncia. Não tendo nada para se tornar um "clássico da literatura", é um livro divertido, por vezes ridículo, mas cheio de relações humanas fortes, mas que se desgastam. Apesar de todos os esforços. Apesar de serem verdadeiras. Apesar de serem sinceras. Apesar de parecerem, e se calhar até serem, eternas.

   É daquilos livros que lemos de um sopro e por isso, recomendo!  

Eles são os tais

 

Quem diria que iamos chegar aqui
E ter uma vida séria como eu nunca previ
E é tão bom acordar de manhã olhar para ti
Antes de ir bulir naquilo que eu sempre curti

Ai há bebé
Somos os tais
Ai há bebé
Que viraram pais
Ai há bebé
Firmes e constantes
Ai há bebé
Produzimos diamantes
E a nossa filha já vai ter um mano ou mana
Ainda ontem mal abria a pestana
Quero uma ilha catita com uma cabana
Porque amor já tenho a montes o algodão não engana
Foi contigo que eu matei tantos demónios
Foi contigo que salvei tantos neurónios
Vejo-nos felizes citadinos ou campónios
Não fiques muito triste por não gostar de matrimónios
Tens o anel não precisas do papel
Fazemos nós a festa até te canto o Bo Te Mel
Desta vez eu tiro a carta nem que leve um ano ou dois
Por enquanto continuas conduzes pelos dois

 

   Duas coisas sobre esta música: uma bela declaração de amor e uma valente chapada na dita sociedade responsável. 

   Passo a explicar rapidamente: é fácil apontar o dedo aos jovens irresponsáveis, que querem é fumar umas ganzas e curtir um som e que pensam que a vida vai ser sempre isto, ou seja, nada! É fácil pensar que nunca sairão daquilo, que nunca serão ninguém, que são a "geração rasca" (quando ainda não pensava nisso de estar à rasca), que serão sempre yas e yos de boxers à mostra e boné na cabeça. É mais fácil pensarmos assim que acreditarmos que essa forma de vida poderá ser apenas uma fase, que poderá ser crescimento, independentemente de concordarmos com ele ou não, já que não precisamos de nos identificar com ele, pois o que não é a nossa vida não é para ser tomado como nosso numa perspectiva de gosto/não gosto. É difícil acreditar que aquela cambada de irresponsáveis, hoje, seja quanto tempo depois for, se tornaram adultos responsáveis, que souberam juntar a cabeça ao corpo e membros. Que ganharam juízo, encontraram o caminho, aprenderam o que tinham a aprender com as eventuais asneiras que fizeram (ainda que possam ser asneiras apenas para nós). 

   O ser humano tem uma incrível capacidade de mudança. E de aprendizagem. Sobretudo de aprendizagem. Ninguém é um jogo com uma só solução. Ninguém tem um caminho traçado, um final inevitável, um destino inalterado. E acima de tudo, ninguem, ninguém é, eternamente, aquilo que hoje é ou aquilo que os outros julgam que ele é. 

   Eu gosto destas mudanças radicais, destes "abrir a pestana", destas chapadas que deixam marcadas na cara a frase "eu posso ser mais do que aquilo de que me julgas capaz". E a declaração de amor onde fica? Fica bem clara:  Foi contigo que eu matei tantos demónios/Foi contigo que salvei tantos neurónios/Vejo-nos felizes citadinos ou campónios. Porque muitas vezes o amor pode mesmo salvar-nos, ser a solução, ser o caminho, ser o abre-olhos, ser aquilo que nos faz mudar e nos torna aquilo que hoje somos. 

Porque todas(os) nós estamos cansadas(os)

Oito cantoras portuguesas juntaram-se para dar voz à APAV, numa canção-hino pelas vítimas de violência doméstica. A canção original "Cansada" tem letra e música de Rodrigo Guedes de Carvalho, com arranjos e produção musical de Filipe Melo, e reúne oito grandes vozes de Portugal: Aldina Duarte, Ana Bacalhau, Cuca Roseta, Gisela João, Manuela Azevedo, Marta Hugon, Rita Redshoes e Selma Uamusse.

Esta canção não só funciona como um hino para a APAV, como cumpre a função importantíssima de despertar consciências para o problema da violência doméstica, transmitindo a mensagem que é importante dizer não: “Não aceito, digo não. Nem que o meu grito seja só uma canção.”

Vale a pena ouvir, com atenção, e pensar em quanto sofrimento não existirá entre as quatro paredes de tantas casas. Vale a pena calar o silêncio de quem sofre. Vale a pena cantar a sua dor, dando-lhes força para fugirem, mudarem, lutarem, denunciarem e conquistarem o direito a serem felizes. 

Porque já chega! 

Quando o amor se torna um hábito

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«Claro, ao fim de quase um quarto de século, as perguntas sobre os nossos passados distantes já foram feitas, e resta-nos o "que tal foi o teu dia?" e "quando é que chegas a casa?" e "meteste os contentores do lixo lá fora?". As nossas biografias agora envolvem o outro tão intrinsecamente que estamos os dois em quase todas as páginas. Sabemos as respostas porque estávamos lá, e assim, a curiosidade torna-se difícil de manter; substituida, suponho eu, pela nostalgia.»

David Nichols, "Nós"

 

A rotina é das coisas que mais me assusta. Seja no que for, com quem for ou como for. A possibilidade dos relacionamentos cairem, também eles, na rotina, com o passar dos anos e a habituação do casal um ao outro, é assustadora e, podemos dizer assim, mortífera. Não há relação que sobreviva à rotina, à monotonia, ao saber de antemão o que o outro vai fazer ou dizer, ao não saber o que fazer com a nossa outra metade, o não sentir borboletas na barriga quando estamos juntos, o saber tudo sobre o outro, sem surpresas, sem algo de novo para descobrir, sem emoção e com sentimentos que se tornaram hábitos.

As relações não podem esmorecer. O amor não pode tornar-se um hábito, não pode cair na rotina. Para termos um amor para a vida, ou um amor de uma vida, temos de passar a vida a alimentar esse amor, a "chegar-lhe o fogo", a vitaminá-lo, a inová-lo. Dá trabalho, dá! Mas é isso que o torna especial e que faz das relações algo que vale a pena ser vivido a do, pela vida fora.

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