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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

E então o que tens andado a ler?

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  Numa passagem pela secção juvenil da FNAC descobri o livro que deu origem à série de desenhos animados que mais marcou a minha infância. Não estava à espera de ser completamente absorvida pelo livro! Para quem, como eu, viu e viveu toda a série com imenso entusiasmo, o livro tem um sabor ainda mais especial, já que percebemos que a série foi uma reprodução fiel do livro. Não consegui dissociar as personagens do livro das personagens dos desenhos animados, de maneira que cada diálogo e cena tinha na minha cabeça as imagens, os sons, as paisagens e até a voz do narrador! Devorei-o! Nada mais que isso! 

 

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   Na mesma passagem pela FNAC trouxe este "2084 - O fim do mundo". Nunca tinha ouvido falar, do livro ou do autor, mas o facto de "criar" um mundo futuro onde o Estado Islâmico dominou por completo tudo e todos foi o suficiente para me convencer de imediato. O enredo é mesmo esse: uma personagem que vive num mundo completamente fechado e radical, cheio de proibições e rituais, mundo esse que é uma suposição do que poderá ser um mundo dominado pelos Islâmicos radicais. Uma metáfora interessante, que nos deixa a pensar que aquela ficção poderá mesmo acontecer um dia, o que trará consequências ainda mais devastadoras do que as narradas no livro. 

 

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   Autor completamente desconhecido para mim. Li algo sobre este livro há algum tempo, enquanto sugestão de leitura da escritora Margarida Rebelo Pinto. Estava com vontade de algo que falasse a nossa língua, por isso pareceu-me a altura ideal para ler este livro. Um acontecimento, meia dúzia de personagens, um suspeito, um segredo e um povo que sabe guardar os segredos da sua terra.

   Não o considero um grande livro, mas é um livro que facilmente nos agarra e no qual identificamos claramente características de um povo e uma povoação portuguesas. Confesso que por diversas vezes me deixou com a sensação de estar a ler algo de José Luís Peixoto...pelas personagens, pelo enredo, pela terra onde se passa a acção, pela escrita... talvez um livro mais ligeiro que os desse autor, mas claramente com características semelhantes. 

 

(Nos entretantos e transversal a todas estas leituras, vou continuando a ler aos poucos "O Fim do Homem Soviético", que é um livro interessante mas que para mim e pelas suas características de "documentário", por falta de uma história com começo e vontade de descobrir o fim, não dá para uma leitura contínua.)

Está tudo certo

"Os horizontes de Anne tinham-se reduzido desde aquela noite em que ela viera sentar-se ali, depois do regresso do colégio, mas, se o caminho que se estendia diante dos seus pés tivesse de ser estreito, ela sabia que seria semeado de flores de felicidade serena: os prazeres do trabalho honesto, das aspirações legítimas e das amizades verdadeiras pertenciam -lhe; nada a poderia privar do seu direito inato à fantasia nem do seu mundo ideal dos sonhos. E havia sempre a curva da estrada. - Meu Deus, está tudo certo! - murmurou Anne docemente."

É só isto que conta

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Quando aquele meu utente esquizofrênico, com um total embotamento afetivo, que nunca demostra emoções ou sentimentos e começou a sorrir à menos de 2 meses hoje me interpelou a meio de uma tarefa e outra para me dizer "Doutora, eu aprecio muito a sua pessoa e a sua companhia" e esboçou um rasgado sorriso de menino, o meu dia, a minha semana, o meu mês ficou ganho. Porque é só isto que conta. E porque isto, que parece tão banal e tão simples mas que representa uma conquista imensa, é a maior das recompensas que podemos ter e a plena certeza de que, mesmo nos dias maus, de dúvidas, revolta e cansaço, estivemos lá e fizemos valer a pena. É isto que me faz crescer. É isto que me faz ser. É isto que me motiva diariamente. E é isto que me faz ter a certeza que descobri um dos motivos para fazer parte do mundo dos meus velhinhos. Com pequenos gestos, com palavras, com um sorriso, com um toque. Podemos não mudar o mundo inteiro, mas podemos com toda a certeza fazer a diferença no mundo de alguém e com isso deixar a nossa marca no mundo! Façam por isso!

É a vida que segue e não espera pela gente

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"A vida está confinada a limites, apenas se dispõe de um tempo determinado, em suma, vive cortada em fatias sem ligação entre si, a não ser aquelas que o homem arrasta consigo de uma ponta à outra do seu percurso, lembranças incertas do que foi e esperanças vagas do que será. A passagem de uma a outra não é clara, trata-se de um mistério, um dia o belo bébe dorminhoco inveterado desaparece, coisa que não assusta ninguém, é uma criança turbulenta e curiosa, um lego, surge no seu lugar, o que não surpreende a mãe que dá por si com dois seios pesados e inúteis. Mais à frente, têm lugar outras substituições igualmente sub reptícias, um homem bem fornido e ansioso substituirá repentinamente o jovem esbelto e sorridente que ocupava o seu lugar e, por sua vez, não se sabe por que passe de mágica, o varão enfermiço cederá o lugar a um homem curvado e taciturno. É no final que nos espantamos, quando um morto ainda quente substitui repentinamente o velho mudo e frio colado a uma cadeira em frente a uma janela. É uma transformação que está a mais, mas que é por vezes bem-vinda. A vida passa tão depressa que não se vê nada, diremos a caminho do cemitério. " ("2084", Boualem Sansal)