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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Pequenas grandes discussões

   Quando cheguei ao meu local de trabalho hoje, para além da sempre calorosa recepção por parte das minhas "pestinhas", encontro uma delas, de sexo feminino, amuada a um canto, de lágrimas nos olhos. Perante as minha palavras "Então C., que se passa?" a resposta desarmou-me completamente: "Nunca mais, ouviu? Nunca mais eu quero ter amigas na minha vida! Nunca mais vou ser amiga de nenhuma rapariga. Nunca mais na vida!". Isto dito com as lágrimas a correrem pela face abaixo e uma voz convicta e certa demais para uma criança de 8 anos, deixa qualquer um a pensar "Uau. Não poderia começar melhor o meu dia". Toca a chamar as duas partes das queixosas e ouvir (ou pelo menos tentar) as versões das duas. Não é fácil. Não é nada fácil ser moderadora numa discussão entre dois seres do sexo feminino, principalmente quando uma delas é demasiado autoritária e teimosa e a outra demasiado sensível. O facto de terem apenas 8 anos seria imperceptível caso as ditas não estivessem à minha frente, tal era o palavreado usado em sua defesa. Enquanto uma dizia "Eu não preciso de ti para nada, porque nem eu sou tua amiga, nem tu és minha amiga", a outra continuava a derramar lágrimas de desilusão pela perda de uma amiga, relembrando à teimosa e autoritária que um dia poderia ser ela a chorar por ter perdido alguém de quem gostasse e que nessa altura iria perceber o quanto isso magoava (palavras da própria). A discussão estendeu-se ainda por largos minutos, girando sempre em torno da temática "Era tua amiga e agora já não sou mais e afinal nunca foste minha amiga".

   Confesso que a dada altura a única coisa que conseguia fazer era sorrir. Sorrir, porque aquelas duas crianças, aida tão pequenas, já discutem como gente grande e por motivos de gente grande, em vez de aproveitarem a maravilhosa infância que lhes resta. E assim não consegui deixar de sentir pena por aquela miúda que tão puramente se sentia desiludida por uma amiga, porque com aquela idade percebeu como as mulheres podem ser crúeis umas com as outras e colocar numa discussão tudo aquilo que de pior escondem. Senti pena, porque aquela criança chorava aos 8 anos sem saber que pela vida fora vai ter desilusões muito piores que aquela e lágrimas muito mais dolorosas que aquelas. E senti pena daquela outra, a teimosa e autoritária, porque com 8 anos é já demasiada orgulhosa para ceder, para perdoar e para dar outra oportunidade e porque já acredita que não precisa de amigos para nada.

   Felizmente, 1 hora depois, as duas brincavam juntas e as lágrimas tinham secado. Foi só uma discussão de crianças sobre problemas de gente grande. Vamos esperar que tenham aprendido com algo com ela. Com ela e com a pequena S., que nos seus 6 anos responde à pergunta "E tu S., és minha amiga?" com um estondoso "Não...sou amiga de toda a gente.".

   Boa sorte meninas! Não é fácil ser-se mulher num mundo de (cada vez mais) mulheres!

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