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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Histórias com gente dentro

 

   A frieza, distanciamento e ausência de sentimentos com que algumas famílias (que nem merecem esse nome) tratam os seus (que acabam por ser mais nossos) idosos é das coisas que mais me revolta no meu trabalho diário, embora já não seja a que mais me perturba ou choca. Quase diariamente me deparo com exemplos vergonhosos que me fazem questionar até onde o ser humano é capaz de ir na sua indeferença. A solidão em que muitos idosos são deixados é uma das coisas que mais confusão me faz, por um lado porque me põe a pensar no meu dia de amanhã e na possibilidade de também eu acabar só e depois porque sei que é talvez aquilo que mais sofrimento causa a um idoso e que, isso sim, os mata aos poucos. Quando a solidão roça os limites do abandono (porque há alguma que é quase obrigatória, quando não existe mesmo retaguarda familiar), esse morrer aos poucos acaba por passar também para nós.

   Esta semana passei por uma situação que posso quase rotular de experiência sobrenatural, pois nunca pensei que neste mundo tal fosse capaz de acontecer. Ao chegarmos a um dos nossos idosos, acamado há alguns anos, para lhe administrarmos o almoço, encontramos o senhor morto. Depois do choque inicial e perfeitamente natural, toca a fazer o mais difícil: avisar a família. Quando pegamos num telefone para dizer a uma filha: "lamento imenso estar-lhe a dar esta notícia, mas o seu pai faleceu", esperamos todas as reações, menos esta "ah, mas eu agora não posso ir aí, e o meu irmão também está a trabalhar só consegue passar aí em casa lá para meio da tarde; tratem vocês do assunto".

   Onde fica a emoção, a dor de ter perdido um pai, que morreu sozinho numa casa abandonada de vida e afectos?

   Onde fica o nosso coração, o nosso lado humano, os nossos sentimentos?

   São coisas que ainda me deixam sem palavras e assustada relativamente a esta estranha forma de vida que a humanidade do nosso tempo demonstra.

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