Entre expectativas e memórias, ficam os sonhos
Audrey Tautou
"- O presente do futuro é a expectativa (...) - Mas tenha muito cuidado porque a memória cresce na expectativa. (...) - À medida que a vida vai transcorrendo, diminui a expectativa e cresce a memória, até que a expectativa se esgota na totalidade. (...) Por isso os velhos têm poucas expectativas e muita, muita memória. (...) E por isso o entusiasta costuma fazer-se velho antes do tempo."
in «Bois e Rosas dormiam»
Deve ser por isso que, à medida que crescemos, as memórias vão sendo cada vez mais e as expectativas cada vez menos. Porque, enquanto crescemos, a vida é vida e vai nos matando as expectativas e oferecendo a realidade, como verdadeiras lições a serem guardadas. Na memória. E na memória ficam também essas expectativas desfeitas, da mais simples à mais elaborada, da mais realista à mais ilusória. Ficam também as expectativas consumadas, os acontecimentos, os momentos. E são esses que vão alimentando as expectativas futuras. Cada vez mais inseguras. Cada vez mais cautelosas. Cada vez mais "com o pé assente na terra". Entre a expectativa e a memória ficam os sonhos, essas pérolas da existência humana, que nos dão alento e alguma esperança. Os realizados e os por realizar. Os que não se realizaram e os que nunca se realizarão.
Pessoalmente, prefiro os sonhos, aquele pacote ilimitado e inesgotável de opções. A expectativa não me agrada. Viver na expectativa assusta-me. Não gosto de viver na insegurança da incerteza. Na dúvida. Na ilusão. Na expectativa do que virá - será bom, será mau, será que sim, será que não. Prefiro viver para ser surpreendida. Sem expectativas. Com empenho. Dedicação. Ambição. Com esperança. Muita e sempre. Com o bom e o menos bom. Com os sorrisos e as aprendizagens. E um futuro carregado de memórias. Como o dos velhos. Porque memória, é sempre sinónimo de vida.