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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Ler: Atos Humanos, Han Kang

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Lembram-se da "Vegeteriana"? Um livro forte, carnal e diferente de tudo o que já tinhamos lido? Han Kang voltou, com um romance que não é romance, de tão cheio de realidade que está. Este é dos cruéis. Dos humanamente cruéis. E dolorosos. E duros.

 

É possível testemunhar que me enfiaram repetidamente na vagina uma régua de madeira com trinta centímentros, até à parede superior do útero? Que forçaram o colo do meu útero com a coronha de uma espingarda? Que como a hemorragia não parava e eu entrei em choque, tiveram de me levar para o hospital para receber uma transfusão? Que continuei a perder sangue durante os dois anos seguintes e que se formou um coágulo numa das minhas trompas que me deixou para sempre a impossibilidade de ter filhos? É possível testemunhar que fiquei com uma aversão patológica a qualquer contacto físico, principalmente com homens? Que o simples fato de os lábios de alguém tocarem ao de leve os meus, de as suas mãos passarem pelo meu rosto, e até de um olhar casual subir pelas minhas pernas no verão era como se estivesse a ser cauterizada com um ferro em brasa? É possível testemunhar que acabei por desprezar o meu corpo, a matéria física de que sou feita? Que destruá voluntariamente qualquer manifestação de carinho ou de afeti cuja intensidade fosse mais do que conseguia aguentar e fugia? Para um sítio mais frio, um sítio mais seguro. Só para continuar viva.