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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Sanidade

Sabes qual é a diferença?, continuou. É que, nos tempos de Cervantes, um homem como o fidlgo de la Mancha não era internado num hospital e medicado até ficar a babar-se num sofá com a l+ingua de fora. Podiam chamar-lhe louco, mas era livre de acreditar em si próprio. Já reparaste que vivemos, deste lado do mundo, em torno de um mito construído em contradição com o que vulgarmente se define por "sanidade"? Um homem crucificado, mortinho da silva, que ressuscita ao fim de três dias! Aí está a tua sanidade, a tua devastadora contradiçõ. Desafio qualquer um a explicar-me que raio é isso da loucura. (...)

(...)

Sanidade, vociferou. Milhares de pessoas de joelhos rumo a Fátima, ou a Nossa Senhora de Guadalupe. Séculos de carnificinas em nome de um deus ou de outro, não importa. Cultos pejados de celebridades que acreditam em ficção científica. E nós no meio disto, reduzidos à conivência, não vá aquilo que pensamos desta farsa incomodar o vizinho. Temos de ser fortes, é o que dizem. Resisitir à tristeza, à melancolia. Construir diques para nos protegermos dos sentimentos. Esconder os doentes da cabeça nos manicómios. è preciso andarmos em filinha, caladinhos, a toque de caixa, ao ritmo que eles querem. Para terem a certeza de que nunca nos ergueremos acima desta vulgaridade.

 

"Ensina-me a voar sobre os telhado", João Tordo 

Ler: O Deslumbre de Cecilia Fluss, João Tordo

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Aos catorze anos, Matias Fluss é um adolescente preocupado com três coisas: o sexo, um tio enlouquecido e as fábulas budistas. Vive com a mãe e a irmã mais velha, Cecilia, numa espécie de ninho onde lambe as feridas da juventude: a primeira paixão, as dúvidas existenciais, os conflitos de afirmação. Sempre que sente o copo a transbordar, refugia-se na cabana isolada do tio Elias.

Cedo, contudo, a inocência lhe será arrancada. Ao virar da esquina, encontra-se o golpe mais duro da sua vida: o desaparecimento súbito de Cecilia que, afundada numa paixão por um homem desconhecido, é vista pela última vez a saltar de uma ponte.

Muito mais tarde, Matias será obrigado a revisitar a dor, quando a sua pacata vida de professor universitário é interrompida por uma carta vinda das sombras do passado, lançando a suspeita sobre o que aconteceu realmente à sua irmã — sem saber ainda que regressar ao passado poderá significar, também, resgatar-se a si mesmo.

No final desta «trilogia dos lugares sem nome», iniciada com O luto de Elias Gro, João Tordo explora, através de personagens únicas e universais, numa geografia singular, os temas da memória e do afecto, do amor e da desolação, da vida terrena e espiritual, procurando aquilo que com mais força nos liga aos outros e a nós próprios.

 

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João Tordo é um dos grandes escritores portugueses. Está sem dúvidas no meu top de preferências, mas esta trilogia não foi propriamente aquilo que mais gostei de ler dele. Todos os três livros foram demasiado pesados, melancólicos, cinzentos, carregados de personagens tristes, infelizes e depressivas...tudo isto deve ser dificílimo de escrever, de imaginar sequer, mas também torna a leitura demasiado introspectiva e por vezes saturante de tanta coisa negativa que carrega. Este Deslumbre de Cecilia Fluss não é excepção. Há tristeza, melancolia, depressão e um quê de demência que nos deixa pesadões no final da leitura. Não é um livro para agradar a toda a gente, isto é certo, mas reconhece totalmente o génio de João Tordo.  

«O Paraíso segundo Lars D.», João Tordo

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Numa manhã de Inverno, Lars sai de casa e encontra uma jovem a dormir no seu carro. Ele é um escritor sexagenário e, poucas horas mais tarde, parte em viagem com a jovem deixando para trás um casamento de uma vida inteira e um romance inédito: O luto de Elias Gro.

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Não gostei de "O luto de Elias Gro". Eu sei que é João Tordo e que isso só por si é garantia de bons livros e boa escrita, mas não gostei. Demasiado descritivo, demasiado depressivo, demasiado melancólico. Há quem o tenha considerado o melhor livro de João Tordo, mas para mim anda bem próximo do contrário (e nada supera "A Biografia involuntária dos amantes").

Quando este "Paraíso" saiu, e escaldada pelo livro anterior, fiz-lhe uma careta e resisti meses e meses a comprá-lo. Há pouco tempo, num impulso, decidi-me. E que bem que fiz. Devorei-o! 

No estilo do anterior, sim, mas este pareceu-me mais leve. A história entra-nos facilmente e isso é tudo que faz um livro de sucesso e um livro que nos apetece ler, com gosto. Este sim, é um João Tordo que vale a pena ler!