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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Uma salva de palmas para a Barbie

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  A Barbie sempre foi a minha boneca favorita. Nunca gostei de Nenucos e outros do género. A minha infância foi passada com esta boneca. Todos os dias ia ter com elas e construia histórias e mais histórias e claro que a parte que mais me agradava era o veste e despe constante! Tive imensas Barbies e acessórios desta boneca e ainda hoje guarda uma boa dúzia delas devidamente vestidas e arranjadas. 

   A Barbie sempre foi a minha boneca favorita mas nunca reconheci nela a jovem ou mulher que queria um dia ser. Nunca me fez confusão que todas elas fossem altas, loiras, magras e elegantes e nunca as vi como modelo. Ainda assim, aplaudi esta inovação da marca de multiplicarem os corpos, caras, peles e cabelos das Barbies. Enquanto símbolo feminino que possa representar (e acredito que o represente) esta variedade é importante porque torna esta boneca mais próxima das mulheres reais. Porque todas nós podemos ser bonecas maravilhosas, mas todas nós o somos com as nossas diferenças e diversidades. 

   Sejam Barbies, orgulhosamente Barbies!!! 

Mulheres...

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"As mulheres são as primeiras a reparar numa mulher bonita". Ouvi isto na rádio um dia destes e pensei automáticamente: "não podia ser mais verdade!". Mulheres, é ou não é verdade??? Sem pudores, assumo aqui que eu reparo numa mulher bonita e muitas vezes com aquela invejazinha saudável de "arrrggghhhh, que há gente que saiu tão perfeitinha que até é pecado!". Mas se dúvidas houvessem basta pensarmos em duas ou três coisinhas básicas:

1. Quem é que vem nas capas das revistas de moda femininas??? Mulheres bonitas e jeitosas (com mais ou menos photoshop)! E quem é que lê essas revistas??? Nós, mulheres!!! E gostámos? Claro que gostámos!

2. Quem é que vem na capa das revistas ditas de sport life femininas?? Mulheres bonitas e tonificadas. E nós apreciamos e queremos ficar ainda melhor!

3. Somos seguidoras que quantos blogs cujas personagens principais são mulheres bonitas e bem vestidas??? Não dá para contabilizar!!! 

4. Onde nos inspiramos para seguirmos tendências e modas? Em mulheres bonitas e que estão sempre impecáveis quando saem à rua.

5. E porque nem tudo é bom e há que ser sincera e directa, a quem é que nós mais facilmente apontamos o dedo acusador de "vaidosa, exibicionista, atiradiça" e por aí fora (e não vale a pena disfarçar, todas nós já o fizemos)? A mulheres que fogem um pouco dos nossos padrões de "o que é admissível para uma mulher de bem".

6. Quantas de nós já não se aperaltaram um pouquinho mais antes de sair de casa só porque vamos estar com esta ou aquela pessoa, mulher, ou já não pensamos "o que elas vão achar disto?". 

   A mulher vive muito para a mulher e vive muito para agradar outras mulheres e ser vista por outras mulheres. O fenómeno das it girls é uma prova irrefutável disso mesmo. Não são os homens que fazem de algumas mulheres it girls, acreditem! Pessoalmente, não vejo mal nisso. O ser humano precisa de modelos, de quem nos mostre o que faz, como faz e nos motive a fazer tão bem e melhor. Ser mulher é saber olhar para outra mulher e, positiva e saudavelmente pensar "eu também posso ser assim". 

   Apreciem-se mulheres e melhorem-se! 

Coisas que me fazem uma certa confusão...

   Pessoas que vão para os saldos, digamos que assim num primeiro ou segundo dia dos ditos, para uma daquelas lojas do topo da confusão do tipo Zara e afins, e que uma vez lá adoptam um de dois comportamentos:

   - Opção 1: passam todo o tempo que estão na loja com umas trombas daqui até à lua e proferem comentários pouco simpáticos em relação à oferta da loja, do tipo "é só porcaria", "não têm nada de jeito", "stes saldos não prestam para nada", enquanto carregam braçadas de roupa, remexem noutras e atiram-nas em todas as direcções se não lhes agrada;

   - Opção 2: repetem, ao ritmo de um por minuto, a célebre frase "isto parece uma feira" ou "isto é pior que uma feira", mas mesmo assim, não dão meia volta e vão para uma igreja abandonada. 

   Minha gente, saldos é isto mesmo! Feira, confusão, lixo, preços que não interessam, peças que não interessam, filas e mais filas para tudo...se não gostam, não vão! Para bad moods e energias negativas já basta quando não conseguimos encontrar aquela pecinha de roupa que queriamos mesmo no nosso tamanho. 

  Bons saldos!

Coisas que me fazem uma certa confusão...

   Aquelas pessoas que vão treinar todas maquilhadas. 

   Melhor: pessoas que vão treinar maquilhadas e acabam o treino ainda maquilhadas. 

  Ou ainda, pessoas que vão treinar maquilhadas, que acabam o treino ainda maquilhadas e que depois do banho tomado, continuam tão maquilhadas como quando entraram no ginásio. 

   E ainda, pessoas que se maquilham no próprio ginásio, minutos antes de irem treinar. 

  Treinar maquilhada é coisa que a mim me faz muita confusão. Eu até nem sou pessoa de transpiração fácil, especialmente com o tempo mais frio, mas poucos são os dias em que termino os meus treinos com um aspecto lavadinho e também pode acontecer terminá-los a pingar mais do que quando saio do banho, o que é sempre bom sinal. Ora o que eu me pergunto é se essas pessoas que treinam maquilhadas, com bases, pele impecável, rimel, olhos rigorosamente pintados, não transpiram? Não borratam "o quadro"? E ainda conseguem tomar banho e continuar maquilhadas, retocando maquilhagem em cima de maquilhagem antes de sairem? E sentem-se bem assim? 

   É certo que eu me maquilho todos os dias. Nada de muito extrevagante: uma base que me tire a cor de lula, outra que me esconda as olheiras de sono, muito sono, pózinho para morenar a coisa, olhos discretos, rimmel e estamos conversados. Mas isto é suficiente para que ao chegar a casa desmaquilhar-me seja a primeira coisa que faço e desejo fazer! No ginásio nem se fala! Desmaquilho-me sempre e nem me imagino a fazer mais de 20 minutos de exercício sem estar já toda colante e borratada, enquanto pingo o pior de mim em forma de suor. Não sei se sou eu que estou errada ou se realmente devemos manter a nossa imagem clean e impecável no ginásio, mas não sei como o conseguem. E sinceramente, continuo a preferir sair de lá com ar esfarrapado e vergonhosamente descuidado e desgastado. O meu corpo gosta mais dessa versão! 

O corpo de uma mulher tem destas coisas

 

   Há uns dias que não me sentia bem com o meu corpo. Olhava-me ao espelho e não lhe gostava das formas. Especialmente das coxas, que me pareciam estar a ocupar demasiado espaço na imagem e até a minha orgulhosa barriguinha me estava a deixar desiludida. Sexta-feira à noite fui à balança e apanhei a maior desilusão dos últimos meses. Estava acima dos 49kg! Não é muito, eu sei, mas para alguém que há alguns meses conta com uns simpáticos 48kg, 48,5kg, estes mais de 49 repentinos deixaram k.o. Amaldiçoei tudo e todos, que era impossível, que não alterei nada na minha alimentação, que me esforço no ginásio, etc, etc. O namorado automaticamente desvalorizou com um "eu até gosto mais de te ver assim. 49 é o peso ideal para ti". E eu ripostei "mas é preciso que eu os queira e me sinta bem neles!". E efectivamente, sendo um peso normalíssimo para alguém com a minha altura, não me sentia bem com aquele corpo e sobretudo com a mudança tão repentina.

   Uma coisa eu sentia há alguns dias: no período da tarde fazia muito menos xixi que o habitual em mim, que é tipo de 5 em 5 minutos. Para minha admiração aguentava horas sem ir ao wc, mesmo bebendo água. Estranho...

   Toca a planear uma pequena dieta para voltar aos 48kg. Planos feitos, corta nas 4 bolachas integrais ou Maria que comias por dia, este fim-de-semana não há gelado, redução nos hidratos e bora lá treinar com garra. E decidi parar com o depurante que estava a fazer há uma semana e meia para limpar o organismo. 

   O fim-de-semana é sempre a pior altura para começarmos estas maluquices, mas o certo é que Domingo senti-me melhor e passei o dia numa corrida ao wc, como é habitual em mim. Sem grandes alterações na dieta, que até inclui uma bifana no sábado à noite, a baança ofereceu-me uns menos preocupantes 48,7 kg. Alto! Nem tudo está perdido! Esta semana alimentação regrada e ginásio e aos poucos vamos ao sítio.

   Não foi preciso muito! 3 dias a reduzir hidratos, a beber água e com dois treinos fortes e há pouco voltei à balança e pasmem-se tanto como eu: 47,9kg!!! E sim, eu pesei-me mais que uma vez!

   Conclusão: eu não estava gorda, estava inchada! O que me pôs assim não sei...talvez o tal drenante, embora o bjectivo fosse precisamente reduzir a retenção de liquídos e afins, mas depois deste susto acho que o parei definitivamente. Não vejo outras possibilidades, mas nunca fiando, esta semana vai ser regradíssima na alimentação!

   Eu sei que é um post fútil e até doentio, mas quem se preocupa com estas coisas do corpo e de sentir bem consigo mesma perceberá que estas mudanças repentinas nas nossas formas, mais do que no nosso peso, nos assustam. A mim deixou-me mesmo de muito mau humor. Desiludida. Revoltada. È por isso que senti tanta necessidade de escrever sobre isto. Porque hoje voltei a sentir-me eu e bem com o meu corpo. Mesmo assim, não vou baixar a guarda!

   Já vos aconteceu algo do género?

Coisas (ou pesos) de mulher

   Nunca estive tão magra. E não sei o que me incomóda mais, se ver os dígitos da balança a subir, se os ver descer. 
  Nunca estive tão magra. E nunca me cansei tanto como agora. Nunca me senti "em baixo" tantas vezes com agora. Nunca o meu sistema imunitário me pregou tantas partidas como agora. E nunca eu entrei tantas vezes na Zara, decidida a comprar algo, para sair de mãos a abanar simplesmente porque o tamanho mais pequeno não me serve (o que acontece normalmente em calças non skinny ou em calções/saias/vestidos)! A verdade é que é esta última questão que mais me perturba, já que após as minhas duas últimas visitas à adorada loja sai de lá com vontade de comer pizza ao almoço e ao jantar durante as próximas 5 semanas! 
   Posto isto, continuo sem me empanturrar de pizza (não me lembro quando foi a última vez que a comi!) e cheia de vontade de treinar, assim que o meu corpo se decidir a deixar-me sair do ginásio sem a sensação de precisar de uma semana e muita pizza para recuperar. Isso e se o Brufen levar sozinho este bichinho que me assaltou a garganta pela segunda vez num mês. 
   É isto. Por agora. Já desabafei, já estou melhor, vou comer umas bolachitas. Três. Quatro no máximo. Maria. Integral. Sem açucar e sem sal.

É por esta e por outras que eu não posso estar em casa

 

Dias em casa sem nada para fazer, sem sair e sem sol que me permita esticar-me na varanda qual lagarto ao sol são para mim muito difíceis de gerir. Todos os dias de trabalho penso "quem me dera estar em casa sem nada para fazer", mas quando esses dias chegam, a coisa complica-se e não é que me apeteça regressar logo ao trabalho, mas esse "sem nada para fazer" não encaixa muito bem comigo. É tudo muito bonito no primeiro dia, ah e tal vou aproveitar para fazer isto e aquilo (que não faço) e para acabar de ler este livro (o que acabo sempre por fazer, para mal das minhas economias). Mas ao segundo dia já acordo a pensar no que vou fazer e quando descubro que simplesmente não há nada de muito urgente a precisar de ser feito e que o tempo não convida a passeio, toca a inventar o que fazer, o que normalmente significa toca a fazer daquelas arrumações de que até a minha mãe tem medo porque sabe que metade da casa vai parar ao ecoponto. Hoje foi um desses dias. Depois de ter arrumado com a Vriginia Wolf, de não me apetecer enfiar-me em shoppings, de o tempo não convidar a passeio e morenanços e de o organismo não estar nas melhores condições para me pôr a transpirar no ginásio ou na rua, acordei decidida a arrumar tudo o que (não) havia para arrumar. E apesar de estar tudo com muito melhor aspecto (sou um pouquito neurótica com estas coisas das arrumações e o caos não é para mim), confirma-se que o ecoponto caseiro está a abarrotar. Isso e o comentário do meu pai mal chegou a casa e soube que eu tinha passado o dia a virar determinadas divisões de pernas para o ar "não mexeste em nada meu, pois não?". É que, como disse, quando me dão estas neuras, vai tudo à frente! 

   E neste momento já só consigo pensar que amanhã é o último dia de descanso e que, por isso, só me apetece aliviar a frustração do regresso ao trabalho (numa sexta-feira!) no ginásio e na rua! 

   Completamente bipolar, eu sei!

Histórias com gente dentro...

   Mulheres subjugadas e completamente comandadas e limitadas pelos maridos ainda existem. Acompanho uma em consulta neste momento. Uma mulher de 50 e poucos anos, cuja expressão facial expressa um sofrimento maior que a revolta das suas palavras. Enquanto técnica e, sobretudo, enquanto mulher, é-me muito difícil gerir da melhor forma estes casos. Eu que cresci num mundo de total liberdade e autonomia para a mulher e que tenho a mania que sou a mulher mais independente e capaz do mundo, não consigo sequer equacionar como é possível existirem mulheres capazes de viverem numa prisão no próprio casamento e ainda dizerem "eu tenho tudo para ser feliz, mas não sei porque não o são", a mesma mulher que logo no início da consulta me diz, com o maior dos sorrisos: "hoje estou de folga e tirei a manhã para cuidar de mim e fui arranjar o cabelo e fazer a depilação nas pernas. Nunca tina feito!. 

   Esta mulher, que é apenas um exemplo de tantas outras em situação semelhante ou pior, não tem tudo para ser feliz. Na verdade, não tem nada para ser feliz! Porque esta mulher é controlada pelo marido de forma doentia, desde a hora a que sai para o trabalho e a hora que chega ("ele quer sempre levar-me ao trabalho e às 17h30 já lá está para me ir buscar), o que veste ("Ainda hoje, vesti umas claças salmão e ele disse logo tira isso, tem algum jeito essa cor"), o que compra ("Se eu quero comprar uma roupa ou uns sapatos, ou alguma coisa lá para casa, ele tem de vir comigo), o que calça, o que cozinha (o marido prefere ser ele a cozinhar. Gesto bonito? Não. Mais uma forma súbtil de controlo), a forma como decora a casa ("Vi uma casa-de-banho com uma jarrinha com uma flor e gostei. Cheguei a casa e pus uma igual na nossa casa-de-banho. Ele chegou e começou logo a mandar vir e a dizer para pôr a jarra na sala. E está lá...realmente fica lá bem...gosto mais de a ver lá também...". Não, não gosta. Mas o marido gosta e é isso que importa). Passear sem o marido é impensável; a última vez qque foi passar o dia com a irmã, à Póvoa de Varzim, o marido mudou-lhe a fechadura da porta...vale a pena continuar?

   Talvez por isto e muito mais, esta mulher diz que as pequenas coisas a fazem feliz. O que é normal, porque quando não temos nada, qualquer coisinha nos faz feliz. Para esta mulher a cozinha fà-la feliz. Não porque a cozinha é o local da mulher, mas porque a cozinha é a única divisão da casa onde conseguiu fazer valer a sua opinião e que está totalmente decorado a seu gosto. 

   E esta mulher tem sonhos. Muitos. Um deles é ir passar uma noite a um hotel. À porta de casa. Com o marido, é certo. Porque ele é o marido dela e ela nunca entrou num hotel. Claro que ele não quer. Mas também tem outros sonhos. Sonha poder caminhar pelos seus próprios passos. Poder passear na cidade sem medo das horas, sem ter de dar satisfações ao marido. Sonha poder lutar pelo que quer, "porque eu sei o que quero e sei que consigo lá chegar". Eu até sei que ela sabe o que quer e que quer poder viver e não continuar a ser controlada. O que eu não sei é se ela algum dia vai verdadeiramente ser capz de perceber o pesadelo em que vive e a relação de completo desamor que tem com o marido. "Eu acho que conseguia viver sem ele". Eu acho que ela idealiza a vida sem ele, mas que uma vez nela, se iria sentir desorientada, o que seria totalmente compreensível. Eu não sei, ainda não sei, se para ela, esta situação irá algum dia mudar. Não sei se ela terá essa força. Não sei se ela realmente percebe a irracionalidade destes comportamentos.

   Esta mulher é das consultas mais complicadas que tenho actualmente. Pela situação, que me revolta e me obriga a um auto-controlo enorme. E pela pessoa que esta mulher é. Mas acima de tudo, porque esta mulher me mostrou, pela primeira vez, que é preciso sermos uma muralha cá por dentro para sabermos gerir os silêncios numa consulta...E tanto que se diz nestes silêncios!

Para todas e cada uma de nós, mulheres

Comandamos o mundo porque sabemos fingir tudo: que amamos quando sentimos asco, que não amamos quando ardemos em desejo, que temos prazer sem ter, que sofremos quando estamos a ser abusadas, mesmo que daí tiremos algum prazer. Conseguimos fazer crer que estamos prenhas sem estar, sabemos como nos livrar dos filhos indesejados e fazer com que isso pareça um acidente, sabemos calar-nos quando a sensatez o manda e espalhar as intrigas quando é do nosso proveito.

Somos nós que costuramos e que cozinhamos e, por isso, se quisermos envenenar alguém, sabemos como fazê-lo através da comida ou dos panos. Somos nós que amamentamos os homens quando eles nascem e eles precisam de nós para sobreviver. E somos nós que os geramos, que os parimos, que damos seguimento aos seus sonhos e ambições de sucessão. Somos as rainhas dos nossos lares, as senhoras dos nossos catres e dos nossos castelos. Sabemos agradar tão bem quanto desprezar. Conhecemos as fraquezas dos homens e fazemo-nos tontas perante eles para que os possamos manobrar melhor, como se manobra o boi no arado ou o cavalo montado. 

Sabemos em que dias podemos emprenhar e como contar as luas para enganar quem pretendemos. E quando ficamos à espera de um filho, apenas nós sabemos quem é o pai. Não admira por isto tudo que os homens mais astutos e mais sábios nos temam tanto. Nós somos as grandes feiticeiras do mundo, as senhoras do poder mais forte que é o poder do desejo, comandado pelo pecado mais perigoso, o da luxúria. Os filhos respeitam-nos e os homens temem-nos, mas ninguém nos entende, porque somos seres complexos, dúbios, dissimulados. Numa palavra, somos mulheres. 

"Minha Querida Inês", Margarida Rebelo Pinto

Dos radicalismos fora de moda no século XXI

   Por motivos profissionais, iniciei este mês uma formação na área da igualdade de género. Fui para lá extremamente motivada, já que me pareceu um tema interessante e totalmente desconhecido para mim do ponto de vista formativo. Ao fim de 3 sessões de formação já estou completamente desmotivada e desiludida, não tanto pelo tema, mas pela forma como este está a ser abordado. O que nós temos ali é uma clara acção dos movimentos feministas cujas ideias e princípios estão completamente desactualizadas e desadequadas. Reunido o grupo ideal, 100% feminino, temos ali um claro ataque ao sexo/género masculino que já está mais do que fora de moda. Pior que isso é que começamos a cair em radicalismos estúpidos e na nítida mania da perseguição, considerando que o mundo é completamente anti-mulher e que, no século XXI, continuamos a ser desprezadas e humilhadas em todas as esferas da sociedade. Caímos no ridiculo de realizar actividades como a de procurar em revistas e jornais actuais sinais evidentes do desprezo/diminuição/humilhação da mulher na sociedade (por exemplo na publicidade, nas próprias notícias publicadas ou, imagine-se!, nos cátalogos dos brinquedos) e a oerder mais de meia hora a discutir se o uso do masculino generalizador, como por exemplo em "Exmos. Srs" quando também se dirigem a senhoras ou "os nossos filhos" quando também existem filhas, é ou não redutor da importância da mulher.

   Eu, que em tudo na vida não sou de radicalismos e extremos, não me identifico com estas correntes e modos de pensar e ver a vida e as pessoas. Acho que, como numa grande maioria das situações, tudo é relativo e dependente das pessoas (há homens e Homens, assim como há mulheres e Mulheres, assim como há pessoas e Pessoas) que qeum adopta discursos tão acusatórios em relação aos homens e se consegue sentir menosprezada com ninharias só pode ter uma veia de frustração muito apurada e muita pouca realização pessoal, para além de estar provavelmente a conviver com gente pouco gente, ou a quem simplesmente não dá oportunidade. Sim, porque este sim é um grande problema das mulheres: vivemos tantos anos na sombra (inegável) e recalcadas por eles (verdade!) que agora que nos emancipamos (excelente!) e nos sentimos capazes de conquistar o mundo queremos ser as donas e senhoras do nosso mundo e fazer tudo, sem dar oportunidade ao outro (homem). Queremos tanto mostrar que somos capazes, que somos fantásticas e multifacetadas (e somos) que agarramo-nos ao lema do "tu vais fazer mal, ou lento, ou de uma forma que não me agrada e por isso deixa estar que eu faço e assim tenho a certeza que fica bem feito" e esquecemo-nos que tudo na vida é uma aprendizagem e que são necessários momentos que potenciem essas aprendizagens e é isso que muitos homens precisam: estimulação, uma boa dose de motivação e momentos de aprendizagem, com erros e asneiras incluídas.

   Pessoalmente, nunca me senti inferiorizada por ser mulher. Compreendo as batalhas do passado, reconheço-lhes a importância e foi graças a elas que hoje pude escrever estas palavras, por exemplo. O que eu não compreendo é que apesar de tantas vitórias, a mulher continue a sentir-se inferior e com necessidade de menosprezar e criticar o (bicho) homem até à exaustão, quase numa de "vou fazer aos outros o que eles me fizeram a mim". Os tempos mudaram, as pessoas mudaram, os homens mudaram, as mulheres mudaram. Mas continuam a ser seres individuais e com características próprias e estas generalizações e movimentos ao jeito de "vamos agora todas queimar soutiens" estão completamente demodé e só servem, isto sim, para diminuir a nossa condição e o nosso valor.

  

   Acrescentando só mais uma pouquinho de ironia há coisa, deu-me um certo gozo ver que, depois de um belo momento de descascadela nos homens e de discursos do tipo "nós não precisamos deles para nada e fazemos tudo muito melhor sem eles", a formadora, líder deste movimento de quase rebelião, perante uma dificuldade técnica com o pc e o datashow, tenha pegado de imediato no telemóvel para ligar a quem? Pois é, foi mesmo ao companheiro. Sem comentários. Deixo um grande sorriso irónico.