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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

"De pequenino se volta a menino"

Contextualizando: o Sr. J. tem mais de 80 anos e um comportamento apelativo vincado há imensos anos. Deveria frequentar o centro de dia todos os dias, mas nas fases mais apelativas, especialmente dirigido aos familiares, não o faz durante uma carrada de dias seguidos, ficando por casa "a morrer aos poucos", num estado de total prostração e a fazer asneiras atrás de asneiras, principalmente no que ao controlo do seu xixizito diz respeito. Nestas alturas, é necessário ser dura com ele, ameaçá-lo com lares e internamentos e ralhar muito. Normalmente no dia seguinte está no centro de dia, como se nada se tivesse passado. 

Depois de mais de 2 semanas em casa, uma carrada de asneiras e uma visita ameaçadora minha na passada 6ª feira, o Sr. J. voltou na 2ª feira ao centro de dia. Ontem apareceu-me à porta do gabinete ao final do dia...

- Que se passa, Sr. J.?

- Sra. Dra., eu tenho levado esta semana seguidinha direitinho... portei-me bem na 2ª, portei-me bem na 3ª, portei-me bem na 4ª, portei-me bem na 5ª...

- É verdade! E então? (neste momento só um pensamento na minha cabeça, "vai-me pedir para amanhã ficar em casa!")

- E então eu agora fui à casa-de-banho e fiz um bocadinho de xixi por fora... e acho que sujei as calças...só um bocadinho... posso vir na mesma para o centro amanhã? Ainda por cima é dia de rezarmos o terço...e foi só um bocadinho... não conte a ninguém!

(Ok! O meu coração estalou!)

- J., foi um acidente, não foi? Se foi foi um acidente, acontece, ninguém lhe vai ralhar. E amanhã quero-o cá assim bonito de cor-de-rosa!

- Gostas de me ver assim? (e um grande sorriso de menino!). 

- Muito! Está um rapaz todo jeitoso! E agora a quem é que vamos contar este segredo para lhe podermos dar banho? Fica só entre o Sr., eu e mais quem? 

 

E ele escolheu quem com queria partilhar o nosso segredo. E hoje lá estava no centro de dia. 

É nisto que nos tornamos. Velhinhos envergonhados por termos feito umas pinguinhas de xixi nas calças. Tal como as crianças! 

Banda sonora da nossa vida

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 Que maravilha que era se pudessemos efetivamente acompanhar alguns momentos da nossa vida com banda sonora escolhida de propósito para aquela ocasião e esta novidade do instagram de podermos acompanhar as nossas stories com pedacinhos de músicas é absolutamente adorável, porque nos permite ter um cheirinho do bom que isso seria.

   Quem nunca se comoveu ou sorriu ao ver uma daquelas montagens fotográficas acompanhadas por uma bela músiquinha que atire a primeira pedra. Ou então quem nunca achou que todo o poder de uma determinada cena de um filme estava na música que o acompanhava que atire a segunda pedra. Há músicas que encaixam perfeitamente em determinados momentos e os tornam ainda mais significativos e poderosos. A música descomplica e embeleza a vida, dá-lhe força. Seja ela mais animada ou mais a tocar para o melodramático, se tem música sabe melhor, fica melhor e, literalmente, soa melhor, seja para animar ou para deprimir.

   Por isso, toca a sonorizar as vossas fotos! Toca a dar música aos vossos momentos. Sabe tão bem que só nos apetece dizer que isto é música para os nossos...olhos!

 

As pessoas felizes lêem livros e bebem café (ou sobre a importância de sabermos o que nos faz felizes)

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Num mundo que corre cada vez mais rápido, saber abrandar é fundamental. Parar para apreciar o que de bom esta vida tem e saber reconhecer aquilo que nos preenche e reconforta a alma é cada vez mais um exercício obrigatório para mantermos os nossos níveis de energia e motivação em alta. 

Se falar é fácil e bonito, pôr isto em prática pode tornar-se um verdadeiro desafio. Julgo que facilmente todos nós somos capazes de identificar uma série de coisas que nos fazem realmente felizes, mas até que ponto somos capazes de realmente parar, desligar, para disfrutarmos dessas coisas? Até que ponto não estamos a fazer essas coisas felizes mas com a cabeça a fugir recorrentemente para lugares comuns e quotidianos? Milhentas vezes, certo? No que me diz respeito, certíssimo! 

Se a idade e a vida me têm ensinado a valorizar cada vez mais e melhor aqulo que realmente importa para mim e faz a diferença nos meus dias, a mesma idade e a mesma vida têm transformado a minha mente e as minhas entranhas numa garrafa de coca-cola que está constantemente a ser agitada. Desligar é para mim atualmente um exercício dificílimo! Pode parecer um contra senso; eu, psicóloga por formação e convicção, eu, que passo os meus dias a dizer "tenha calma, tudo se vai resolver"...mas já diz o ditado, em casa de ferreiro espeto de pau e é bem verdade. Aconselhar é fácil, saber o correto e o errado é possível, aconselhar é maravilhoso, mas quando viramos o espeto para nós é que conseguimos perceber que a teoria é realmente muito bonita. 

O meu esforço é constante e permanente, mas a minha ´ansiosa mente´ não tem remédio. Sou feliz a fazer uma série de coisas; tenho procurado rodear-me daquilo e daqueles que me fazem bem e me acalmam a alma; sei reconhecer quando estou a exagerar; sei que tenho de abrandar mental e fisicamente (a difuculdade que eu tenho e estar parada chega a ser assustadora!); sei isso tudinho, mas a garrafa de coca cola, que não bebo há séculos, continua a borbulhar cá dentro. Talvez também por isto, por reconhecer isto, cada vez valorizo mais a vida e cada vez me foco mais em aproveitar o meu tempo livre a fazer aquilo que mais gosto e me acalma. Dificilmente consigo desligar totalmente, mas algures lá pelo meio há momentos de calmaria! 

Se eu gostava de ser diferente? Gostava! Sou positiva, sou optimista, sei não dramatizar, sei gerir esta mixórdia toda que nos vai cá dentro. Mas também sei que esta minha característica me rouba anos de vida, me rouba sorrisos, me acelera os minutos e o metabolismo (é um facto!) e me faz descarregar muitas vezes em cima de quem não tem culpa nenhuma. Como positiva que sou resta-me acreditar que mais uma vez a vida, as pessoas e a experiência me vão ensinar a ser capaz de passar de garrafa de coca cola a garrafa de água. Entretanto vou continuando a tentar, sem nunca deixar de viver o que me faz feliz! Acima de tudo! O que quer que seja que nos faz felizes é o que tem de ser valorizado, é onde temos de investir o nosso tempo e o nosso dinheiro, se assim for necessário (e, venha quem vier, muitas vezes é necessário), seja em mais uma viagem de descoberta ou em 20 min sentada numa esplanada a beber um café e ler um livro. 

Valoriza quanto vales. Sem pudores.

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Vivemos num mundo de excessiva valorização do que é material. Não é novidade nenhuma isto; o dinheiro comando o mundo moderno e, por isso, ter tornou-se muito mais importante que ser. Mas também hoje, mais do que nunca, assistimos a fortes incentivos à valorização do "não material". O desprender dos bens materias está na moda, os retiros espirituais em Bali estão na moda (e custam balúrdios, by the way, só para contrabalanças as coisas), o yoga e toda a sua filosofia de bem com a vida está na moda (nada contra, o yoga é provavelmente dos hábitos passados que abandonei de que mais falta sinto!), a meditação está na moda, vender a roupa que já não usamos nas redes sociais está na moda... ou seja, há uma forte corrente no sentido de nos ensinar a viver com menos, mas a viver mais.

   Eu gosto de ter. Ou de poder ter aquilo que gostaria de ter. Não sou excessivamente materialista, sou relativamente poupada, não sonho com marcas ou smartphones de última geração, mas gosto de ter as minhas coisas, os meus caprichos. Gosto de poder comprar uma peça de roupa que gosto, gosto de poder esbanjar/investir pequenas fortunas em livros e na minha alimentação "diferente", gosto de ir ali ao site da Ryanair e marcar uma viagem de um dia para o outro (posso fazer uma pausa para?). Gosto. Ponto. E não me envergonho. Felizmente a vida e a idade (maldita idade que tem as costas largas para tudo!) têm me ensinado a, não me armando em fundamentalista, valorizar muitos mais momentos do que coisas, afinal, são os momentos que vivemos, sejam eles bons ou menos bons, que nos tornam pessoa e que fazem esta passagem por cá valer realmente a pena.  

   Ora e este discurso toda sem nada de novo para quê? Por isto: hoje fui informada pela chefia que, como forma de reconhecimento pelo meu bom trabalho e pela forma positiva como agarrei o desafio que me foi lançado de assumir funções de coordenação há mais de 2 anos, o meu ordenado será aumentado (calma, ainda não vou poder fazer um retiro espiritual em Bali). 

   Todos nós gostamos de ser reconhecidos pelo esforço e dedicação diárias nas nossas funções, certo? Eu costumo dizer que o meu maior reconhecimento vem do feedback que vou recebendo dos meus clientes, idosos e crianças, e do bom ambiente de trabalho que consigo ter com toda a equipa que coordeno. E de fato tem de ser mesmo isto a alimentar-nos a alma diariamente. Mas o reconhecimento que vem de quem está a cima de nós também é igualmente importante. Fundamental até! Felizmente posso dizer que tenho tido diversos momentos em que fui superiormente reconhecida pelo meu trabalho, alguns deles públicos até, o que alimenta ainda mais a nossa auto-estima. Não tenho vergonha de o dizer, nem o faço com sentido de gabarolas. Eu faço o meu trabalho o melhor que posso e sei. Nem todos os dias são iguais, nem todos os dias estamos com a mesma capacidade, nem todos os dias sou o exemplo do bom profissional. Mas todos os dias sou o meu melhor. Ter um idoso a dizer "toma lá um beijinho que tu és um amor" é bom. Ter um familiar de um idoso dizer "obrigada por tudo o que fizeram pelo meu pai" é bom. Ter uma mãe no final do ano letivo a dizer "obrigada pela forma como sempre educaram o meu filho" é bom. Ter uma equipa com quem almoço diariamente e com quem partilho momentos de verdadeira galhofa mas que também se sente à vontade para desabafar comigo problemas pessoais é bom. Mas ouvir do presidente do conselho de administração dizer "os bons resultados deste centro devem-se ao excelente trabalho de quem dirige diariamente esta equipa e este serviço" ou "você agarrou os desafios que lhe lançamos e superou as expetativas de todo o conselho de administração" também é muito bom. E ser aumentada como forma de reconhecimento por tudo isto é bom. É muito bom! Hoje eu estou feliz por isso. Sem vergonhas. Sem falsas modéstias.

   Se é isto que me vai arrancar da cama amanhã para mais um dia de trabalho? Também é! Afinal não podemos esquecer que cada gesto de reconhecimento, material ou humano, tem acima de tudo de ser um elemento motivador e o combustível que nos faz querer ser ainda mais e melhor. Fazer aquilo que gostamos e chegar ao final do dia com aquela sensação deliciosa de missão cumprida tem de ser aquilo que nos move, mas, venha quem vier, o dinheiro também nos move. Tudo nesta vida tem um valor. Tudo. Cada um de nós também o tem. E sabe muito bem saber que a partir de 1 de Setembro o meu valor vai ser superior ao de hoje! 

(atendendo à temática, achei que uma foto tirada à porta do Casino de Tróia, encaixava bem aqui...)

 

Press Play

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   Amanhã arranca Agosto e eu regresso ao trabalho.

   Pela primeira vez desde que comecei a trabalhar, já lá vão uns anitos, marquei 12 dias de férias seguidos (18 se contarmos com os fins-de-semana) e que bem que me soube. Mais do que nunca estava a precisar disto. Não do descanso físico, que esse eu até dispenso e nem sei lidar com o "estar parada", mas do procurar desligar do trabalho e de tudo o que lhe está associado. Este foi provavelmente o ano em que mais ansiosamente contei os minutinhos que faltavam para o período de "férias grandes" chegar. Os últimos dois, dois meses e meios foram estupidamente desgastantes, psicologica e mentalmente falando, sobretudo, e sentia que estava mesmo mesmo a atingir o meu limite. Eu, que adoro o que faço, ia nos últimos tempos trabalhar por obrigação e com um único pensamento: "mas que raio de problemas vão hoje acontecer?". Acredito que todos passamos por estas fases de absoluta saturação e desgaste em alguns momentos da nossa vida profissional e que a única solução é meter pernas ao caminho e dar a volta por cima, mas confesso que as férias vieram mesmo, mesmo, a calhar neste período.

    E estás pronta para regressar? Pois tenho que estar!

   Não estou propriamente feliz (mas quem é que o está?) e confesso que regresso um pouco apreensiva com o que vou encontrar depois destes 12 dias de completa ausência (palminhas para mim que desliguei o telemóvel profissional quando saí no último dia de trabalho e nem email profissional consultei durante estes dias!). Vou pronta para trabalhar (e eu adoro trabalhar em Agosto, apesar de estar sozinha) mas sinto que não vou na minha carga máxima. Provavelmente o correr dos dias irá dar-me o boost final de que preciso para agarrar novamente as minhass rotinas e responsabilidades, mas muito certamente os primeiros dias serão de muito mau humor (quem não?).

   Quanto as estas férias, foram maravilhosas! Não parei por casa um só dia, bem como eu gosto. Entre uma semana em Marrocos e 3 dias em Setúbal, os restantes dias foram passados por cá a rabiar, como manda a lei e o meu espírito. Foram sobretudo dias leves, sem obrigações, sem complicações e a tentar não pensar em nada de muito sério. Foram 18 dias sem usar maquilhagem, sem calçar uns saltos, sem me preocupar em vestir-me de forma "adulta", sem usar um par de calças (até isto vai custar!)... foram dias bons. Dias muito bons!

   Acho que a idade nos faz isto: ensina-nos a valorizar ainda mais pequenas coisas e a aproveitar ao máximo cada momento da forma mais leve e ligeira possível. Toda e cada pequena coisa deve servir para nos carregar a bateria, nem que seja só um bocadinho de cada vez. É preciso que a nossa alma se saiba alimentar dessas pequenas coisas e guardá-las bem lá dentro, porque são essas pequenas coisas que, todas juntas, nos dão a força que precisamos para viver cada dia!

 

   Para quem regressa ao trabalho amanhã, força nisso, vergamos mas não quebramos! Para quem inicia as suas férias, enjoy it, live it, sem pensar no "ai que isto passa a voar" mas antes no "ai que isto é tão bom!".  

Ir é o melhor remédio: Serra da Arrábida, a paisagem que não precisa de filtros

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Este era daqueles destinos que já estava na minha lista de "must go places" há algum tempo. Por todo lado se veem fotografias deliciosas das praias da Arrábida e a vontade de ir comprovar in loco que não havia mesmo filtros naquelas imagens maravilhosas. E resumindo já: comprovado e confirmado! A Arrábida é bela demais para precisar de qualquer filtro!

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    Para tudo ser mais prático optamos por ficar num hotel no centro de Setúbal - escolhemos o Melia Setúbal, que muitíssimo bem nos recebeu e acolheu - e fazer todos os transportes para as praias de autocarro, até porque parte da serra e das praias estão este ano (e muito bem!) interditas ao trânsito. Desde o centro da cidade existem autocarros regulares para a Praia da Figueirinha, a primeira praia da serra. Aí apanhamos o vai-e-vem para as principais e mais procuradas e bonitas praias da Arrábida: Galapos, Galapinhos e Portinho da Árrabida. 

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   Apesar de serem praias pequenas e muito concorridas, são praias com um ambiente muito agradável e onde se está muito bem. é impossível não ficarmos totalmente rendidos àquela paisagem: o verde da serra e as 500 mil tonalidades de azul do mar, que é, de longe, dos mais belos que já vi e que acredito que faça frente a muitas das fotografias dos mares das Caraíbas e afins que se veem por aí. 

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     Perfeito, perfeito só mesmo se tivesse uma temperatura de água ligeiramente mais agradável, mas apesar de ser bem fresquinho, é um mar tão tão bonito que é impossível não querermos estar o dia inteiro lá dentro (eu, que sou a pessoa mais friorenta para mares que podem conhecer, passei o dia entre toalha e mar!). 

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    Depois desta primeira visita, a Arrábida tornou-se um destino absolutamente obrigatório em Portugal. Dos locais mais bonitos em que já estive e daqueles a que vamos querer voltar vezes e vezes sem conta (pelo menos uma vez por ano vai ter de ser! É bonito demais para me deixar assustar pelos 350km de viagem!). Se outros motivos faltassem, aquelas águas cristalinas eram suficientes para convencer os mais resistentes! Foram só 3 dias, carregados de beleza e sol, mas ficou mesmo a vontade de que fossem muitos mais!

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Aproveitamos também estes 3 dias para ir conhecer a renovada Tróia, que também é um lugar bem simpático, uma espécie de Principado do Mónaco português, assim como explorar um bocadinho a cidade de Setúbal, que apesar de ter ficado ainda muito por conhecer, me pareceu um lugar bem simpático. E onde se come muito bem, diga-se de passagem! 

 

 

 

Sanidade

Sabes qual é a diferença?, continuou. É que, nos tempos de Cervantes, um homem como o fidlgo de la Mancha não era internado num hospital e medicado até ficar a babar-se num sofá com a l+ingua de fora. Podiam chamar-lhe louco, mas era livre de acreditar em si próprio. Já reparaste que vivemos, deste lado do mundo, em torno de um mito construído em contradição com o que vulgarmente se define por "sanidade"? Um homem crucificado, mortinho da silva, que ressuscita ao fim de três dias! Aí está a tua sanidade, a tua devastadora contradiçõ. Desafio qualquer um a explicar-me que raio é isso da loucura. (...)

(...)

Sanidade, vociferou. Milhares de pessoas de joelhos rumo a Fátima, ou a Nossa Senhora de Guadalupe. Séculos de carnificinas em nome de um deus ou de outro, não importa. Cultos pejados de celebridades que acreditam em ficção científica. E nós no meio disto, reduzidos à conivência, não vá aquilo que pensamos desta farsa incomodar o vizinho. Temos de ser fortes, é o que dizem. Resisitir à tristeza, à melancolia. Construir diques para nos protegermos dos sentimentos. Esconder os doentes da cabeça nos manicómios. è preciso andarmos em filinha, caladinhos, a toque de caixa, ao ritmo que eles querem. Para terem a certeza de que nunca nos ergueremos acima desta vulgaridade.

 

"Ensina-me a voar sobre os telhado", João Tordo 

Um manto branco de felicidade

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   Quando era miúda a viagem à Serra da Estrela era um daqueles programas anuais que não falhavam. Todos os Invernos lá ia eu e os meus pais, às vezes acompanhados de mais alguns familiares, passar um fim-de-semana à Serra da Estrela e eu sempre adorei ir à neve! Tenho memórias nítidas da maior parte dessas viagens, os locais onde dormimos, onde comemos, o que visitamos e até os cheiros a queijo e enchidos e peles das típicas lojas da zona.

    Mas o que eu mais recordo destes fins-de-semana em família é da alegria que era estar na neve, andar na neve e "brincar" na neve. Não só a minha alegria partilhada com os meus pais, mas também a alegria de todas as pessoas que lá estavam. Não sei se vocês que já foram à Serra da Estrela num dia de enchente de gentes e neve, pararam 1 minuto apenas para escutarem os sons à vossa volta. Se o fizeram, de certeza que se aperceberam que o som predominante é o de gargalhadas e gritinhos histéricos de miúdos e graúdos. Ali, naquele manto branco, enquanto escorregamos encosta abaixo em trenós, sacos plásticos ou boias de borracha e atiramos bolas de neve uns aos outros, parece que entramos todos numa realidade paralela, desligada de toda a outra realidade (a real mesmo!) e nos esquecemos que temos 20, 30, 40, 50 anos e despertamos a criança divertida e facilmente impressionável que há em nós, sem nos importarmos com o que quem está à volta vai pensar das figurass que ali estamos a fazer. Uma espécie de Disneyland monocromática, mais fria (ok, relativo aqui, se visitaram a Disneyland Paris no Inverno como eu, é bem relativo!), que escorrega e molha. 

   Este Domingo voltei à Serra da Estrela. Mais de 13 anos depois de lá ter ido a última vez (uma pessoa cresce e os fins-de-semana em família vão ficando pelo caminho) voltei à neve, desta vez na companhia do meu Mr. Big. Foi uma decisão de repentina e de última hora, Domingo de Páscoa, 1 de Abril, fizemo-nos à estrada e fomos passar o dia na Serra da Estrela. 

   Mais de 13 anos depois, nada mudou. Nada mudou na Serra e nada mudou no ambiente que se respira por lá. Fui carregada de memórias da minha infância, que despertaram ainda mais a cada quilómetro que percorriamos, e fui munida de um trenó de há 13 anos atrás, pronta a renovar essas memórias de felicidade, desta vez a dois! E querem saber? Missão cumprida! Naquelas horas que lá estivemos fomos crianças outra vez, fomos estupidamente felizes, fomos rídiculos, fomos parvos... fartamo-nos de escorregar encosta abaixo, fartamo-nos de dar gritinhos histéricos, fartamo-nos de cair, cansamo-nos de rir! No final do dia regressamos a casa carregados de coisas boas cá dentro, cheios de nódoas negras (não queiram ver as minhas pernas!) mas sobretudo cheios de felicidade, daquela tão simples que chega a ser rídicula, daquela que nos faz pensar "afinal, é preciso tão pouco para sermos felizes"... 

   E não foi preciso parar nem 1 minuto para escutar os sons à minha volta, porque eu sabia, pelas memórias felizes que guardo da minha infância, que todos os sons eram de felicidade plena. E eram. Era muito a felicidade que escorregava por aquela serra abaixo no Domingo de Pascoa, 1 de Abril. Parece realmente mentira que ser feliz, ainda que por 1h ou 2h, seja assim tão simples. Mas é. É simples assim: libertarmo-nos, ainda que por instantes, de tudo aquilo que nos pesa na vida e deixarmo-nos deslizar por aquele manto branco, num trenó de plástico ou numa saca plástica. Se pudermos largar umas gargalhadas e uns gritinhos pelo caminho ainda melhor. A alma e o coração alimentam-se e enchemos o saco das memórias felizes que nos fazem gostar de viver. 

Enciclopédia dos sentimentos e emoções

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A de Amor, que sempre seja aquilo que nos move, aquilo que tudo justifica, aquilo que mais importa, aquilo que nunca nos falte na vida. 

B de Bondade, daquela que nos permite dar ao outro aquilo que afinal mais falta lhe faz.

C de Convicção, aquela que nos faz saber o que queremos, quando queremos e como queremos; daquela que nos dá certezas.

D de Determinação, porque o nosso caminho será sempre em frente e para cima. 

E de Empatia, para que nunca nos falhe a capacidade de nos pormos no lugar do outro.

F de Fé, no que quer que seja ou em quem quer que seja; simplesmente aquela força de acreditar.

G de gratidão, à vida, sobretudo à vida, por nos permitir andar por cá e sorrir.

H de Harmonia, porque mais importante do que nos sentirmos felizes é sentirmo-nos em harmona connosco, com as nossas vontades, com os nossos desejos, com as nossas convicções. 

I de Inveja, daquela positiva, que também a há e é saudável, aquela que sentimos pelos outros e nos faz querer ir mais longe e aquela que despertamos nos outros e os faz querer ir mais longe. 

J de Justiça, ainda que tantas vezes a vida pareça injusta, ainda que tantas vezes nos questionemos porquê. 

L de Liberdade, que nos parece um bem adquirido mas que tantos seres humanos como nós não sabem o que é. 

M de Melancolia, porque às vezes é preciso parar para refletir e pensar nos momentos menos bons da nossa existência. 

N de "nunca digas nunca", porque nada, NADA, é uma certeza nesta vida. 

O de Orgulho, em nós, nos nossos feitos, nas nossas conquistas, nas nossas batalhas vencidas, e nas perdidas e nas lições que tiramos daí. 

P de Positividade, porque o caminho do negativismo nunca nos há-de levar a lado nenhum, porque "always look to the bright side of life", por mais difícil que às vezes pareça é um dos maiores motes desta vida. 

Q de Querer, sempre mais, sempre melhor.

R de Resiliência, da que nos faz aguentar tudo e persistir, persistir, persistir...

S de Serenidade, a cada inspiração, a cada expiração...

T de Tranquilidade, que sempre encontremos alguma todas as noites, ao deitar a cabeça na almofada e apagar a luz. 

U de União, já que dizem que faz a força, porque não tentar?

V de Vontade, de viver, de sonhar, de ambicionar, de concretizar, de conquistar, de sorrir. 

X de Xalupa, aquela qualidade dos momentos de loucura que se tornam para a vida toda. 

Z de "Zimbora viver" que o futuro é já amanhã e isto é bom demais para perdermos tempo com lamechices de glossários da tretas das emoções e mimimi...

 

Que a felicidade nunca precise de um dia

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"Eu não gosto de falar de felicidade, mas sim de harmonia: viver em harmonia com a nossa consciência, com o nosso meio envolvente, com a pessoa de quem se gosta, com os amigos. A harmonia é compatível com a indignação e a luta, a felicidade não, a felicidade é egoísta."  (José Saramago) 

 

Que nunca seja preciso uma data para nos lembrarmos de sermos felizes, para sabermos o que nos faz felizes, para querermos a felicidade na nossa vida e na dos nossos, para nunca nos esquecermos que a felicidade, como nós, é uma soma de instantes e não um estado permanente  

 

E já agora, "façam o favor de serem felizes".