Um resto...
"Naquele gato, atropelado por ser gato e querer correr e querer andar e querer viver, estava toda a solidão de um mundo. Toda a solidão de um mundo que passava por ele e não olhava, de um mundo que passava por ele e não sentia. E ali ficou uma morte, um gato negro pintado de sangue, a ser pisado e repisado pelas rodas dos carros e das motas dos humanos, e aos poucos, o gato deixou de ser gato e deixou de ser ossos e deixou de ser vida morta, e aos poucos o gato passou a ser uma coisa, um dejecto, um resto."
Pedro Chagas Freitas, "Eu sou deus"