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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Tens...

   "Tens uma doçura infantil que me desarma, um sorriso enorme que me abraça, um olhar perdido do mundo que se encontra quando encontra o meu, tens mãos de médico e coração de índio, tens a magia das pessoas tocadas pela sorte e pela bem-aventurança e tens-me a mim. E, mesmo que os dias no mundo cá fora tenham relógios em vez de comboios e passem com a mesma vertigem com que vivias antes vde me conhecer, eu sei que o nosso tempo vai chegar sem nunca chegar ao fim, nestes momentos em que a perfeição se cruza com a realidade e nos transporta para um mundo só nosso. "

 

in "Nazarenas e Matrioskas", MRP.

Ser surdo-mudo em Portugal

   O sempre concorrido restaurante daquela marca que serve fast food como ninguém, tem umas batatas fritas de sabor inagualável e oferece uns brindes bem engraçados no "menu infantil" albergava menos gente do que o habitual. Era final de tarde, o tempo não puxava a jantares na esplanada e a carteira parece cada vez menos recheada. Não foi preciso muito tempo para ser atendida, mas esse tempo foi suficiente para presenciar mais um drama da pessoa "diferente". Os dois eram surdos-mudos, a empregada que os atendia era jovem de mais para estar sensibilizada para a diferença. Entre um gesto e dois sons lá tentavam explicar aquilo que queria e a jovem, bem treinada pelo seu formador, lá ia repetindo o mesmo palavreado de sempre, ignorando que sem receptor não há comunicação, pelo menos verbal. Talvez fosse nervosismo, talvez inexperiência, mas perante aqueles dois clientes, a sua voz eleva-se mais do que o habitual..."um hamburguer? Batata? Pequena, média ou grande? Coca cola? Pequena, média ou grande?...Não percebo...como?". No momento do pagamento foi triste verificar que o ecrã da caixa registadora não estava activo, o que dificultou o entendimento do valor a pagar. Era um gesto atrás do outro e a jovem não se lembrou que os 10 dedos que tem na mão servem também para indicar números e valores. O problema foi resolvido com um encolher de ombros do cliente que lá lhe entregou uma nota de 5euros e recebeu o troco, sem saber qual era o verdadeiro valor a pagar, já que recibo nem vê-lo.

   Não é fácil ser diferente num país que defende a moral do "todos diferentes todos iguais"...é verdade que com mais ou menos dificuldade conseguiu-se estabelecer algum tipo de comunicação, mas não poderemos facilitar mais as coisas?

Vícios ao volante

 

   O ser humano é feito de vícios. Eu não escapo a esse karma e também conto com uma boa dose deles. No que toca à condução tenho alguns dedos a apontar a mim própria.
Vício nº 1: conduzir com apenas uma mão no volante (a esquerda) enquanto a direita repousa entre uma mudança e outra. Daqui resulta uma postura de condução tendencialmente inclinada para a direita, que me provoca a sensação de conduzir “meia torta” (este fim de semana tive a oportunidade de verificar que não sou a única comeste vício e respectiva postura a ele associado).
Vício nº2: manter o pé esquerdo sempre pousado na embraiagem, mesmo que à minha frente se estendam 600 km de auto-estrada recta sem qualquer carro à minha frente. (ultimamente tenho-me treinado arduamente para contornar este comportamento inconsciente).
Vício nº3: ignorar quase totalmente a existência de um espelho do lado direito do carro. (o espelho retrovisor é sem dúvida o meu melhor amigo no carro).
Vício nº4: não ligar as luzes quando entro em parques de estacionamento subterrâneos. (Eu vejo bem lá dentro, e vocês?).
Vício nº5: Grave! Muito grave! Raramente parar em passadeiras e desculpar-me constantemente com a mesma lenga-lenga: “ah e tal vinha um carro atrás muito coladinho a mim…”. Ok! Mereço uma multa!
Vício nº 6: travar imediatamente o carro mal entro nele, nem que seja para deslocar-me apenas da garagem para o pátio (aqui está um vício positivo).
Vício nº7: Conduzir com o banco TODO chegado para a frente. Parece prática comum entre condutores de sexo feminino, mas no meu caso a justificação/desculpa prende-se com os simpáticos tacões que acompanham os meus queridos pés diariamente.
Last but not the least…
Vício nº 8: conduzir com a música em elevados decibéis (sim, por vezes também trauteio uma ou outra musiquinha).
  Ainda assim, em 4 anos de carta, o meu registo continua limpo e exemplar. São estas pequenas coisas que nos tornam pessoais e intransmissíveis.   

Pedintes em dentes de ouro

   À saída de um supermercado lá se encontrava a senhora, de nacionalidade aparentemente romena, pés descalços, cabeça tapada por um lenço e a fotografia de uma criança na mão. De cada vez que alguém se dirigia para o seu carro ela encaminhava-se na sua direcção e começava o discurso ensaiado e repetido sabe-se lá quantos vezes. Quando nos aproximamos do carro, foi a nossa vez. Num português arranhado e mal pronunciado, percebiam-se as palavras 5 filhos (a foto mostrava apenas uma criança), fome, comer, não tem dinheiro, quero carro...Se há 5 crianças com fome, foi-lhe dado um iogurte. Ainda não satisfeita, continuava com "carrinho, não tem dinheiro, fome...". A certa altura o discurso muda "Não querer iogurte para nada, quer dinheiro"...e sorri...e eis que se revelam pelo menos dois dentes de ouro!!!

   Conclusão: o iogurte foi retomado, o discurso dela manteve-se e nós viemos embora, deixando-a de mãos a abanar (ou não) e dentes de ouro no sorriso...

   Seria necessidade ou vontade de não trabalhar? Abstenho-me para não ferir susceptibilidades (inclusive a minha...).

 

 

Mulher bonita

   Era final de tarde no quarto. Entre uma palavra e outra, um carinho e outro, repousava a minha cabeça no seu colo enquanto mais um zapping decorria na televisão. A transmissão de um concerto dos Colplay fez-me tirar o dedo do comando. Eu via entusiasmada, ele criticava o vocalista, a música, que nunca gostou. As críticas iam surgindo e eu lanço a frase "Mas tem uma mulher bem bonita". A resposta não se fez tardar: "Oh, mulher bonita também eu tenho...

Sabe sempre bem...

O sol foi de férias

 

    E mais um dia de Verão amanheceu chuvoso. Parece que o sol resolveu tirar férias.

   Ou o calendário me enganou,ou estamos em Julho, ou seja, Verão, calor, sol, praia...acontece que, Verão temos cada vez menos; calor dá um "ar da sua graça", mas não assenta raízes, talvez para não nos saturar; Sol, há-de estar algures por aí perdido entre uma nuvem ou outra; e a praia (em toda a sua plenitude)....bem, essa passou a existir em apenas alguns lugares privilegiados do mundo.

   A verdade é que este tempo "fora de tempo" nos deixa a todos um pouco frios e molhados. Não bastam os dias de Inverno a que somos obrigados a resistir escondidos debaixo de camisolas, casacos e guarda-chuvas mas que ultrapassamos na certeza de que aquele solzinho chegará para nos aquecer...e chegada a altura do calção e sandália no pé o que encontramos nós? A chuva e o frio, a insatisfação nos olhares, os sorrisos esmorecidos pelo vento.

   Sol e calor precisa-se. Até nos podemos queixar (o português é, sem dúvia, o povo mais insatisfeito do mundo) do excessivo calor que nos faz desejar estar permanentemente "de molho" numa piscina, mas o Sol faz bem à alma, e quando a alma está quente e confortável tudo se torna bem mais simples.

   Abre os teus raios e brilha. Mostra que és uma estrelha. Sol. 

 

Too much tomates

  

   A noite ia avançando agradavelmente ao som de conversas e gargalhadas. Mais um jantar de família com todas as características de um jantar do género. Os temas de conversa eram vários, cada qual com o seu. Dada a internacionalidade desta família, alguns membros trocavam impressões em inglês. Entre uma frase e outra, a expressão "too much" marcava uma forte presença. A avó sempre atenta e pouco entendida em línguas comenta: "Que raio, do que estão eles a conversar que só ouço falar em tomates!!!". O resultado? Gargalhada geral! Too much idade vóvo!

  

(Só para não dizeres que não falo de ti: como és capaz de estar a olhar para mim e não ouvir uma única palavra do que eu digo, enquanto prestas atenção a outras conversas? Sem perdão!!!Por isso é que estás com letra pequenina.Ah! PARABÉNS pelos 15...só por causa de certas e determinadas boquinhas...turrinha de amigos?)

Cheirinho a Protector Solar

   Não é do protector solar que eu gosto...o que eu gosto mesmo é do cheirinho a protector solar que fica no corpo ao final de uma dia de "tosta ao sol".

  O cheiro a protector solar faz-me sempre pensar em sol, praia e férias. Este odor aparentemente banal traz até mim 1001 recordações.

   Longínquos vão os dias de Verão passados na Póvoa de Varzim. Era tão pequena que as memórias são poucas...ficou a imagem daquele sétimo andar com vista para o mar, o meu quarto com duas camas, as toneladas de brinquedos que levava, o pãozinho quente logo pela manhã, o frango assado comprado na rua, o papagaio que dizia sempre "habla comigo", a casa sempre cheia de familiares...

   À Póvoa seguiram-se os anos de férias à bom português no Algarve. Lagos foi a terra escolhida (e bem escolhida). Daqui o cheiro a protector solar é bem mais intenso e as recordações claras. Os primeiros anos foram gozados em família num apartamento demaisado grande para nós. Foram dias de rodelas de chouriço, do "Dino" a fazer sucesso na praia, do peixe aranha a picar-me no meu primeiro dia de praia, de donuts com açucar, de gelados comidos no Bar Moinho, até um gatinho preto houve que encontrou o caminho até ao nosso 5º andar...os últimos anos foram passados a três, num apartamento bem confortável e agradável. Salta o cheirinho às compras no Pingo Doce, a comida comprada no Take Way e respectiva ventania associada à compra, os passeios nocturnos a pé até ao centro, a animação típica de Verão, as tardes ventosas na Meia Praia, os passeios ao Forum Algarve, as vistias ao Zoo Marine...

   Cansados do Algarve, tomamos novos rumos, metemo-nos num avião e o destino foi: Palma de Maiorca. A paixão foi imediata e nos três últimos anos tem sido o nosso destino de eleição. Aqui sim o cheiro a protector solar deixou marcas profundas. Não há mar igual (quentinho, quentinho), não há paisagens, vistas, fotografias, imagens, como as de lá. O clima é incomparável, a humidade no ar deixa o corpo pegajoso, o ambiente é de verão em festa, convida-nos aos passeios, à boa-disposição, à alegria. O cheiro constante a protector solar acompanha-nos nas longas caminhadas entre C´an Pastilla e Arenal, nos autocarros que nos conduzem ao centro e às suas encantadoras ruas, nas sacas de compras, no pequeno-almoço demasiado recheado e nos pratos demasiado cheios do almoço e jantar.

  

   O último cheiro a protector solar conduz-me à viagem até à Tunísia...até ao minúsculo aeroporto com aparência de pavilhão gimnodesportivo, até ao bonito Hotel Ibersotar Solaria, com as suas magníficas piscinas, a gruta, os crepes a meio da tarde comidos na piscina, a refeição diária de pizza, os coloridos cocktails, a música contagiante, o aroma doce a não sei bem o quê, os sabores da Xixa, a alegria contagiante do povo tunisino, as labirinticas medinas e o "regatear amigo, regatear", o contraste...e tu e as nossas primeiras férias juntos. 

   Quem diria que um frasco de protector solar poderia conter em si tantos cheiros? 

   Estou com vontade de aumentar o meu leque de cheiros...destino? We never know... 

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