Os amigos não são para a vida. Ou quase nunca o são. São para momentos, para fases, para alturas, para idades, mas para a vida inteira...dificilmente. De acordo com a etapa de desenvolvimento, eles tornam-se mais ou menos importantes e são também mais ou menos, em quantidade entenda-se. Na idade adulta são poucos, mas normalmente dos bons. A vida foi nos ensinando a escolher as amizades, a "avaliar" cada pessoa, a tecer as impressões correctas. Mas na adolescência eles são tudo e mais alguma coisa. A par com os "primeiros amores", dão cor, sabor e significado à vida. Enchem os telemóveis de mensagens e os dias de sorrisos e momentos inesquecíveis. Nessas alturas, pensámos e acreditámos mesmo que eles vão estar sempre ali e que nós vamos também estar sempre ali com eles. Acreditamos que ainda melhores momentos virão e que, sempre que quisermos ou precisarmos, ou simplesmente nos lembrarmos, eles surgem, como se de um golpe de magia se tratasse. O pior é quando os golpes não são só de magia, mas também de mentira, de desilusão, de dor, que são tanto mais duros quanto maior a importância da pessoa que nos fere. E é quando os amigos são mais importantes para nós que os golpes mais doem e mais marcam. Deve ser por isso que, até hoje, não consigo ficar indiferente sempre que o meu caminho se cruza com o daquele alguém que, até há 6 anos atrás, era, de longe, a minha melhor amiga e que num instante, num gesto e numa série de palavras não ditas e outras falsas, me feriu, me desiludiu, me enganou e me marcou. Para sempre. Por muito que eu negue, por muito que eu não pense nisso. A dor está lá, recalcada. E hoje, quando a vi e a cumprimentei a memória encheu-se de recordações. Não do que fomos, mas do que perdemos. Não dos imensos momentos fantásticos, mas dos "últimos" momentos. Aqueles momentos que arrancaram uma parte de mim: aquela que acreditava na amizade plena entre duas pessoas e me fazia confiar nas pessoas.
E, estupidamente, dou por mim a pensar nela e a tentar perdoar-lhe. E, estupidamente, percebo, conscientemente, que nunca lhe vou conseguir perdoar. Que os momentos passados não voltarão, que tudo poderia ter sido diferente, que ela poderia não ter feito o que fez, que ela poderia não ter dito o que disse, que ela poderia não ter mentido como mentiu e que ela poderia não ter pedido desculpa tantas e tantas vezes como o fez, reavivando tantas e tantas vezes a minha memória e uma parte adormecida dos meus sentimentos. E, ainda mais estupidamente, tomo consciência que muitas vezes até sinto a falta dela e a nossa falta.
Hoje, depois dos cumprimentos e da conversa de circunstância, virei-lhe as costas que ela apunhalou e percebi que ela está e estará cá dentro, junto com as recordações. As boas e as más, que teimam em prevalecer e que, desde esse momento, me puseram negativamente nostálgica.