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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Eu e o Continente

 

   Gosto de ir às compras. Calma! Não é daquelas compras, compras, tipicamente femininas (porque dessas não gosto...ADORO!). Falo de compras de supermercado. De hipermercado, melhor falando. Compras de Continente, sendo mais específica. O que eu gosto de ir às compras ao Continente...e há quantos anos eu gosto de o fazer. Segundo me contam, era eu bem piquenita, mal sabia o que era o Continente, já adorava meter-me no carro e "Vamos ao pão!". Sim, era assim que eu chamava ao Continente. E até hoje o espírito mantém-se. Adoro pegar num carrinho de compras e passear-me por aqueles corredores carregadinhos de estímulos ao consumo. E gosto do antes e do depois. De ver o que falta e fazer a lista das compras; e de chegar a casa e tirar tudo das saquinhas para arrumar nos devidos sítios. Não é raro ouvir-me dizer "Já tenho saudades de ir às compras ao Continente" e, para mim, um final de tarde agradável inclui uma ida às compras ao Continente.

   Gosto de empurrar um carrinho de mão. Não um qualquer. O do Continente. Não é que tenha nada contra os outros. Acho que este elefante do Jumbo é das coisa mais fofas que passam na tv e que a nova música do Pingo Doce é digna de top nacional, o Lidl tem uns gelados muito bons e o Minipreço...há um em qualquer esquina. Mas o Continente é o meu hiper de estimação. Desde sempre. Desde a Leopoldina e o seu mundo encantado dos brinquedos, até ao intemporal "Novidades, novidades, é no Continente".  Desde os tempos em que era "o pão", até aos dias em que o pão é a última coisa a ser comprada lá.

   Explicação? Nenhuma. Nunca procurei, nem me preocupa. São daquelas coisas que nos tornam os dias mais agradáveis. Porquê explicar, quando podemos apenas disfrutar? E esta semana já tive a minha dose de Continente. Não se sente a felicidade?

 

80 euros (a mais) fazem uma mulher feliz?

 

Eva Longoria Parker

   Fui aumentada! 80 euros juntam-se agora ao meu já habitual cachet mensal. Se estou feliz? Considerando que...

   - sou trabalhora precária, sem direitos mas com muitos deveres (vulgo "a recibos verdes");

   - fui gentilmente convidada a mudar a minha sala de trabalho para um 1º andar frio e isolado, onde permaneço qual eremita nas mais altas montanhas, sem ver nem falar com ninguém com mais de 10 anos durante 5h;

   - tenho de subir e descer mais de 30 degraus sempre que algum papá ou mamã chega para levar o seu rico filho; 

   - todas as semanas mais uma doce criancinha me chega às mãos, arriscando-me a bater todos os recordes de lotação de uma sala de crianças com menos de 10 anos naquele ATL;

   - não tenho fotocopiadora no 1º andar e já não há ouvidos que aguentem tanto "e quando me dá um desenho da Kitty e das Winx para eu pintar";

   - não tenho álcool-gel no 1º andar;

   - não tenho extintor no 1º andar (com crianças, nunca se sabe!);

   - as minhas colegas me cumprimentam com um "Até pra semana!", enquanto eu subo para o 1º andar e isto a uma 2ªfeira;

   - 90% do meu trabalho é trabalho de professora, título que eu não tenho, para o qual não estudei e que é só aquela profissão que desde sempre eu disse NUNCA querer ter;

   - nunca tive num fraquinho por trabalhar com crianças, principlamente em grupo (desculpem-me, mas cada um é para o que nasce), embora muitas delas quase me venerem;

   - segundo uma publicação nacional ganho menos que uma empregada de limpeza da Sic;

   - fui igualmente aumentada em mais de 20h de trabalho (oficial) mensal;

...não consigo sentir-me propriamente feliz. Continuo a ganhar uma porcaria, para o número de horas que trabalho, para o trabalho que faço e para as qualificações que tenho. Continuo a arrastar-me todos os dias para aquele local, que quase vejo como uma obrigação e não como um trabalho, muito menos como um emprego. E continuo a sair de lá de rastos. Psicológicamente falando.

   Sendo assim, se me permitem e sendo 100% sincera, 80 euros a mais não fazem de mim uma pessoa feliz.. Realização profissional sim. 80 euros a mais, não.Não agora. Não ali.

  

Vão-me valendo as consultas que vão surgindo, que embora obriguem a horas extra e trabalho extra, me realizam muito mais e sempre contribuem (embora de forma quase miserável - acreditem, não estou a exagerar. Sou o outlet da psicoterapia infantil!)   para o meu avultado orçamento mensal.   

Sentem este silêncio?

Sentem? Ouvem?

Sentem como é boa a vida sem as buzinas, as músiquinhas, os gritinhos de apoio, sem o toma lá uma canetinha, mais meia dúzia de lápis, mais o calendário e o livro, a t-shirt e a bandeirinha...

Acabaram-se as campanhas políticas!!!! Say it loud!!!

 

Canta Bjork, canta...It`s all so quiet, schhh, schhhh...

(Meu triste) Fado

   O fado é um estilo musical tradicionalmente português. No fado canta-se o amor, as desventuras, os acontecimentos diários...mas (quase) sempre num sentido contemplativo. Um estrangeiro que ouça os nossos fados dirá concerteza que é muito bonito, mas também é certo que dirá só é pena ser tão triste.

   O fado parece ser um belo exemplo da forma como os portugueses se organizam: experienciam os acontecimentos, pensam e sentem, mas depois parecem ficar aí bloqueados. Parecem não ser capazes de integrar de uma forma activa, os acontecimentos e as suas reacções aos mesmos. As suas estratégias parecem passar mais pela contemplação da tristeza do que pela sua superação. Às vezes, parece mesmo existir um culto da tristeza, como se esta fosse acarinhada e cultivada enquanto elemento organizador da identidade, como se a única resposta possível fosse a resignação ao destino, ao "fado", como se nada mais houvesse a fazer. Falta-nos, a nós portugueses, uma filosofia de produtividade e dinamismo que nos liberte da muleta do destino, que é sempre e só um triste fado nosso.

 

Adaptado após leitura de "Saúde Mental - do tratamento à prevenção"

Constatação

Sarah Jessica Parker @ Sex and the City

Quando fazemos cursos e pós-graduações e aprendemos coisinhas muito giras e muito úteis mas que depois não pomos em prática durante algum tempo, o mais importante parece varrer-se. E assim estive eu durante as últimas mais de duas horas, a ler e reler os manuais de interpretação de uma data de testes psicológicos de avaliação da criança, para ser capaz de elaborar um relatório válido e fiel. E de repente sinto-me indignada por investir tanto na formação e só agora ter oportunidade de pôr em prática tudo o que aprendi e o muito que ainda tenho de aprender.

Fame

 

Estava a passar-me completamente ao lado a existência de um filme baseado no mais que famoso Fame. Confesso que não vi muitas das séries, mas poder ver o musical era assim quase um sonho. Na falta do musical, fiquei-me pelo filme. E não fiquei mal. Não é um graaannddeeee filme, de cortar a respiração. Mas vale pelos momentos musicais que são tipicamente Fame e que já me puseram à procura da banda sonora do filme na internet. E não poderia deixar de elogiar o trabalho dos actores, alguns deles com vozes de arrepiar! Um remake que vale a pena!

 

Do not disturb, please

 

E hoje foi um DAQUELES dias, em que levamos as mãos à cabeça demasiadas vezes e somos assaltadas por uma vontade assustadora de largar tudo naquele momento e sair dali para fora. Só para não ficarem com inveja dou-vos a escolher: um grupo de crianças selvagens, mal-educadas e preguiçosas que não sabem o significado da palavra respeito; um miudo de 8 anos que foi apanhado pela professora com um cinto apertado à volta do pescoço, depois de ter riscado todos os seus livros e cadernos; uma miúda que apanhámos a devolver o material que tinha roubado e que age com a naturalidade de actriz de Hollywood ou um miúdo de 7 anos (que amanhã estará em consulta comigo) que não percebe a importância das regras e que nos diz em tom ameaçador "É melhor tu me dares isso ou eu não sei o que te faço". O que escolhem?

   A minha escolha está feita: outro emprego. Por agora, sossego.