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A linguagem utilizada pelas crianças de hoje em dia é uma coisa que me deixa realmente chocada / assustada / abismada. Assunto para uma outra reflexão poderia ser a "maturidade" (não sei se este será o nome mais adequado quando nos referimos a crianças com menos de 10 anos) das suas conversas, que roçam a "adultice precoce", ainda que, muitas das vezes, não saibam verdadeiramente do que estão a falar.
Mas o que realmente me impressiona é o vocabulário de uma grande percentagem de miúdos. O "bué", o "totil", o "yah", invadiram-nos, juntamente com mais uma panóplia de expressões que muitas vezes nem sei o que significam. Sei esquecer os sempre oportunos palavrões que se juntam a qualquer conversa sem o menor dos pudores e com a maior das naturalidades. Tudo isto em miúdos com menos de 10 anos. E é claro que a linguagem falada se reflecte na linguagem escrita, onde temos miúdos incapazes de escrever um texto com princípio-meio-e-fim e que dão uma quantidade assustadora de erros, abreviam palavras para a sua forma falada (não existe mais o estou, e o tou tomou o seu lugar), trocam os "us" pelos "os", os "pes" pelos "bes", o "ao" pelo "am" e as ideias encadeiam-se sempre com um "e depois...e depois...e depois".
Se procuramos culpas e responsabilidades, temos de lembrar que a criança absorve tudo aquilo que lhe chega, ou seja, tem tendência a repetir os padrões comportamentais da realidade circundante. Na linguagem verifica-se o mesmo. As palavras que usam são as palavras que ouvem. Em casa, na escola, junto dos coleguinhas. Os pais assumem um papel fundamental em todos os aspectos educacionais, linguagem incluído. Tudo começa com as primeiras palavras e com os reforços que dão e a linguagem com que se dirigem aos filhos; se o frigorífico é chamado "fioifico", será interiorizado como "fioifico". Se o "pão" é "pom", "pom" será. Mas os professores assumem também um papel preponderante. São agentes educativos fundamentais (mas não os únicos) e, por isso, faz-me confusão ouvir uma professora dizer, aos berros, "Já estão a fazer muito basqueiro" (nem sei se será assim que se escreve, mas o objectivo é dizer que estão a fazer muito barulho).
Se calhar eu sou demasiado exigente. Se calhar sou demasiado "betinha", mas estimo bastante a linguagem que utilizamos. Se a imagem é um cartão de visitas, a linguagem será as costas desse cartão. Junto dos meus miúdos procuro corrigir-lhes essas expressões do "bué", "totil", "gaijo" ou "basqueiro". Sei que são contingências dos tempos modernos, desta geração "Morangos com açúcar", mas não custa mostrar-lhes outras realidades. Quem sabe não ganham gosto por estas palavras