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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

I was a dancer...for life

   Gosto de dançar. Sempre gostei e sempre gostarei. Gosto de dançar como forma de expressão, de libertação de amarras e sentimentos fechados. Gosto de dançar sem a prisão de uma coreografia, sem passos contados, ritmos definidos e músicas seleccionadas. Cresci com música, a música do meu pai, e cresci a dançar. Passei horas em frente à televisão a ver o videoclip da Lambada e a tentar imitar todos os passos e todas as voltas, que eram contadas e imitadas até à perfeição. Há videos e fotografias de uma Na criança, de saia rodada, a dançar a Lambada.

   Cresci, e nunca deixei de dançar. Qualquer tipo de dança. Fiz parte dos grupos de dança de todas as escolas por onde passei, dancei Britney Spears, Spice Girls, Janet Jackson, Backstreet Boys, Ricky Martin, Daniela Mercury, Moulin Rouge, rendi-me ao Hip Hop aos 15 anos e cresci com ele. Ensinou-me a ter atitude, personalidade e sensualidade, à custa de algumas horas em frente a um espelho a ouvir "Ainda não está bem, marca a tua posição no palco, atitude, aitutde!". Com a faculdade, a dança ficou para 2º, 3º e 4º plano e para uma pista de dança. Desde a entrada à saída de uma discoteca, ali estava eu, na pista ou em cima de uma coluna (oh juventude, o que nos fazes!), a dançar, dançar, dançar, all night long, até praticamente me empurrarem porta fora. Agora que as responsabilidades pesam e cansam, esta minha paixão limita-se às quatro paredes da minha casa.

   Onde há um ritmozinho, há um Eu a bater o pé, a abanar o corpo, a mexer os braços. Aos 24 anos percebo que o meu passado deveria ter passado ainda mais pela dança. Ficou muito por experimentar. A contemporânea, principalmente. Aquela emocionalidade corporal toda mexe comigo. Aos 24 anos percebo que a dança não deveria ter feito parte do meu passado, mas sim fazer parte do meu presente. Porque me fazia bem, me libertava e alegrava.  A "dançarina" dentro de mim está adormecida, mas não desaparecida. Aguarda-se ansiosamente o dia em que ela acordará, com todo o fulgor e vivacidade que iluminam os dias e nos enchem de energia, da ponta das mãos à ponta dos pés.

Single man

 

 

"Poucas vezes na minha vida tive momentos de absoluta clareza. Como quando, por alguns segundos, o silêncio abafa o ruído e eu posso sentir mais do que pensar. As coisas parecem tão claras. O mundo parece tão renovado. É como se o mundo todo começasse a existir. Não posso prolongar esses momentos. Apego-me a a eles, mas como tudo, eles desvanecem-se. A minha vida foi vivida nesses momentos. Eles trouxeram-me de volta ao presente e eu percebi que tudo é exactamente como deveria ser."

do filme "A Single Man"

That thing called love #2

"Sei que ultimamente não tenho sido o verdadeiro "EU", sei que muitas das vezes não me tenho comportado como sou nem como era.

 Tudo o que tu descreves no teu texto já me disseste várias vezes que eu era assim, ultimamente acho que não o tenho sido, mas como já referi ultimamente tenho sido uma pessoa que nem eu conheço, e, como eu já te dei o meu ombro amigo muitas vezes e te ajudei a ultrapassar várias coisas, também sei que me vais ajudar.

 Eu tenho a certeza que tudo o que descreves deve corresponder a uma pessoa muito especial e essa pessoa especial espero ser eu ( amigo, amante...). Tu sabes bem que eu adoro cuidar de ti e fazer-te sentir especial, porque por mais que tu negues, és especial.

Tento sempre melhorar e mostrar que sou a pessoa ideal para envelhecer ao teu lado, como quando vamos a passear sempre de mão bem dada, apertada com força, e olhamos para o mundo juntos ou quando vemos os velhinhos e dizemos "olha nós daqui a muitos anos". Ou quando olhamos para o horizonte e olhamos para o mesmo sítio, ou quando olhamos para os olhos um do outro e vemos o amor e a felicidade que construímos ao longo deste 4 anos e meio e que eu espero que dure mais 100 anos, pelo menos! Sempre a aturar os nossos defeitos, o mau feitio, as birras, os ciúmes, os amuos... e depois acaba sempre com um sorriso, um abraço, um beijo e uma palavra linda que sai dos nossos lábios.

Acredito, desde o primeiro dia, que este amor não foi um acaso, nem uma passagem nas nossas vidas, mas sim um amor eterno e para sempre, como quando vemos duas borboletas a dançarem ao som do vento juntas cruzando-se sempre como nós cruzamos as nossas vidas".

That thing called love

   "O amor mascara-se tão bem que nem o nosso reconhecemos. Esconde-se atrás de defesas e desencantos, interesses e projecções, modelos e ideais, ficando por vezes encoberto, desfigurado, irreconhecível. Mas a capacidade de nos darmos aos outros está lá, bem menos exigente do que pensamos, disponível e ávida, aguardando apenas quem saiba descerrar. Na verdade, nem é preciso muito: basta uma palavra, um eco, um simples gesto que nos comova, para darmos connosco a desvalorizar todos os obstáculos e a entregarmo-nos cegamente. De um momento para o outro começamos a querer bem a uma pessoa, elegendo-a sobre todas as outras, e, quando damos por nós, estamos presos a ela por laços tão apertados que, mesmo que quiséssemos, não saberíamos desatar.

   Outro aspecto que nos desconcerta é a evolução, hesitante e assustada, de um sentimento. Diz-se e desdiz-se, afirma-se e nega-se ao mesmo tempo, e o que é verdade hoje pode ser falso amanhã, para voltar a ser verdade uma hora depois. Reage emotivamente a cada estímulo, sem passar pelo filtro da razão e da experiência, revelando-se frágil e vulnerável como uma vara, flectindo à menor aragem."

Rita Ferro, Não me contes o fim

Are there any gentleman?

  Dizem que já não há homens como antigamente, que não há cavalheiros, simpatias, mimos e romantismos. Que os homens de hoje deviam aprender com os homens de tempos idos a abrir a porta do carro a uma senhora, a ceder-lhe passagem, a dar lugar no autocarro, a oferecer flores e caixinhas de bombons. Pois eu digo: homens do presente, não vos preocupeis. Nós, mulheres modernas, também já não somos como as de antigamente. Gostamos de uma surpresa-surpresa, daquelas sem previsão ou motivo, mas não precisamos de quem nos abra a porta, nos ceda passagem ou nos dê lugar. Crescemos, emancipamo-nos e enchemo-nos de independência e auto-suficiência. Hoje somos capazes de gerir uma casa, com ou sem filhos, e uma carreira de sucesso e ainda arranjamos tempo para os cremes, as loções, as bases, a celulite e para a visita semanal às nossas lojas de eleição. Estamos cheias de nós, de personalidade e atitude.

   Já não há homens como antigamento. Os cavalheiros. Se não há cavalheiros, há homens que ultrapassam os ditos. São românticos, gentis, amorosos, cuidadosos, preocupados, bem-humorados, inteligentes, cultos, interessantes e misteriosos. São desses cavalheiros do século XXI que nós, as mulheres guerreiras, gostamos. É por eles que aguardamos e é a eles que queremos conhecer. São amigos, familiares ou amantes, porque a admiração não escolhe o tipo de relação, nem deve envergonhar-se dela. Conheço alguns destes heróis. Poucos, como costuma acontecer com as pessoas ou coisas especiais. É um prazer conviver com eles, ser "cuidada" por eles, porque para eles, cada mulher deve ser cuidadosamente cuidada, mimada e acarinhada, seja amiga, familiar ou amante. Fazem-nos sentir especiais na mesma medida em que são especiais. E fazem-nos pensar que já não há homens como antigamente...há bem melhores! Não nos sufocam, mas mimam-nos. Não nos enchem a casa de flores e chocolates, mas adoçam-nos os dias com palavras, gestos e emoções. Fazem-nos rir quando nos apetece chorar, dão-nos a mão e não nos estendem o tapete vermelho, mas estendem-nos o seu apoio e compreensão. Não são como os de antigamente, mas esses não nos fazem falta. Porque nós, também já não somos as mulheres de antigamente.

Nós e os outros #2

   "Uma coisa é certa: quando se toca alguém, afectivamente, tudo pode acontecer. Não existem incursões inócuas, ou inconsequentes, à natureza do outro. Quando comunicamos com ele, ainda que fugazmente, e lhe deixamos uma qualquer impressão, encetamos um processo que, quase sempre, abre um outro, por sua vez, dentro de nós. E sempre imprevisível. Não que esta consciência nos deva tolher os gestos ou tornar desconfiados, mas é bom que conheçamos o poder que temos sobre os outros para nos responsabilizarmos pelos nossos actos, mesmo os mais pequenos, e não perdermos tempo a arranjar bodes expiatórios para justificar o que, tantas vezes, fomos nós a provocar."

Rita Ferro, Não me contes o fim

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