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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

A noite de S. João perfeita?

 

   Aqui em casa. Lá em baixo no pátio ou na garagem, se o tempo assim o pedir. Com aqueles que me são mais queridos a assar sardinhas e carne, a arranjar os pimentos, a preparar a salada e a fazer o caldo verde. Eu a chegar do trabalho e encontrar a casa já cheia, descalçar os sapatos e colocar os enfeites de última hora, a pôr a mesa e contar as cadeiras, a dizer "não quero sardinhas, só carne" e "há sobremesas!", a dançar música parola que encontrei numa qualquer estação de rádio igualmente parola ou música indiana de saia comprimida e lenço na cabeça e a chegar ao quarto, ao final da noite, cansada mas feliz e dizer "que cheiro a sardinhas! Preciso de um banho, urgente!". E todos nós, a rirmos alto e a contarmos os balões que se cruzam nos nossos céus.

   Foi assim o ano passado. Assim será este ano A parte da música indiana poderá falhar! Já a saia comprimida falhará de certeza, pois teve ordem de despacho. Possivelmente ouvirão-se muitos "Onde está o gato?"

Elas, as que gostam de marcar a diferença

   Que eu sou vaidosa não é novidade para ninguém e não tenho vergonha nenhuma de o assumir. Se há coisa que eu estimo é uma imagem cuidada e agradável à vista. O bom gosto, sendo algo relativo e individual, é ainda algo que não passa despercebido a qualquer observador minimamente atento ao que circula à sua volta. No meu humilde entender, em Portugal ainda não existe essa tendência marcada para o cuidar da imagem, para o olhar o espelho e só o largar quando gostamos verdadeiramente do que vemos. Não falo de estilos e modas, porque mais uma vez entramos no domínio da relatividade e individualidade, mas gostar da nossa imagem e cuidar de nós aumenta a auto-estima e faz-nos sentir verdadeiras "Femme fatalle".

   Quando gostamos de cuidar de nós sabe bem ouvir comentários simpáticos acerca da nossa imagem. Nem é uma questão de esforço reconhecido, porque o esforço por conseguir aquela imagem não é nenhum, de tão natural que se tornou aquele comportamento, que já mais uma característica de personalidade do que um comportamento. No meu local de trabalho farto-me de ouvir esses comentários simpáticos. A minha imagem marca a diferença naquele local e não passa despercebida, seja aos miúdos, às colegas, ou às mamãs. E sabe bem ouvir quase diariamente palavras como "Está tão bonita hoje! Hoje não, todos os dias!", "Ai esta menina usa sempre uns vestidos tão lindos", "Você anda sempre impecável", "Oh colega, eles não se despistam ali no cruzamento quando atravessas a rua?" (há sempre uma colega atrevida), "Olhe-me para esta professora, parece uma Barbie! E é isto todos os dias, não há um dia que falhe no bom gosto. E quando vem toda de preto? Havias de a ver...é de cair pró lado!" (esta tem poucas horas e entrou para o meu leque de favoritas).

   Para alguns poderá ser vaidade doentia ou síndrome do "tem a mania". Para mim são pequenos nadas que me fazem sorrir, porque quando gostamos de nós, gostamos que os outros gostem de nós e quem afirmar o contrário não sabe o que diz porque ninguém se faz sozinho. O outro que elogio ou critica é o outro que nos faz como somos, dia após dia, palavra após palavra. E para nós, mulheres modernas e fashionistas, que nos arranjamos para a imagem que vemos no espelho, estes bombons da vida alegram-nos o ego e a auto-estima, mesmo em dias de mau funcionamento hormonal.

   A cultura portuguesa do chinelo de dedo e do "sapatilha e fato de treino serve para qualquer ocasião" não serve para mim. Nunca serviu. Cuidar da minha imagem é parte daquilo que sou e não um frete de mulher. E quero acreditar que cada vez mais mulheres pensam da mesma forma, porque seres extraordinariamente poderosos todas nós somos, naturalmente, mas aqueles pequenos pormenores "materiais" conseguem pôr-nos extraordinariamente belas. Por fora e por dentro. Para nós e para os outros. Mas principalmente, para a imagem que vemos no espelho sempre que para lá olhamos enquanto nos arranjamos.

Um sorriso

   "Sorriso, diz-me aqui o dicionário, é o acto de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e executando contracção muscular da boca e dos olhos.

   O sorriso, meus amigos, é muito mais do que estas pobres definições, e eu pasmo ao imaginar o autor do dicionário no acto de escrever o seu verbete, assim a frio, como se nunca tivesse sorrido na vida. Por aqui se vê até que ponto o que as pessoas fazem pode diferir do que dizem. Caio em completo devaneio e ponho-me a sonhar um dicionário que desse precisamente, exactamente, o sentido das palavras e transformasse em fio-de-prumo a rede em que, na prática de todos os dias, elas nos envolvem.

   Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.

   O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contracções musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso."

José Saramago

1922-2010, eterno nas palavras

 

"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só mais um dia."

José Saramago

 

   Nós, que amamos os livros, sentiremos a sua falta. A literatura eterna perde um génio.

E depois há as palavras dos outros...

 

   "E depois há as palavras dos outros. As de todos os escritores cujos livros conversam comigo na minha casa, que vou descobrindo nas minhas viagens.  Histórias perfeitas e parágrafos sublimes que vou coleccionando com o prazer e a culpa de quem se apropria de tesouros alheios. E quando as palavras que os outros escrevem dizem o que sinto, sinto-as como minhas e registo-as num caderno, no telemóvel, num guardanapo de papel, para mais tarde as oferecer a alguém. Aforismos, diálogos, monólogos, descrições de um personagem, de uma casa, de um lugar. Frases soltas, reflexões, princípios filosóficos, abreviaturas, nomes, alcunhas, diminutivos, expressões idiomáticas, provérbios e ditados populares, tudo serve para me entender melhor com a realidade."

 

"Vou contar-te um segredo", Maragarida Rebelo Pinto

Em Portugal vai-se andando...

  "Então como estás?". "Vai-se andando". Eis o típico discurso português.

  Em Portugal vai-se andando. Entre a resignação, a falta de ambição e a falta de confiança, o povo português parece contentar-se com pouco, sem nunca estar satisfeito com nada. Está sempre tudo mal, mas podia estar sempre pior ou melhor, "é a vida". Se até somos capazes de estabelecer metas e objectivos, já não somos assim tão capazes de reconsiderar essas metas e objectivos e desejar patamares mais elevados. Os grandes feitos são do estrangeiro, as grandes mentes são "de fora", os mais capazes são os outros. É uma mentalidade do "mais-ao-menos deixa andar e logo se verá porque o que temos já é uma benção da Nossa Senhora" que não nos leva a lado nenhum e nos contagia de forma assustadora nas mais pequenas coisas, pois a dada altura, já todos nós somos um reflexo dessa mentalidade e damos por nós a responder "vai-se andando" uma e outra vez, envolvidos nessa filosofia do desenrasca.

   Povo! Ei! Toca a acordar! Nós somos bons! Nós somos gente e não gentinha, somos cidadãos do mesmo mundo e somos, no mínimo, tão capazes como qualquer outro. É doentio aquilo em que nos tornámos. Nós, que partimos por mares nunca antes navegados, nós que descobrimos o mundo, nós que fomos aventureiros, corajosos, determinados, capazes, vencedores. Fomos e podemos ser, hoje e sempre. Esse espírito derrotista não vai nada bem connosco. Por isso admiro aqueles portugueses a que chamam arrogantes mas que possuem uma garra e uma ambição capazes de tudo. Não basta "Ah, claro que nós queremos ganhar!". É preciso "Nós vamos ganhar, porque acreditamos que vamos ganhar, porque somos capazes de ganhar".

   Portugal precisa de quem lhe ensine a ser vencedor, a ser grande, a ser auto-confiante, porque talento e vontade não chegam. Os portugueses precisam de quem lhes ensine a ser líder. Líderes das nossas vidas, das nossas vontades, das nossas ambições e das nossas capacidades. "É o Homem que se é que triunfa" (dito por um Professor de Filosofia num programa dedicado ao tema Vontade de vencer). Já chega do mais ao menos meu povo, do desenrasca, do vai-se andando, do vamos ver. Vamos triunfar!!!