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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Então e agora?

 

 

   Dado o actual estado do mercado português, continuar a insistir na minha formação parece-me a única solução imediata.

   A parte clínica, por mais que me custe, terá de ser posta de lado, pelo menos para já, já que não vejo modos de isto melhorar.

   Assim sendo, há coisas que realmente gostava de fazer mas para as quais não tenho formação ou experiência. Há então que decidir qual a "melhor" área para investir neste momento (se é que existe alguma). Assim à primeira, surge-me qualquer coisa relacionada com os recursos humanos, até porque já fiz uma formaçãozita e gostei. A grande questão é: valerá mesmo a pena, ou será mais uma aposta "ao lado"?

 

   É que, sem desvalorizar as minhas criancinhas, não dará para aguentar muito mais tempo esta instabilidade e falta de segurança futura.

 

   A chuva e a vida deixam-me assim...a modos que...menos "up".

Somos psicólogos uns dos outros?

Por Pedro Rolo Duarte, na LuxWoman deste mês:

 

   "(...) Acordo para esta sequência de ideias repetidas, feitas, corriqueiras, e percebo por fim o que se passa em Portugal: somos todos psicoterapeutas de todos os outros que são doentes como nós. Estamos deprimidos por inteiro - mas revezamo-nos nesta condição (...).

   Andamos a reboque uns dos outros, desabafando no cabeleireiro ou no dentista, no advogado ou no balcão do café, tapando as nossas insuficiências com as insuficiências alheias, fingindo que somos o troféu de sensatez, e usando a velha máxima: «Faz o que eu digo, não faças o que eu faço».

   Enquanto isso, os psicólogos devem viver a maior crise de sempre - porque há crise mesmo e porque qualquer taxista os substitui. Porque a sabedoria e o estudo de pouco lhes serve, qualquer profissional dedicado às madeixas e nuances, ou à barra do tribunal, pode fazer diagnóstico e respectivos caldos de galinha.

   Sei que é absurda a ideia. Mas ela remete-me para o único momento (de que me lembro...) em que senti que estava a perder o pé à vida e não conseguia dominar a tristeza que sentia. Pedi ajuda. Aterrei num consultório de uma extraordinária psicoterapeuta (profissional, essa sim...) que, em poucos meses, me ajudou a desenhar o retrato dos meus dias, que teimavam em ser um puzzle solto numa caixa sem fundo. Fiquei-lhe grato para sempre, não apenas por me ter ajudado, mas também por ter desfeito mais um dos preconceitos que me acompanharam dezenas de anos e que enviava a psicologia para o campo da irrelevância. Eu fazia parte daquele grupo que acha que uma depressão se cura com uma garrafa de whisky e umas saídas com amigos. Não conseguia perceber o potencial de um diálogo em que construímos o edifício de nós próprios e, ao mesmo tempo, nos projectemos no futuro.

   Em pouco tempo, levei duas lições de vida dadas pela mesma mulher - a Dra. Etelvina Brito era, realmente, uma mulher superior. Na sensatez como na inteligência, na forma como encaminhava as nossas conversas, como na maneira como ironizava sobre a vida. Uma mulher sábia.

   Como seguramente não são, pelo menos nestes domínios, a cebeleireira, o taxista, o advogado, o empregado de café. Somos psicólogos uns dos outros? Parece que sim. Mas somos amadores. E os males da alma merecem maior cuidado. Atenção. E humildade. Quem sabe ouvir e tratar tem profissão, tem formação. Portugal psicoterapeuta? Nada disso. Apenas à deriva, a precisar de terapia."

Há anúncios fantásticos, não há?

 

 

Pega-se em metade do Oceano
e juntam-se-lhe terras desconhecidas.
Deixa-se marinar alguns anos
e tapa-se com um manto de neblina.
Lavam-se as saudades em lágrimas
e põe-se a glória em banho Maria,
para voltar a usar um dia.
À parte coloca-se o fado bem apurado,
o futebol bem jogado, e um ou outro pregão
das entranhas gritado.
Desfaz-se a língua em poemas,
odes e cantigas
ou então canta-se à desgarrada.
Rima improvisada.
Numa grande forma de barro
escalda-se o Algarve e o Alentejo,
salgam-se as Beiras e desfaz-se em água
o Douro e o Ribatejo.
Para terminar abanam-se as Oliveiras
com sabedoria ancestral.
Rega-se tudo com um fio dourado.
E serve-se assim Portugal,
como prato principal.

Sabe bem

 

Quando os gestos de carinho e de parabenização nos chegam de várias pessoas que nem julgariamos que se lembrariam de nós.

Os laços que vamos criando ao longo da vida, os mais e os menos fortes, os mais e os menos perceptíveis, são, sem dúvida, das melhores coisas que levamos daqui.

 

Bigadinha a todos.  

"Afinal, não tenho todo o tempo do mundo para ti" (vale mesmo a pena ler)

 

Por Paulo Farinha, na Notícias Magazine de dia 31 de Outubro de 2001:

 

   "A gestão do tempo é uma coisa tramada. Todos sabemos que não é facil encaixar tudo o que gostariamos de fazer nas 24 horas do dia (...). mesmo que admitamos que o tempo não estica, continuamos a perder minutos preciosos a lamentar esse facto. (...) Pelo meio ainda temos de gerir o tempo da relação afectiva. Não se trata do tempo de duração da própria relação, mas do tempo que «gastamos» com outra pessoa. Falemos de coisas concretas: nos primeiros meses de uma relação, todo o tempo disponível é canalizado para o outro. Não vemos mais nada. (...) Os meses vão passando, depois os anos e a paixão vaise cimentando e transformando noutras coisas (cada um sabe de si) e eis-nos chegados a um belo dia, igual a tantos outros em que já tivemos de gerir o tempo de tudo e mais alguma coisa desde que o Sol nasceu. E surge a pergunta:

   - Entaõ vamos ao jantar do Pedro, estamos lá um pouco e depois seguimos para o aniversário do Ricardo, certo?

   - Não, errado.

   - Como, errado? Foi o que combinámos.

   - (...) Vai tu ao jantar do Miguel, que é teu amigo, e eu vou ao jantar do Ricardo, que é meu amigo. (...)

  E pronto. De repente, depois de uma série de anos a gerir o tempo dessas coisas, alguém deixou de ter pachorra para tanta gestão. Se calhar teria sido possível conversar sobre isto. Ou quem sabe, à medida que a relação avançava, ir estabelecendo o tempo de cada um e o tempo em comum. Mas a verdade é que nem sempre o conseguimos fazer. Não é um sacrifício e ninguém nos encosta uma faca ao pescoço, mas sentimo-nos na obrigação de acompanhar a outra pessoa para tudo o que é programa. E, igualmente grave, sentimo-nos na obrigação de a convidar para tudo o que é programa. quando damos por isso, deixou de haver o »eu» e o «Tu» (...). As únicas horas sem a outra pessoa passam a ser as horas em que estamos a trabalhar e já não nos lembramos quando foi, exactamente, que começamos a fazer sempre as mesmas coisas juntos, a ir para todo o lado atrelados, a ver os mesmos filmes, a ouvir as mesmas conversas, a conhecer as mesmas pessoas e os mesmos restaurantes. Quando é que deixámos de ter coisas novas para mostrar um ao outro? Quando é que deixámos de ter saudades um do outro?

   (...) Como geir esse tempo a dois, quando estamos mortinhos por umas horas no singular no nosso mundo que já existia antes da outra pessoa? Não será melhor não fazer o frete? E, dessa forma - e contrariando o Rui Veloso - não ter de fingir que temos todo o tempo do mundo para o outro.

   Também queremos algum para nós."