Há uma semana atrás a Sra. P. despediu-se de mim com um "talvez nunca mais me veja".
Nesse dia, a Sra. P. ingeriu soda caústica. Encontra-se desde então em coma induzido, num estado considerado muito grave.
A Sra. P. dizia todos os dias: "eu vou-me matar, ai vou, vou. Hoje é que vai ser." A primeira tentativa deu-se há uns tempos atrás, quando optou por uma quantidade absurda de brufen, esteve em coma e escapou. Antes de ingerir os comprimidos, ligou a todos os filhos, avisou os vizinhos e chamou o INEM. Desta vez, avisou a vizinha, deixou a porta de casa aberta e ligou para a filha já depois de ter ingerido a soda caústica. Um pouco como a história do Pedro e do lobo, já ninguém sabia quando ela falava verdadeiramente a sério.
O que mais me incomoda em toda esta história é que a Sra. P. não se queria suicidar. Tudo isto são sucessivas chamadas de atenção de alguém com bastantes problemas psiquiátricos e que, por isso ou juntamente com isso, tem uma personalidade dificilíma de moldar, trabalhar ou lidar. É uma senhora problemática, extremamente conflituosa, totalmente perturbada, sem rede de suporte social e com relações familiares complicadas. É alguém que só está se for o centro das atenções e que optou pela pior forma de chamada de atenção. E agora arrisca-se a passar o resto da sua vida, que ela sempre quis preservar apesar de tudo, prostrada numa cama, ligada a uma série de máquinas, com todas as atenções do mundo, mas sem o mínimo de significado.
Valeu a pena, Sra. P.?