Gosto dos dias que dedico às visitas de apoio domiciliário. Primeiro porque ando na rua de um lado para o outro, que é coisa que me agrada bastante, já que sou um pouco alérgica às 7h de clausura diária. Segundo porque muitas das vezes essas andança, que chegam a ser de Km, são feitas a pé, o que é maravilhoso para a linha e péssimo para os meus pés. Terceiro porque vou quase sempre acompanhadas pelas domiciliárias que prestam os cuidados de higiene e alimentação e que são extremamente acessíveis e simpáticas e nos passam informações cruciais, já que são, em muitos casos, as únicas companhias de muitas pessoas. E quarto e principal, porque vou eu ter com quem precisa de alguém e, ainda que por pouco tempo e só uma vez por semana, reduzo um pouco a solidão daquelas pessoas. É uma realidade dura, sem dúvida, pois encontro aquilo que a sociedade ignora ou esquece e encontro também casos gravíssimos de completo estado vegetativo ou de falta de condições. Das físicas, porque da falta de condições humanas já nem me atrevo a falar tamanha é a quantidade de atrocidades a que assisto.
Ainda assim, gosto desta parte do meu trabalho e talvez seja a que mais me faz crescer e a que mais me perturba o sono. É o que está entre quatro paredes, muitas vezes à espera de nada nem ninguém, apenas a morte. E no final, sabe bem ouvir um "obrigada por este bocadinho" ou apenas e só um "obrigada só pela companhia". Porque é isso que eles querem e precisam: de companhia, de quem os ouça, de quem lhes relembre que há um mundo para lá daquelas janelas fechadas.