Hoje, no balneário do ginásio, uma menina com não mais de 8 anos, das turminhas de natação, discutia com a mãe de uma amiguinha o porquê dessa amiguinha não poder frequentar determinada actividade que não cheguei a tempo de perceber qual era.
Menina: "Mas porquê que ela não pode ir?"
Mãe da amiguinha: "Porque ela já tem muitas actividades."
Menina: "E depois? Eu também tenho muitas actividades. À segunda tenho basquete, à terça tenho piscina, à quarta tenho karaté, à quinta tenho qualquer outra coisa que já não me lembro (eu!), à sexta tenho karaté, ao sábado tenho basquete e ao domingo natação".
Por esta altura, todo o balneário se calou a olhar para a pequena, perante o ar envergonhado da mãe desta.
Pessoalmente, chego a achar que aquela mãe é uma espécie de terrorista das mães. Uma criança tão pequena com actividades 7 dias por semana? Depois de um dia de escola, trabalhos de casa, estudos, etc, etc, não há um único dia em que a criança possa descansar? E ser criança fica onde?
Lembro-me de quando era criança e tinha natação (no FCP, carago!) à segunda, quarta e sexta, aulas de órgão/música ao sábado de manhã e catequese ao sábado à tarde e domingo de manhã. E lembro-me que muitas vezes ir para isto tudo era para mim um sacrifício (especialmente o órgão e a música, de que nunca gostei e desisti ao fim de 2 ou 3 anos). Porquê que eu haveria de desperdiçar o meu tempo precioso de criança naqueles afazeres todos quando havia tantas histórias para construir com as minhas Barbies e tanta roupinha para lhes vestir e despir? Ter tempo para mim sempre foi uma prioridade, desde pequena.
Eu não sou mãe nem tenciono sê-lo, mas não equaciono sequer a possibilidade de um dia sobrecarregar uma criança com centenas de actividades, por muito atractivas e benédficas que elas sejam. Para mim, o fundamental é deixá-los ser crianças. Se não o forem enquanto estão cronologicamente lá, quando o serão?