My week
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Arrancou no dia 1 de Março, como estava programado. Não é um projecto pessoal, mas antes um projecto da instituição no qual estou envolvida. De froma resumida, consiste num alargamento dos nossos serviços de apoio domiciliário duas horas após os mesmos terminarem, ou seja, durante a semana estamos na rua das 18h às 20h e aos fins-de-semana e feriados das 17h às 19h. O objectivo é aumentar a assistência a alguns dos nossos idosos, ou seja aqueles que não têm família ou qualquer retaguarda e que, por isso, ficavam completamente isolados desde a nossa última visita do dia até à manhã do dia seguinte. Com este alargamento dos serviços, esses idosos terão uma sopa quente à noite, mais uma mudança de fralda, ou algo simples como persianas fechadas apenas à noite e não às quatro da tarde.
Tudo isto funciona em regime de voluntariado, ou seja, todos os colaboradores que participam fazem-no de forma voluntária e sem custos adicionais para os idosos que usufruem de mais este apoio. É um projecto de louvar, sem dúvida, mas extremamente cansativo, pois há colaboradores a trabalharem 12h por dia, o que nos faz recear que comecem a surgir algumas desistências à medida que o cansaço comece a pesar...mas alguma é altura de pensar positivo e pensar que naquelas duas horas estamos a fazer algumas vidas um bocadinho menos solitárias e um bocadinho mais felizes. É que é tão bom ver o ar de satisfação dos nossos idosos ao ouvir um "bom dia", "boa tarde" e agora "boa noite".
A Sra. M. foi ontem ao hospital. Foi muito abaixo, não se sentia bem, aparentemente nada de grave, para além dos habituais males da gente velha (termo que para mim é sempre carinhoso). De lá veio, com um diagnóstico de conjuntivite e inícios de anemia. Hoje de manhã, como sempre o faz, a sua filha ligou-lhe para saber como estava, se tinha passado bem a noite...a Sra. M. estava-se já a aprontar para ir para aguardar pela carrinha que a ia transportar para o um dos nossos centros de dia.
Fomos buscá-la à hora do costume e a Sra. M. não estava à porta à espera, como sempre faz. Batemos à porta, ninguém abriu. Ligamos à filha que nos disse que ainda há pouco tinha falado com ela e que com certeza a mãe não tinha ouvido bater. Receamos logo que a senhora tivesse caído em casa, Usamos a "chave de emergência" e de facto a Sra. M. estava caída no chão da cozinha...morta.
Saber da morte de um dos nossos idosos abala-me sempre um bocadinho. Ver um dos nossos idosos morto no chão da própria casa é uma daquelas experiências que nos parte por dentro, apesar de todas as ferramentas de racionalização que poderemos usar para encarar aquela situação como trabalho. E por mais treino que se tenha, por mais que se tente encarar a situação de outra forma que não a que o coração nos dita, é uma vida que se acaba e que nós vemos ali acabada, no chão de uma cozinha de uma casa que sempre foi o seu lar. E, mais uma vez, no final, alguém esteve completamente só.
É impossível ver a vida da mesma maneira quando nos deparamos com situações destas.
Março é o mês da Primavera e da despedida do frio e da roupa às camadas. Finalmente podemos sonhar com cor, leveza e temperaturas agradáveis...e assim começa a nelhor altura do ano!