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Sempre que passo naqueles semáforos está lá o mesmo homem de sempre, a pedir uma moedinha aos condutores apressados do centro da cidade que aguardam impacientemente pelo sinal verde. O senhor pede sempre uma moedinha, que raramente alguém lhe dá, e agradece sempre a falta de generosidade dos condutores, desejando um bom dia e muita saúde. Na segunda feira lá parei nós ditos semáforos e ele lá veio como é habitual, mas desta vez com uma variante no discurso. Dizia que faria anos daí a dois dias, tentativa de nos convencer mais facilmente a ceder a tal moedinha. Eu, e provavelmente 90% dos que lá pararam, não acreditamos naquela desculpa. Hoje voltei a parar nos ditos semáforos. Primeiro pensamento: deixa lá ver se o argumento ainda é o mesmo. E ele lá andava, a pedir a moedinha do costume, mas hoje acompanhado do bilhete de identidade e de um "é mesmo verdade, é mesmo verdade, faço anos hoje", enquanto apontava para o 14/08... não consegui deixar de sorrir. Tal como todos os dias, não lhe dei uma moedinha, mas desejei-lhe os parabéns, sem deixar de sorrir e de me lembrar que estas pessoas da rua também são gente honesta, que conseguimos conhecer quando nos libertamos dos preconceitos. Parabéns, senhor do semáforo. E um bem haja pela sua simpatia.
Ainda não tinha espreitado as fotos da campanhã de outono da zara (não sei como me escapou!) e, pela primeira vez, tenho de admitir que não uma só foto que goste. Uma campanha muito muito fraquinha, sem peças de cortar a respiração. A confirmar a minha ideia de que esta é a pior altura do ano para modas!
Já agora, é impressão minha, ou quadradinhos e xadrez são tendência total? Adivinho um Outono Inverno carregadinho de mulheres em uniforme de colégio!
Desde o interior da ditadura mais repressiva do mundo, desde um país coberto por absoluto isolamento, Dentro do Segredo. Em abril de 2012, José Luís Peixoto foi um espectador privilegiado nas exuberantes comemorações do centenário do nascimento de Kim Il-sung, em Pyongyang, na Coreia do Norte.
Também nessa ocasião, participou na viagem mais extensa e longa que o governo norte-coreano autorizou nos últimos anos, tendo passado por todos os pontos simbólicos do país e do regime, mas também por algumas cidades e lugares que não recebiam visitantes estrangeiros há mais de sessenta anos.
A surpreendente estreia de José Luís Peixoto na literatura de viagens leva-nos através de um olhar inédito e fascinante ao quotidiano da sociedade mais fechada do mundo. Repleto de episódios memoráveis, num tom pessoal que chega a transcender o próprio género, Dentro do Segredo é um relato sobre o outro que, ao mesmo tempo, inevitavelmente, revela muito sobre nós próprios._______________________________________
Gosto sempre de saber um pouco mais sobre tudo aquilo que nos faz questionar até onde pode ir o ser humano, para o bem e para o mal. Conhecer um pouco melhor as vivências de um dos países mais fechados e secretos do mundo pelas palavras do José Luís Peixoto é não só uma experiência de conhecimento como de muito boa literatura. Não é como ler um qualquer artigo de jornal, que nos parecem sempre excessivamente teóricos e frios, distantes. Neste livro temos o relato de quem por lá passou por que sim, porque quis e não porque teve de ser, e talvez aí resida uma das grandes diferenças e aquele cheirinho que torna este livro muito apetecível.
«O exercíco de não olhar para si próprio não resolve o anátema dos que estão fora de todas as redes sociais e sobrevivem - estar de fora é uma opção legítima. O que já não é legítimo é estar de fora e saber que todos são diferentes e achar que os que estão dentro são todos iguais, têm os mesmos vícios, os mesmos problemas, as mesmas carências e nada de bom. Se irrita a sucessão de praias e jantares e festas que se perdem, desliga-se. Como a televisão. Se indispõe a maldade, evitam-se os maldosos, como na vida. Se há verdadeiras bestas que, sendo espertos, não têm filtro social e insultam aqueles ou a memória daqueles que são exaltados ou não suportam as loas preguiçosas aos que morrem, aprenda-se as bestas, acolha-se as bestas no lugar que foi feito para elas serem livres. Se incomodam, desligue-se, como a televisão. Claro que o exercício do bloqueio ou a limpeza de caras é legítimo, mas tem o lado B: na vida não se limpam os incómodos. Pelo menos não com um clique. A rede social nasceu precisamente para retirar os egos do seu próprio centro, e quando os egos se centram em si perante milhares, milhões, expõem-se, são sindicados: uns vão aprendendo a fugir de si, outros viciam-se no número de polegares erguidos. Como na vida. A ilusão e a verdade não são líquidas. São sólidas e podem sublimar-se. E uma vez no ar respiram-se. Pode ser veneno. Pode não. »
Pedro Gulherme Moreira 2013
(roubado da sua página do facebook)
«Guardamos os segredos ao lado de tudo o que não dizemos. Nesse grande sotão escuro há de tudo, há aquilo que não dizemos porque temos medo, porque temos vergonha, porque não somos capazes; há aquilo que não dizemos porque desconhecemos, ignoramos mesmo, apesar de estar lá, em nós. Os segredos são assim. Eles estão lá, podemos visitá-los, assistir a eles, sabemos as palavras exactas para dizê-los e, muitas vezes, temos tanta vontade de contá-los. Mas escolhemos não o fazer. Os segredos estão dento de nós. Como tudo o que sabemos, também os segredos nos constituem. Quando os seguramos, quano somos mais fortes e os contemos, alastram-se em nós.Desde dentro, chegam à nossa pele. Depois, avançam até sermos capazes de os distinguir à nossa volta. E, no silêncio, somos capazes de os reconhecer. Então, nesse momento, já não são apenas os segredos que estão dentro de nós, somos também nós que estamos dentro dos segredos.»
José Luís Peixoto, "Dentro do Segredo"