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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Time to look back...

   No momento em que mais um ano chega ao fim poderia ser altura de balanços,  retrospectivas e definição do melhor e pior de 2013. Para muitos este é o momento em que olham para trás e relembram, para em seguida formularem desejos, sonhos, objectivos, metas ou seja lá o que for para o novo ano. Confesso que a mim tudo isto me passa ao lado.  Há muito que deixei esse exercício mental de final de ano de parte e me dediquei à velha máxima de "um dia de cada vez". É claro que tenho os meus planos, as minhas ambições,  os meus sonhos, os meus objectivos muito bem definidos,  mas esse é um trabalho quase diário e não de uma época.  A vida vai-se encarregando de me mostrar o que é melhor para mim, o que é realmente importante e o que mais falta me faz. E mostra-me constantemente e diariamente. Quanto às retrospectivas também nao me alimento delas. Gosto de viver e tirar o significado de cada vivência no momento. Gosto de aprender com os erros no momento, de relembrar constantemente momentos felizes e nunca esquecer todas as dificuldades por que passei e que ultrapassei. A cada momento eu estou aqui, e tudo o que está para trás e para a frente de mim é vida vivida ou para ser vivida. 

   E é apenas isso que eu quero para todos os dias de 2014, o mesmo que quis para todos os dias de todos os anos que felizmente pude ver passar: vida! E é isso que vos desejo: vida, todos os dias da vossa vida. 

Histórias com gente dentro

   Esta semana pude conhecer a Sra. L., de 64 anos, que, depois de há uns anos ter lutado arduamente contra o cancro da mama, hoje tem o bicho-cancro espalhado por todo o corpo, numa fase desumanamente avançada ao ponto de a impedir até de descascar uma maçã.  Perante tamanho historial ia à espera de encontrar alguém fisica e psicologicamente debilitada, mas a vida e este trabalho não param de me surpreender e o que encontrei foi uma senhora cheia de vida e, acima de tudo, uma maravilhosa vontade de viver. Todo o tempo passado com a Sra. L. é mais uma daqueles lições que levamos para a vida, porque, sendo cruelmente realistas, a Sra. L. está a morrer mas recusa-se a aceitar isso, não numa perspectiva de negar o seu estado, mas antes numa fantastica atitude de luta renhida com e contra o cancro. Parafraseando-a, "eu sei que vou morrer. E a doutora também sabe que vai. Todos nós vamos morrer. E a mim não é o cancro que me vai matar. O cancro vai ser a desculpa que vão dar para a minha morte, porque eu vou viver até o meu dia chegar. Ter cancro não muda nada". 

   Quantas pessoas cobseguem pensar assim? Quantos de nós,  mesmo não tendo quakquer doença,  sofremos horrores com a antecipação e o receio da morte? E quantos de nós nos esquecemos constantemente  que esta vida tem mesmo um prazo de validade e que, por isso, é bem melhor consumi-la enquanto há tempo, mas consumi-la intensa e verdadeiramente até à última gota? 

   Há gente tão cheia de tudo neste mundo, que só cruzar a nossa vida com a dessas pessoas é a maior das experiência. 

"Sozinho-me"

   Quando os meus dias são muito cheios de vidas e histórias, é nesses dias que mais preciso de me "sozinhar", que é como quem diz de me isolar de tudo e de todos e passar uns belos momentos comigo mesma e com o silêncio e o vazio que também pode ser o mundo e a vida.
   Há dias em que carregar tantas vidas cá dentro não é fácil. Há dias em que o sofrimento dos outros é tanto que invade perigosamente a minha alma. E há dias em que simplesmente nos apetece nada para além de nós próprios, quando às vezes já nem com nós próprios podemos.
   Há dias assim, pesados, intermináveis porque continuam nos sonhos e acordam connosco no dia seguinte.
   Há dias em que me "sozinho" para me poder encontrar e estar pronta para mais um dia.

E assim foi Natal...

   No dia 25 de Dezembro não consigo deixar de sentir uma nostalgia pelo Natal. Começa a aparecer assim que termina a noite da véspera de Natal, que para mim representa o verdadeiro Natal, e vai-se estendendo e acentuando pelo dia 25 fora...é a nítida sensação de que nesta vida tudo passa depressa demais. Aguardamos pela época natalícia durante um ano, vivemos euforicamente o espírito assim que as primeiras luzes piscam ainda dezembro não entrou e, de repente, num outro piscar de luzes, já foi Natal e mais só para o ano. É por isso que não gosto da noite de 25 de Dezembro. E é por isso que não vou gostar do dia 26...por isso ou porque amanhã é dia de regresso ao trabalho! (A parte boa é que também é dia de regresso ao ginásio e à comidinha normal!).

   Entretanto, adeus natal, vemo-nos no próximo ano com o mesmo espírito de sempre. E por mim, já podemos desligar as luzes, arrumar o pinheiro e deixar o Pai Natal hibernar.  

«Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra", Mia Couto

 


Um jovem estudante universitário regressa à sua ilha-natal para participar no funeral de seu avô Mariano. Enquanto aguarda pela cerimónia é testemunha de estranhas visitações na forma de pessoas e de cartas que lhe chegam do outro lado do mundo. São revelações de um universo dominado por uma espiritualidade que ele vai reaprendendo. À medida que se apercebe desse universo frágil e ameaçado, redescobre uma outra história para a sua própria vida e para a da sua terra. A Pretexto do relato das extraordinárias peripécias que rodeiam o funeral, este novo romance de Mia Couto traduz, de uma forma a um tempo irónica e profundamente poética, a situação de conflito vivida por uma elite ambiciosa e culturalmente distanciada da maioria rural. Uma vez mais, a escrita de Mia Couto leva-nos para uma zona de fronteira entre diferentes racionalidades, onde perceções diversas do mundo se confrontam, dando conta do mosaico de culturas que é o seu país e das mudanças profundas que atravessam a sociedade moçambicana atual.

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   Eu avisei que estava curiosa por conhecer a obra de Mia Couto. Tal como em outras vezes, encontrei este livro em verão "pocket", por pouco mais de 6 euritos, e achei que era a forma ideal de começar. Li-o em pouco mais de 4 dias. Provavelmente não será dos melhores livros de Mia Couto, mas deu para aguçar a curiosidade. E acho giro, muito giro, essa tendência para inventar palavras que, mesmo sendo inventadas, fazem tanto sentido.

 

*E entretanto já li 3 livros enquanto "O rastro do Jaguar" avança devagar...não me está a prender a história...que vale não me pesa na consciência o que paguei por ele, já que o comprei por menos de 4 euros :)

"Aqueles que mais razão têm para chorar são os que não choram nunca" *

   O meu trabalho diário com idosos (e seus familiares) oferece-me, como já várias vezes aqui referi, imensas oportunidades de aprendizagem e, acima de tudo, inestimáveis lições de vida. Costumo dizer que eu lido com diversas facetas do sofrimento humano, mais ou menos pesado, e que é precisamente desse sofrimento que me alimento, já que, caso as pessoas não experimentassem um qualquer tipo do sofrimento, não precisavam de mim. Ora nisto do sofrimento, cada um vivencia-o à sua maneira e com uma intensidade mais ou menos adaptada à realidade: há os que por qualquer desvio à normalidade sofrem como se do fim do mundo se tratasse, há os que apresentam uma perfeita sintonia situação problema - sofrimento sentido e há os que, carregando em si uma dor maior que o peso do mundo são verdadeiras forças da natureza e exímios exemplos do optimismo e do "esta é vida é para ser vivida e não sofrida". Acima de tudo, é deste sofrimento desvalorizado - não no sentido do ignorado ou negado, mas antes no sentido de "é para mim e eu vou aguentar isto até ao fim, mas continuar a viver a minha vida -que eu me alimento e cresço. É com estas pessoas que eu aprendo a encarar a vida com a perspectiva que ela merece e é com esta força de viver e contrariar o que de mau nos acontece que eu aprendi a valorizar o que merece verdadeiramente ser valorizado, relativizando pequenas coisas, ninharias, nadas que não são nada e que só nos acinzentam os dias, que merecem sempre muito mais cor que o cinzento. E foi com aqueles que mais razões têm para chorar mas que nunca choram que eu aprendi a lidar positivamente com o que de verdadeiramente mau tem a vida, com as situações realmente complicadas que me tocam diretamente ou aos meus. É quase um "always look to the bright side of life" que cada vez mais se torna a única forma de passar e estar neste mundo com um sorriso na cara, apesar de todas as adversidades e contratempos. É que bem vistas as coisas, aquele lema do "coisa boa atrai coisa boa" é vitamina para a nossa alma e olhar a vida com um olhar positivo torna tudo mais leve e ultrapassável.

 

*Mia Couto, "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra"

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