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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Ainda os saldos

   Sendo certo que as grandes peças deste Outono Inverno já fugiram das lojas (e foi até difícil encontrá-las nos saldos), esta época de final de saldos é fantástica para fazermos aquelas compras de peças que não nos são realmente necessárias mas que acabam por ser sempre indispensáveis e uma mais valia no nosso guarda roupa. Então se tivermos a sorte de vestir tamanhos pequenos, temos aqui uma excelente oportunidade de fazermos boas compras de, por exemplo, peças para os dias mais quentes. Tenho conseguido fazer boas compras de blusas e calças neutras, portanto sem cores e padrões que passam rapidamente de moda, a preços fantásticos e já a pensar nos dias de sol e temperaturas agradáveis. Vale a pena espreitar as lojas (devo confessar que este ano os meus saldos foram única e exclusivamente zara, zara, zara...) e aproveitar as promoções de agora, que são,  estas sim, verdadeiras promoções!  

Leopard print

 

   Gosto de padrões leopardo. Não de todos, nem em todas as peças ou em todos os looks, pois acho que nos dá um ar demasiado pesado e envelhecido, mas bem conjugado é um padrão que me atrai bastante. Duas "leopard things" estão sem dúvida na minha wish list para os próximos meses (isto depois de ainda não ter recuperado do maior arrependimento destes saldos de Inverno, que foi ter encontrado um casacão de pêlo leopardo em XS e não o ter trazido porque o preço ainda não me agradava. Claro que foi o único momento em que o vi em tudo quanto é loja Zara e ainda hoje choro por ele): uns sapatos (tenho uns giríssimos mas que são altíssimos e nada práticos para o dia-a-dia) e umas calças (já babei por estas da nova colecção Zara). Também já pus os olhinhos numas blusas que não me desagradaram nada, embora seja um pouco mais reticente a esta peça com este padrão.

   E vocês, são umas leo-girls?

 

Dos radicalismos fora de moda no século XXI

   Por motivos profissionais, iniciei este mês uma formação na área da igualdade de género. Fui para lá extremamente motivada, já que me pareceu um tema interessante e totalmente desconhecido para mim do ponto de vista formativo. Ao fim de 3 sessões de formação já estou completamente desmotivada e desiludida, não tanto pelo tema, mas pela forma como este está a ser abordado. O que nós temos ali é uma clara acção dos movimentos feministas cujas ideias e princípios estão completamente desactualizadas e desadequadas. Reunido o grupo ideal, 100% feminino, temos ali um claro ataque ao sexo/género masculino que já está mais do que fora de moda. Pior que isso é que começamos a cair em radicalismos estúpidos e na nítida mania da perseguição, considerando que o mundo é completamente anti-mulher e que, no século XXI, continuamos a ser desprezadas e humilhadas em todas as esferas da sociedade. Caímos no ridiculo de realizar actividades como a de procurar em revistas e jornais actuais sinais evidentes do desprezo/diminuição/humilhação da mulher na sociedade (por exemplo na publicidade, nas próprias notícias publicadas ou, imagine-se!, nos cátalogos dos brinquedos) e a oerder mais de meia hora a discutir se o uso do masculino generalizador, como por exemplo em "Exmos. Srs" quando também se dirigem a senhoras ou "os nossos filhos" quando também existem filhas, é ou não redutor da importância da mulher.

   Eu, que em tudo na vida não sou de radicalismos e extremos, não me identifico com estas correntes e modos de pensar e ver a vida e as pessoas. Acho que, como numa grande maioria das situações, tudo é relativo e dependente das pessoas (há homens e Homens, assim como há mulheres e Mulheres, assim como há pessoas e Pessoas) que qeum adopta discursos tão acusatórios em relação aos homens e se consegue sentir menosprezada com ninharias só pode ter uma veia de frustração muito apurada e muita pouca realização pessoal, para além de estar provavelmente a conviver com gente pouco gente, ou a quem simplesmente não dá oportunidade. Sim, porque este sim é um grande problema das mulheres: vivemos tantos anos na sombra (inegável) e recalcadas por eles (verdade!) que agora que nos emancipamos (excelente!) e nos sentimos capazes de conquistar o mundo queremos ser as donas e senhoras do nosso mundo e fazer tudo, sem dar oportunidade ao outro (homem). Queremos tanto mostrar que somos capazes, que somos fantásticas e multifacetadas (e somos) que agarramo-nos ao lema do "tu vais fazer mal, ou lento, ou de uma forma que não me agrada e por isso deixa estar que eu faço e assim tenho a certeza que fica bem feito" e esquecemo-nos que tudo na vida é uma aprendizagem e que são necessários momentos que potenciem essas aprendizagens e é isso que muitos homens precisam: estimulação, uma boa dose de motivação e momentos de aprendizagem, com erros e asneiras incluídas.

   Pessoalmente, nunca me senti inferiorizada por ser mulher. Compreendo as batalhas do passado, reconheço-lhes a importância e foi graças a elas que hoje pude escrever estas palavras, por exemplo. O que eu não compreendo é que apesar de tantas vitórias, a mulher continue a sentir-se inferior e com necessidade de menosprezar e criticar o (bicho) homem até à exaustão, quase numa de "vou fazer aos outros o que eles me fizeram a mim". Os tempos mudaram, as pessoas mudaram, os homens mudaram, as mulheres mudaram. Mas continuam a ser seres individuais e com características próprias e estas generalizações e movimentos ao jeito de "vamos agora todas queimar soutiens" estão completamente demodé e só servem, isto sim, para diminuir a nossa condição e o nosso valor.

  

   Acrescentando só mais uma pouquinho de ironia há coisa, deu-me um certo gozo ver que, depois de um belo momento de descascadela nos homens e de discursos do tipo "nós não precisamos deles para nada e fazemos tudo muito melhor sem eles", a formadora, líder deste movimento de quase rebelião, perante uma dificuldade técnica com o pc e o datashow, tenha pegado de imediato no telemóvel para ligar a quem? Pois é, foi mesmo ao companheiro. Sem comentários. Deixo um grande sorriso irónico.

Os ex-milionários na miséria e os outros

   Destas reportagens que a sic emitiu sobre antigos jogadores de futebol que hoje estão na miséria vi apenas uma e bastou-me. Acredito que a intenção destas reportagens foi dupla: por um lado, apelar ao lado mais humano e de "ai coitadinho" dos portugueses, que comigo não funcionou, e segundo, e para mim principal, mostrar que nisto do ganhar muito dinheiro e se ser famoso o que é preciso é ter muito juizinho e uma vida regrada.

   O discurso do coitadinho comigo não colou precisamente porque o que faltou aqueles senhores foi juízo e sentido de realidade. Não posso sentir pena de quem ganhou milhares e mesmo sabendo que tinha uma "profissão de risco" com um prazo de validade muito curto, achou que era boa ideia levar uma vida de milionário sem pensar no amanhã, que logo se verá, afinal eu até sou mundialmente conhecido e alguma coisa se há-de arranjar. Pois é, meus senhores ex-milionários, a vida não é assim. Nós não somos super-heróis para sempre a não ser nos livros, e o dinheiro não caí das árvores nem se multiplica por milagre, muito menos estica até sempre quando achamos que por termos corrido atrás de uma bola durante uns anos e até sermos bons nisso, não vamos precisar de fazer mais nada o resto da vida.

   O ser humano não está formatado para lidar adaptativamente com a fartura. Quando estamos perante muito seja do que for, desorientamo-nos, confudimo-nos e agimos por impulso, no sentido de aproveitar ao máximo "aquela fartura". É isso que acontece com as mulheres que têm muita roupa (guilty me!) e que, por terem tanta e terem de fazer tantas opções, acabam por não saber o que vestir. É isso que acontece quando temos uma mesa cheia de pecados alimentares (olha o Natal, por exemplo) e acabamos por comer de tudo só por vício, só porque está ali e a comida é para ser comida. É isso que acontece quando temos muito que fazer e não sabemos para onde nos virar e acabamos por não fazer nada devidamente em condições. É isso que acontece quando temos muito amor para dar e, como é tanto e a vontade de o dar ainda mais, não o sabemos dosear. E é isso que acontece quando temos mais dinheiro do que seria expectável e simplesmente não sabemos onde e gastar, mas ele é tanto e permite-nos tanta coisa que o comum dos mortais não pode atingir que facilmente somos invadidos pela vontade de o gastar nisto, naquilo e em mais alguma coisa, que nos parece sempre a coisa ideal para gastar o nosso dinheiro.

   Não deve ser nada fácil ser-se "famoso" e ganhar muito dinheiro. Poderá até ser uma vida de sonho, mas é uma vida que implica um trabalho mental enorme, desgastante mesmo, e a fomentação de regras rígidas no que respeita à gestão da vida pessoal/pública e a despesas e economias. Se todos nós temos de pensar a longo-prazo e prever eventualidades futuras, quem tem profissões que se alimentam "do momento" ou "da fama" tem de tomar 1000 vezes mais precauções e nunca levantar completamente os pés da terra, ao ponto de julgar que o mundo vai pagar milhões pelo meu nome até ao fim dos tempos. Tudo tem o seu tempo e a fama tem normalmente um tempo bem mais curto que a vida.

   Se me querem vender o discurso do coitadinho, façam-no com alguém que ganhando muito ou pouco perdeu o emprego de forma injusta e inesperada e não porque atingiu o prazo de validade para aquela profissão. Se querem que eu me comova, façam-no com alguém que não tem rendimentos porque o dinheiro de uma vida regrada e controlada, mas interrompida, simplesmente acabou, porque ele não dura para sempre e viver, ainda que na miséria, não é de graça. Se querem mostrar que há miséria em Portugal usem os milhares e milhares de desempregados ou reformados que vivem com pouco ou nada e que sempre batalharam, dia após dia, para se manterem de pé.

   Se querem mostrar que efectivamente há muita gente que não tem juízo, famosos ou desconhecidos, então estiveram muito bem. Para que "os famosos" também serviam de exemplo para o que não se deve fazer na e desta vida.

Das praxes académicas: não são humilhação, vergonha, obrigação ou crime

   Este ano fará 11 anos que entrei para a universidade e 7 anos que de lá saí. Desses 4 anos de vida universitária, e embora o meu objectivo major sempre tenha sido o de tirar o meu cursinho o mais rapidamente e bem sucedido possível, as melhores recordações que guardo são as dos momentos de praxe académica. No meu ano de caloira não faltei a um dia de praxe e passei por todas as tradições. Vivi momentos verdadeiramente hilariantes, divertidos, loucos e inesquecíveis, que ainda hoje, quase 11 anos depois, ainda guardo claramente cá dentro. Nos anos seguintes mantive-me o mais academicamente activa possível e dei os meus toques na arte de praxar (apesar de não ter mesmo nascido para mandar). Nunca, em momento algum, me senti minimamento humilhada, envergonhada ou um "pau mandado" nas mãos de veteranos e doutores mauzões envoltos em capas negras e muito cheiro a álcool. Talvez porque a minha experiência foi muito positiva sempre aconselhei todos os caloiros a participarem nesta parte da vida académica, não tanto prque "é tradição", mas principalmente porque é uma excelente forma de nos enturmarmos, de criarmos relações, de conhecermos gente e de nos divertirmos, que torna toda a adaptação ao mundo académico muito mais simples e calorosa. Eu, que ingressei completamente sozinha naquela universidade, e que nos meus doces 17 anos caí de para quedas num local completamente desconhecido, considero que a praxe (mas não só, atenção!) foi fundamental para a minha integração e para o estabelecimento das primeiras relações que, directa ou indirectamente, me conduziram a relações de amizade mais profunda para os anos seguintes.

   É por tudo isto que sempre que ouço alguém, nomeadamente os órgãos de comunicação social, apontar um dedo acusatório e quase incriminatório a esta tradição académica, não consigo deixar de achar rídiculo e completamente sem fundamento tais acusações. O meu ponto de vista é muito simples: nisto das praxes, como em tudo na vida, cada um faz o que quer e vai até onde se sente à vontade para ir. Se algum "doutor" mais aparvalhado diz para fazer determinada coisa despropositada e inadequado e eu o faço, eu sou o único responsável por isso. O ser humano vai até onde o outro o deixa ir. Só sou um "pau-mandado" nas mãos de alguém, seja em praxes seja no que for, o defeito é meu e não de quem gosta de mandar e encontra quem lhe obedeça. Dizer "não, isso eu não faço" é talvez um dos maiores sinais de maturidade e personalidade e dizer "não" numa praxe académica é totalmente aceitável. No meu percurso não me recordo se alguma vez o fiz, pois não me recordo de algum momento mais embaraçoso ou em que me tenha sentido mal com o que se estava a passar (e acreditem, eu não sou aventureira). Não me recordo de ser obrigada a fazer seja o que for ou de alguma vez me terem faltado ao respeito ou ofendido...fiz o que quis, quando quis e como quis. Diverti-me. Aproveitei. E ganhei momentos que se transformaram em memórias significativas.

   Não apontem o dedo à praxe quando as coisas correm mal.Questionem antes a personalidade de cada, praxados e praxantes, e até que ponto esta as empurra para determinados comportamentos. Independentemente do que tenha acontecido naquela noite da tragédia do Meco, independentemente de as vítimas estarem ou não em praxe, independentemente de as coisas correrem mal ou bem, existe uma vontade individual que se transforma em realidade. E se alguém me diz "vai ali à beira-mar e molha-te" (é uma suposição, atenção!) e eu vou, a responsabilidade é toda minha. Mesmo que a "ordem" tenha sido inconveniente e arriscada, houve uma parte que obdeceu e que é a única que pode ser responsabilizada.

   Paz para quem partiu. Mas parem de apontar dedos acusatórios.

Expozoo '14

   

Exponor. Para a esquerda tinhamos a Exponoivos, para a direita a Expozoo. Não houve qualquer hesitação.  Facilmente troco um vestido de princesa por bichinhos peludos. Uma tarde muito bem passada entre cães, gatos e outros bichinhos que me enchem o coração. 

África

E é por isso, afinal, que aqui estamos. Para ver de perto um mundo que deixou de ser o nosso há muito tempo atrás e onde hoje somos intrusos, desfasados das leis que outrora também nos regiam, dessas coisas iniciais que então partilhávamos com os bichos: beber antes da noite e ao nascer do dia, caçar durante o dia, proteger as crias, defender o território que é a nossa cas, e afastarmo-nos para morrer sozinhos, quando a inevitabilidade da velhice nos torna apenas um fardo inútil para os outros. E vimos então a África em aviões pressurizados, sobrevoamos num repente as distâncias que antes percorriamos caminhando durante semanas ou meses, dormimos em bungalows confortáveis, assentes sobre estacas para nos porem fora do alcance dos perigos, comemos um pequeno-almoço de luxo que nos espera depois de ir ver se as feras ainda o são verdadeiramente e levamos tudo de volta para casa, arquivado em milhares de fotografias, em cadernos de viagem, em bugigangas feitas de osso de rinoceronte ou, os mais atentos, na memória que não partilhamos, porque não é partilhável, de um pôr-do-sol vermelho de fogo na direcção dos elefantes, de uma manhã afogada num nevoeiro que só os ruídos do mato atravessam, de um frio absurdo, desumano, incompreensível, de uma alegria absurda, incompreensíve. Desumana.

«Ukuhamba», Miguel Sousa Tavares

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