Reflexão de final de semana
Percebemos que andamos demasiado focados no trabalho pelo número reduzido de páginas de um bom livro que lemos durante a última semana.
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Percebemos que andamos demasiado focados no trabalho pelo número reduzido de páginas de um bom livro que lemos durante a última semana.
«E por isso, fotografamos. Porque talvez assim as coisas não morram - como todas as coisas devem morrer, naturalmente - e fiquem, sei lá eu, suspensas para sempre numa folha de papel onde imprimimos um instante que, todavia, já sabiamos que nunca mais voltaria.»
"Ukuhamba", Miguel Sousa Tavares
O que me parece a mim é que temos na Assembleia da Républica um número significativo de cobardes que quando a questão não lhes agrada ou "pode dar para o torto" gostam de passar a batata quente para o povo numa de "vós decidis e se correr mal não reclamais porque foi o que vós descidistes".
Sinceramente acho que é vergonhoso e uma clara forma de discriminação o simples facto de se colocar a hipótese de um referendo para determinar liberdades em questões como esta da adopção por casais homossexuais, do casamento homossexual ou até da interrupção voluntária da gravidez. Se pararmos um segundinho para pensar vamos perceber que o que nos estão a pedir, em todas estas situações, é para sermos nós a decidirmos sobre a vida privada de cada um, sobre questões pessoais de gente que nem sequer conhecemos. Não há liberdade nisto, não há democracia, não há cidadania, não há século XXI. Há pessoas primitivas que julgam que a melhor solução passa por acabar com a liberdade individual de cada um e passar a gestão da vida pessoal, intíma, sentimental, familiar...de cada um para o domínio geral, para o povo. "Eu só caso se o meu povo achar que eu posso casar". "Nós só vamos ser pais/mães se o meu povo achar que nós o podemos ser", "eu só vou poder decidir sobre o que fazer com o meu corpo e com a minha vida se o meu povo me der essa liberdade de decisão"...REsumindo: "Eu só vou poder viver uma vida plena, realizada e feliz se o país achar que eu o posso fazer".
Não, eu não me sinto feliz por o meu país me "dar ouvidos", porque o que o meu país quer é que eu decida, determine, sobre vidas privadas que não a minha. E o que eu gostava é que todos nós, que somos chamados a decidir, passassemos um dia pela experiência de ver a nossa vida em suspenso pela decisão de um povo. Quantos de nós iriam aguentar?
Não ligo a futebol, como tal estas coisas de me pronunciar sobre o desempenho dos jogadores em campo passa-me completamente ao lado. Mas mesmo não gostando de futebol, há jogadores, ou antes pessoas que jogam futebol (porque é a pessoa que interessa) que não nos são indeferentes. Cristiano Ronaldo é uma dessas pessoas, não andasse ele sempre na boca do mundo. Todos nós temos uma opinião acerca do Cristiano Ronaldo, pessoa e jogador, ou os dois juntos. Todos nós julgamos conhecer o Cristiano Ronaldo, que ainda por cima é português como nós. E acima de tudo, todos nós já emitimos juízos sobre o Cristiano Ronaldo. Eu também já fiz tudo isto. Já andei entre o "azeiteiro", piroso, arrogante, nariz empinado, deve ter a mania, nem sabe falar, qualquer dia não aguenta tanto ouro, egocêntrico, vaidoso, exibicionista...a verdade é que isto não interessa para nada! Cristiano Ronaldo é, desde ontem, oficialmente, e pela segunda vez, o melhor do mundo. Se é merecido ou não, não comento, nem me interessa. Mas se há coisa que este prémio fez por Ronaldo foi humanizá-lo e torná-lo mais pessoa e menos jogador. Cristiano Ronaldo chorou o choro da vitória. E chorou de forma sentida e verdadeira. Talvez pela primeira vez, vi transparência em Ronaldo. Ou vi Ronaldo, apenas. E isso ficou-lhe melhor que o prémio. Porque o aproximou das pessoas. Porque mostrou que ele, que de facto tem a arrogância necessária para vencer num mundo competitivo como o nosso, é feito da raça dos ambiciosos que tropeçam mas não caiem, que se alimentam da inveja e do ódio dos outros, que vingam cada derrota com uma vitória ainda maior na prova seguinte e que um dia sonharam ser o melhor do mundo e já o são (e por duas vezes) e continuam a sonhar chegar mais longe apenas com o seu esforço, empenho e dedicação.
Não é que tenha passado a adorar o Cristiano Ronaldo, ou que vá sequer tornar-me fã do rapaz. Mas ontem tive de dar o braço a torçer. Não pelo prémio que recebeu, mas porque vi que ele é feito de carne e osso e lágrimas e é o melhor do mundo.
Depois desta, aponto já duas personalidades que gostava de ver em lágrimas sinceras, num acto de humanização: José Mourinho e José Socrates :)
Dia 7 de Fevereiro, mais um jantar de empiriquitados para comemoração do 50o aniversário da nossa instituição, desta feita no palácio da bolsa.
A questão é a mesma de sempre: o que vestir? Duas incursões ao shopping em busca do look ideal deixaram-me completamente frustrada... ninguém merece tanta festa!
Quando James Bowen encontrou um gato alaranjado nas escadas do prédio onde vive, não fazia ideia do quanto a sua vida iria mudar.James e o gato Bob têm vivido uma experiência excecional. No seu livro anterior intitulado A minha história com Bob, acompanhámos os primeiros passos de uma amizade improvável e que veio a revelar-se determinante na recuperação de James. Agora é altura de reaprender a viver no mundo real. É raro o dia em que Bob não oferece momentos de inteligência, coragem e humor, chamando a atenção do seu amigo James para a importância da amizade, lealdade e de quão importante é ser feliz. James revela-nos como sente que Bob tem sido o seu protetor em momentos difíceis, como quando esteve doente ou foi ameaçado de morte. Neste segundo livro, James Bowen oferece-nos um relato emotivo, evocando momentos de alegria intercalados com episódios de tristeza e demonstrando que num mundo tão hostil continua a haver espaço para a esperança.
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Um livro que não faz de todo o meu género literário. Li o primeiro livro do Bob o ano passado também por esta altura e oferecido pela mesma pessoa que este ano me ofereceu a "continuação". Quem me conhece sabe que eu adoro gatos e que raramente resisto a uma bela história de ou com gatos. Foi o que aconteceu com o primeiro livro do Bob que, apesar de tudo, não era um grande livro com uma grande história de gatos. Este segundo é um bocadinho "mais do mesmo" e uma clara tentativa de fazer "render o peixe", ou neste caso "de fazer render o gato". Ainda assim é um gato a personagem principal e à partida estamos perante factos reais, o que acaba por compensar a leitura.
Um livro apenas para quem gosta de gatos e consegue, de vez em quando, abrir um espacinho para histórias simples e escritas por gente que não percebe muito disto.
Ondas gigantes que arrastam gentes e terras.
Gente destemida que acha piada a isso e se postra em frente ao mar à espera não sei se da melhor foto se da morte mais estúpida.
Granizo do tamanho de bolas de ping pong que partem vidros e amassam carros.
Temperaturas que oscilam entre os 50 graus negativos nos EUA e os 50 graus (positivos!) no Brasiu.
Tempestades de neve.
Mortes de lendas do futebol português que arrasam um povo e o leva às lágrimas e à invasão despropositada de um cemitério.
Meios de comunicação social que transmitem uma única notícia nos seus noticiários durante 2 dias, ridicularizando um acontecimento tão sério como a perda de uma vida.
...
2014 começa de uma forma algo estranha e preocupante...
Para quem, como eu, tem a possibilidade de fazer diariamente um trabalho semelhante a este, que é tão, mas tão, doloroso mas enriquecedor, este artigo fará todo o sentido:
«Está com 73 anos. Só com duas muletas consegue andar de um lado para o outro. “Enquanto eu puder, entretenho-me com ele.” Está confinado à casa há uma meia dúzia de anos. A mulher dorme na cama ao lado. De três em três horas, acorda, mexe-o. Já nem precisa de despertador.
(...)
A ouvi-la está um par de enfermeiros do Magalhães Lemos, o hospital psiquiátrico da região norte. Integram a equipa de apoio domiciliário encarregada de visitar uns 400 doentes que já não conseguem vir ao serviço ou que se recusam a fazê-lo. De segunda a sexta saem dois carros, cada um com dois técnicos: dois enfermeiros, um enfermeiro e um assistente social ou um enfermeiro e um psiquiatra.
(...)
Sobra-lhes empatia. Não lhes compete pôr sondas, trocar pensos, dar banhos. Isso é tarefa dos cuidados primários. Estão incumbidos de ensinar quem cuida a cuidar e a cuidar-se, não vá o stress, a ansiedade, o desgaste levar à depressão ou ao colapso, gerar negligência, mau trato ou abandono.
(...)
O cuidador faz parte do plano terapêutico. Assume-se que sem ele nada se pode fazer. É chamado a uma consulta específica. A sós, num pequeno gabinete, um enfermeiro explica-lhe o que é a doença, como progride, como lidar com ela.
Pequenos passos podem evitar grandes stresses. Tirar os tapetes da casa, trocar os chinelos pelas pantufas, fechar bem as embalagens de detergente, exemplificara a psiquiatra Rosa Encarnação. A visita domiciliária reforça essas lições e acrescenta outras, conforme a doença evolui. Não gosta de água? Talvez goste de gelatina. Comer um prato de gelatina é quase como beber um copo de água. A gelatina tem proteínas. Se as proteínas não estiverem repostas, vai ferir-se mais.
(...)
Não é por acaso que a equipa de apoio domiciliário é multidisciplinar, elucidara Rosa Encarnação. É preciso olhar para várias áreas, porque estes doentes já não se servem das palavras, exprimem-se através de alterações do sono, agitação, agressividade e isso tem de ser compreendido.
(...)
Há muitas famílias desavindas e, no meio delas, idosos incapazes de se amanharem sozinhos. A equipa do Magalhães Lemos, por vezes, assume o papel de árbitro. Uns queixam-se: “A minha irmã não faz nada, fica tudo para mim.” E a equipa tem de chamar a outra parte, de lembrar que “seria bom partilhar” tarefas.
Acontece, no princípio, alguém até querer assumir a empreitada por inteiro. “A pessoa não está a ver o filme todo”, nota Rosa Encarnação. A sobrecarga pode ser esmagadora. “Temos de dar tempo às pessoas para perceberem que não aguentam. Para ficarem bem consigo, algumas têm de tentar.”»
O artigo completo aqui: http://www.publico.pt/n1618424