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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

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Sê um construtor de momentos inesquecíveis, de momentos que vais querer, tal como quiseste vivê-los, recordar. Momentos que vais querer recordar incansavelmente, demencialmente. 

(...)

Sê, todos os dias, o dia que nunca vais esquecer  - o dia que vais para sempre recordar. 

Pedro Chagas Freitas, "Eu Sou Deus"

Porque há 70 anos, o holocausto foi uma realidade do homem para o homem

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 Mas para onde vamos, não sabemos. Conseguiremos talvez sobreviver às doenças e escapar às selecções, talvez também resistir ao trabalho e à fome que nos consomem: e depois? Aqui, momentaneamente afastados das blasfémias e das violências, podemos voltar a nós próprios e meditar, e é então que se torna claro que não teremos regresso. Viajámos até aqui nos vagões selados; vimos partir em direcção ao nada as nossas mulheres e as nossas crianças; reduzidos a escravos, marchamos mil vezes para trás e para diante, numa fadiga muda, já apagados nas almas antes da morte anónima. Não temos regresso. Ninguém deve sair daqui, pois poderia levar para o mundo, juntamente com a marca gravada na carne, a terrível notícia do que, em Auschtwitz, o homem teve coragem de fazer ao homem.”

Primo Levi, "Se isto é um homem"

 

«A vida no céu», José Eduardo Agualusa

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A Vida no Céu é um romance distópico, num futuro que se segue ao Grande Desastre, e em que o Mundo deixou de ser onde e como o conhecemos. Encontrando-se o globo terrestre inteiramente coberto por água, e a temperatura, à superfície, intolerável, restou ao Homem subir aos céus. Mas essa ascensão é literal (não é alusiva ou simbólica): a Humanidade, reduzida agora a um par de milhões de pessoas, habita aldeias suspensas e cidades flutuantes - dirigíveis gigantescos denominados Tóquio, Xangai ou São Paulo -, e os mais pobres navegam o ar em pequenas balsas rudimentares. Carlos Benjamim Moco é o narrador da história. Tem 16 anos e nasceu numa aldeia, Luanda, que junta mais de cem balsas. O desaparecimento do pai fará com que Benjamim decida partir à sua procura.

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   Nunca tinha lido José Eduardo Agualusa, mas este livro já há algum tempo que despertava a minha curiosidade. A semana passada encontrei-o com 40% e em 5 dias acabei com ele. Gostei, gostei bastante. É um livro cheio de inocência, algo infantil até, mas um livro que se lê tão bem e que me deixou curiosa com este escritor. 

Aquela vozinha interior

   Todos nós temos a nossa voz interna. Há quem lhe chame pensamento, mas para mim são coisas diferentes. Refiro-me àquela vozinha que nos acompanha sempre e vai fazendo uma espécie de relato da vida; aquela voz que diz cá dentro o que não temos coragem ou oportunidade ou vontade de pôr cá fora. Aquela voz que é, ao mesmo tempo, a nossa melhor amigo, porque nos acompanha e dialoga connosco próprios, e a nossa pior inimiga, porque nos consciencializa do que queremos ignorar ou simplesmente martela sempre na mesma coisa. 

   A minha voz interior acompanha-me sempre. Na verdade, por vezes, estabeleço verdadeiros diálogos mais ou menos saudáveis, com ela. Os menos saudáveis são aqueles que acontecem numa espécie de loop, quando o nosso pensamento não consegue sair daquele caminho e a nossa vozinha interior nos massacra ainda mais. Em quantas noites de insónia isto já não nos aconteceu? Mas a maior parte das vezes ela é importante e, de certa forma, ajuda-nos a descomprimir quando não temos ninguém que nos possa ouvir. 

   Há poucos dias, enquanto caminhava por uma rua movimentada do Porto, era seguida por uma mulher que, claramente, não conseguia conter a sua vozinha. E era ouvi-la a mandar vir com o patrão, com o fulaninho que devia ter vindo até ao meio dia e às 17h ainda não tinha aparecido, com a juventude que passava do outro lado da rua aos berros, a dizer coisas como "eu até gosto delas mas não tinha paciência para aturar uma o dia todo" depois de passar por um grupo de crianças, ou "tudo cheio de carros, cada vez há mais carros na rua, não percebo", entre outras frases que qualquer um de nós também já disse, por dentro e para dentro. 

   E eu pus-me a pensar: o que seria do mundo se todos nós fossemos como aquela mulher? 

   

Sê fácil

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Manda uma cabeçada à Mike Tyson nas lérias que te ensinam a não seres fácil perante quem amas. Se amas: sê fácil. Abre os braços, abre as pernas, abre a boca: abre-te para quem amas. Se amas: não compliques. Se queres um beijo, beija; se queres um abraço, abraça; se queres um orgasmo, despe e sala e dança e sua e geme. Se queres amar: ama. Não olhes a convenções. Prefere as pulsões. Prefere os corações, as animações - até mesmo os neutrões. Liga-te à eletricidade, liga-te à corrente: sê a tua corrente. Esquece as cirrentes de pensamento que te fecham as portas, esquece as correntes de preconceitos que te ofuscam o desejo, esquece as correntes de medos que te castram o sentir. Se amas: sê fácil. 

Pedro Chagas Freitas, "Eu sou Deus"

Coisas da boca

   

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A parte boa de termos esta mania da alimentação saudável e de não comermos isto e aquilo porque faz mal a aquilo e a isto é que quando vamos a cometer esses ditos pecados alimentares simplesmente essas coisas não nos sabem bem, ou causam-nos mesmo alguns desconfortos. 

   Assim de repente: eu não como fritos; as duas últimas vezes em que os comi, em formato batata frita e filete de pescada, estive o resto do dia a águas com gás e medicação para as dores de estômago e de cabeça, de maneira que julgo que foi a definitiva sentença de morte dos fritos. As duas últimas vezes em que fui jantar fora com a suposta intenção de comer uma francesinha, cheguei ao restaurante e descobri que facilmente as trocava por um prato de peixe ou de massa. Há pouco tempo comi duas bolachas Maria (há quantos meses não tocava numa?) do meu afilhado e perguntei "isto é Maria?", simplesmente porque não me estavam a saber bem e eu devorava pacotes destas. No Domingo dei uma trinca na nata que o meu namorado comia com o maior gosto do mundo e o meu pensamento automático foi "ui, que enjoativo"... 

   Começo a temer o dia em que vou ter uma reacção do género ao comer gelados, mas o certo é que o nosso organismo (ou o nosso cérebro) se habitua a determinado tipo de alimentação e começa a ser difícil fugie a essa regra, o que vem demonstrar que realmente é tudo uma questão de hábito e não de sacrifício, até aquele dia em que tudo se torna natural em nós. 

   Boas comidas!

Today, this made my day!

B. (10 anos), hoje, para mim: "As minhas princesas favoritas são, em primeira a Ariel, em segundo a Rapunzel e em terceiro... és tu".

This made my day!

Tão bom quando a nossa profissão nos permite ter o melhor de dois mundos tão distantes, mas afinal tão semelhantes: o mundo daqueles que estão a começar a vida e o daqueles que estão na contagem final...

«A melodia do amor», Lesley Pearse

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Liverpool, 1893. Os sonhos de Beth são desfeitos quando ela, o irmão Sam e a irmã mais nova, Molly, ficam órfãos. As suas vidas, até então tranquilas e seguras, sofrem uma dramática reviravolta. Para escapar a um futuro de miséria e servidão, Sam e Beth decidem arriscar tudo, atravessar o Atlântico e partir à conquista do sonho americano. Mas Molly é demasiado pequena para os acompanhar e os irmãos vêem-se obrigados a tomar uma decisão que os marcará para sempre: deixá-la em Inglaterra, a cargo de uma família adoptiva.
A bordo do navio para Nova Iorque não faltam vigaristas e trapaceiros, mas o talento de Beth com o violino conquista-lhe a alcunha de Cigana, a amizade de Theo, um carismático jogador de cartas, e do perspicaz Jack. Juntos, os jovens vão começar de novo num país onde todos os sonhos são possíveis.
Para a romântica Beth, esta será a maior aventura da sua vida. Conseguirá a Cigana voltar a encontrar um verdadeiro lar?

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   Já aqui disse várias vezes que Lesley Pearse é das poucas escritoras "de romances" que leio. Conheço toda a sua obra (nunca comprei propositadamente um dos seus livros, mas acabo sempre por os encontrar em promoção e aí não escapam) e dá-me sempre imenso prazer lê-los. É aquela mistura de romance com fundamentação histórica que nos ensina sempre qualquer coisa (neste livro ficamos sobretudo a conhecer os primórdios da corrida ao ouro nos anos de 1890), o facto de as suas histórias se passarem no século passado ou XIX, o que mais uma vez é uma oportunidade de aprendizagem e a personagem principal, que é sempre uma mulher cheia de garra, neste caso Beth, que vai viver muitas aventuras por esse mundo fora em busca de uma vida melhor.

   Mais uma vez, não desilude.

Sai da fossa

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Se estás na merda, se alguém te magoou, se alguém te abandonou, se perdeste alguém que amas: não caias na treta de que é importante digerires a cena, na bullshit de que é decisivo que assimiles o que aconteceu antes de avançares. Manda encher de moscas os que te dizem isso. E sai. Sai da fossa. Lava-te bem lavadinho, veste-te bem vestidinho. E sai. Sai para a rua, para o mundo. Sai para a vida. Vai viver – antes de que sejas tu o que se perdeu e não aquele que ficou sem aquele ou aquela que se perdeu. Vai. Sai de ti, sai para lá – e sai de cá. Cá, o buraco, a depressão, o “chora que faz bem”, o “sofrer é bom para crescer” que vão dar banho ao cão. Eles que vão sofrer e que te deixem abdicar de sofrer como eles julgam que deves sofrer. Sofrer é sempre – por mais acompanhado que estejas, por mais por fora que estejas – a sós. És tu e o teu sofrimento. Tu e o que te dói. E o que te dói tem de ser, em ti, suportável: vivível. E o vivível, em alguns momentos, exige movimento: exige manobras de diversão. Exige que mandes bugiar a fossa, a necessidade de reflexão – e que te obrigues a estar em pressão: em de pressão. De pressão de agires, de fazeres, de correres, de saltares, de dançares, de cantares. Caga na fossa, na depressão, na música que te lembra o que foi bom e já não existe, nas memórias, nas fotografias, nas lágrimas que não param de correr. Corre, isso sim, tu. Corre para fora de ti – mesmo que nunca deixes de, com isso, mergulhares em ti. Esquece os paleios das psicochachadas da auto-descoberta, da auto-elevação, da importância das pedras no caminho. As pedras no teu caminho servem, mais do que para fazer um castelo, para atirares aos cabrões ou cabronas que te queriam ver fechado numa cave a chorar que nem um bebé abandonado.

Pedro Chagas Freitas, "Eu Sou Deus"

 

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