Todos nós temos a nossa voz interna. Há quem lhe chame pensamento, mas para mim são coisas diferentes. Refiro-me àquela vozinha que nos acompanha sempre e vai fazendo uma espécie de relato da vida; aquela voz que diz cá dentro o que não temos coragem ou oportunidade ou vontade de pôr cá fora. Aquela voz que é, ao mesmo tempo, a nossa melhor amigo, porque nos acompanha e dialoga connosco próprios, e a nossa pior inimiga, porque nos consciencializa do que queremos ignorar ou simplesmente martela sempre na mesma coisa.
A minha voz interior acompanha-me sempre. Na verdade, por vezes, estabeleço verdadeiros diálogos mais ou menos saudáveis, com ela. Os menos saudáveis são aqueles que acontecem numa espécie de loop, quando o nosso pensamento não consegue sair daquele caminho e a nossa vozinha interior nos massacra ainda mais. Em quantas noites de insónia isto já não nos aconteceu? Mas a maior parte das vezes ela é importante e, de certa forma, ajuda-nos a descomprimir quando não temos ninguém que nos possa ouvir.
Há poucos dias, enquanto caminhava por uma rua movimentada do Porto, era seguida por uma mulher que, claramente, não conseguia conter a sua vozinha. E era ouvi-la a mandar vir com o patrão, com o fulaninho que devia ter vindo até ao meio dia e às 17h ainda não tinha aparecido, com a juventude que passava do outro lado da rua aos berros, a dizer coisas como "eu até gosto delas mas não tinha paciência para aturar uma o dia todo" depois de passar por um grupo de crianças, ou "tudo cheio de carros, cada vez há mais carros na rua, não percebo", entre outras frases que qualquer um de nós também já disse, por dentro e para dentro.
E eu pus-me a pensar: o que seria do mundo se todos nós fossemos como aquela mulher?