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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Cheiros com vida

Todos-os-Cheiros-Me-Levam-a-Voce-Um-Sentimento-Por

Há cheiros que nos fazem viajar. Ou que nos fazem sentir estranhamente bem. Quase lhes podemos chamar os nossos "cheiros preferidos". Ontem, a caminho do trabalho, e por sugestão da rádio comercial, dei por mim a pensar nos meus:

  • o cheiro que o protector solar deixa no corpo depois de um dia de praia;
  • o cheiro a sopa enquanto está a ser cozinhada;
  • o cheiro a chocolate derretido;
  • o cheiro a livros novos (e por arrasto, o cheiro da Feira do Livro do Porto, quando esta era no Palácio de Cristal);
  • o cheiro das papelarias;
  • o cheiro das drogarias;
  • o cheiro a frango assado com limão ao Domingo
  • o cheiro a pão quente;
  • o meu cheiro a Natal, ou seja, a mistura de cheiros do bacalhau com batatas e hortaliças a cozer, com o cheiro da canela dos doces;
  • o cheiro do final dos dias de calor, quando às 20h ainda é dia e está quente; 
  • o cheiro que fica na rua e que vem da lenha a arder numa lareira num dia de inverno;

E os vossos cheiros, quais são? 

What makes you happy?

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   Ontem estive a ver o filme "Hector and the search for hapiness". Basicamente, trata-se de um psiquiatra que, cansado das rotinas e das infelicidades recorrentes dos seus pacientes, a quem sente que já não está a ajudar por ser ele próprio incapaz de saber o que o faz feliz, parte em busca da felicidade, ou melhor dizendo, parte na descoberta daquilo que faz as pessoas felizes. Não é um grande filme. Não gostei particularmente, mas achei curioso o tema. 

   Afinal, o que é a felicidade ou que nos faz felizes? Na sua viagem, o Hector descobriu que (estes princípios são enumerados ao longo do filme):

  1. Fazer comparações pode prejudicar a nossa felicidade;
  2. Muitas pessoas pensam que ser feliz é ser mais rico ou mais importante que os outros;
  3. Muitas pessoas só conseguem imaginar a felicidade no futuro;
  4. A felicidade é a liberdade de poder escolher amar mais do que uma pessoa ao mesmo tempo;
  5. Às vezes a felicidade é não conhecer a história completa;
  6. Evitar a tristeza não é o caminho para a felicidade;
  7. Felicidade é seguir a nossa vocação.
  8. Felicidade é ser amado por aquilo que somos;
  9. O medo impede a felicidade;
  10. Felicidade é sentir-se inteiramente vivo;
  11. Saber ouvir é saber amar;
  12. A felicidade é saber comemorar.
  13. Todos nós temos a obrigação de ser felizes. 

   Mais do que na felicidade, eu acredito e procuro momentos felizes. Acho a felicidade é um estado demasiado perfeito para ser humana e permanentemente possível. O que me faz feliz são coisas, sabores, cheiros, pessoas, momentos... que me proporcionam emoções. Procurar a felicidade é demasiado mítico, demasiado fairy tail. Procurar e viver (ou ser surpreendida) por momentos felizes é muito mais simples, muito mais real e muito mais deste mundo. E acima de tudo, não coloca a fasquia demasiado alta, e fasquias altas são as maiores inimigas da felicidade porque andam de mão dada com a ilusão e a possibilidade iminente de falharmos. 

   Ser feliz é muito mais do que 13 princípios. Ser feliz nunca poderá ser reduzido a 13 ou 130 princípios, porque a felicidade não é permanente, não é um estado; é construida diariamente, momento a momento, adquirida, conquistada, vivida. E viver momentos felizes (e proporcionar momentos felizes aos outros) deverá ser a nossa maior missão nesta vida. 

   E como diz o outro "façam o favor de serem felizes!"

Coisas que me fazem uma certa confusão...

... que o nosso sistema nacional de saúde não tenha dinheiro para desfibrilhadores nos hospitais e morra gente à custa disso;

...não tenha dinheiro para contratar mais profissionais de saúde e morra gente por causa disso;

...não tenha dinheiro para adquirir determinados instrumentos cirurgicos, ficando por isso algumas cirurgias por reallizar, e morra gente por causa disso;

... não tenha dinheiro para comprar um medicamento fundamental para o tratamento de certas doenças e morra gente por causa disso;

... não tenha dinheiro para melhor o nosso serviço de urgência dos hospitais e das ruas e morra gente por causa disso;

... não tenha dinheiro para tratamentos/terapias específicas (psicologia, terapia da fala, terapia ocupacional, entre outras) e haja gente a sofrer por causa disso;

MAS...

... que este mesmo sistema nacional de saúde, que não tem dinheiro para salvar vidas, tenha dinheiro para comparticipar cirurgias puramente egocêntrico-caprichosas-vaidosas para, por exemplo, colocação de banda gástrica a quem precisa é de aprender a fechar a boquinha e suar umas camisolas ou redução de gordurinhas localizadas (e são mesmo gordurinhas muito localizadinhas) que precisam é de trabalhinho e não de facas. 

   Esperemos que estas pessoas nunca precisem do dinheiro que o sistema nacional de saúde gastou a torná-las mais felizes sem se esforçarem para algum dos exemplos citados antes do MAS. 

And my oscar goes to...

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Fazendo já aqui a minha noite de óscares, porque o sono já começa a pesar muito, melhor actor e melhor actriz atribuidos indiscutivelmente e sem qualquer concorrência possível, especialmente no caso do melhor actor.

Quanto ao melhor filme, tenho as minhas dúvidas, pois nenhum deles me arrebatou o coração e nenhum deles me pareceu nenhuma pérola do cinema que mereça ser visto e revisto (mas isto sou eu a falar, que detestei Birdman e os Jogos de Imitação!). Se me perguntarei qual gostei mais de ver dos vários candidatos, coloco quatro na lista: A Teoria de Tudo (um grande filme, sim, mas que é uma biografia cinematográfica e uma adaptação de um livro, por isso nunca um candidato real a um óscar de melhor filme), Sniper Americano (humanizou-se a guerra mais uma vez, deu-se-lhe uma cara bonita, Bradley Cooper está muito bem mas excessivamente inchado, mas é mais um que não agarra um prémio, porque filmes de guerra há e haverá sempre aos montes), Selma (eu gostei, vi bons desempenhos, é uma luta real, é mais uma vergonha do ser humano, é mais uma história de um grande homem, é sobre um tema que me é muito querido, mas não tem força para vencer) e Boyhood. Este último parece-me ser o candidato mais provável ao óscar de melhor filme pela originalidade e pela naturalidade quase em modo documentário sobre a vida real. 

Sejam quais forem as decisões, estes serão os meus vencedores. 

Histórias com gente dentro (e solidão, muita solidão)...

   Muito do meu trabalho (cerca de 90%) é feito literalmente no terreno, na rua, e passa por realizar visitas domiciliárias aos nossos idosos e às suas famílias, especialmente os casos de maior isolamento social. Atendendo à localização geográfica dos nossos centros sociais, começo a conhecer os bairros sociais do Porto quase tão bem como a minha casa. E apesar de tudo o que se diz estes bairros, o que há em excesso neles é, e isto é um facto, uma população envelhecida e só. Durante a minha manhã de visitas da passada sexta-feira, ia eu em passo apressado para tentar "cumprir a agenda" e fugir da chuva, e ouço um "menina". Facilmente encontrei a origem: uma idosa a acenar-me, ainda relativamente distante de mim, com duas cartas na mão e um "ajude-me aqui a ver para quem são estas cartas e de onde vêm". Fui ao seu encontro e o esclarecimento que pediu sobre as cartas foi apenas o rastilho para que a idosa me expusesse toda a sua vida. De solidão, claro! A D. Custódia (assim mesmo, nome completo, porque quero que a D. Custódia seja uma pessoa e não apenas uma letra), que nunca me tinha visto, desabafou comigo, ali na rua fria e molhada, as suas preocupações, as suas tristezas, a sua solidão, a sua velhice. Quando lhe expliquei quem era, o que fazia e onde trabalhava e que até podia ter uma solução para atenuar a sua solidão, a D. Custódia deu a habitual resposta "para um centro de dia? Mas eu não quero deixar a minha casinha". E de imediato me tentou empurrar para a sua casa e me convidou para entrar, o que eu não fiz com muito custo, mas não me pareceu uma atitude correcta. Na hora da despedida, a D. Custódia abriu os braços e saiu-se com um "oh minha rica menina, dê-me um beijinho e um abraço". E abraçou-me. Com força, com muita força. Com a força dos que não estão habituados a ter os abraços que precisam. Ainda houve tempo para um "se anda a visitar os velhos que vivem sozinhos, quando quiser venha a minha casa. Eu ia gostar tanto." 

   Eu também ia gostar tanto de visitar a D. Custódia. Mas sobretudo, ia gostar de ver e viver num mundo onde estas situações não seriam tão frequentes. Até lá, vou continuando a fazer a minha parte e a reduzir a solidão dos meus. 

«A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário IKEA», Romain Puértolas

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jatashatru Larash Patel, faquir de profissão, que vive de expedientes e truques de vão de escada, acorda certa manhã decidido a comprar uma nova cama de pregos. Abre o jornal e vê uma promoção aliciante: uma cama de pregos a €99,99 na loja Ikea mais próxima, em Paris. Veste-se para a ocasião - fato de seda brilhante, gravata e o seu melhor turbante - e parte da Índia com destino ao aeroporto Charles de Gaulle. Uma vez chegado ao enorme edifício azul e maravilhado com a sapiência expositiva da megastore sueca, decide passar aí a noite a explorar o espaço. No entanto, um batalhão de funcionários da loja a trabalhar fora de horas obriga-o a esconder-se dentro de um armário, prestes a ser despachado para Inglaterra. Para o faquir, é o começo de uma aventura feita de encontros surreais, perseguições, fugas e aventuras inimagináveis, que o levam numa viagem por toda a Europa e Norte de África.
A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário IKEA é uma aventura rocambolesca e hilariante passada nos quatro cantos da Europa e na Líbia pós-Kadhafi, uma história de amor mais efervescente do que a Coca-Cola, mas também o reflexo de uma terrível realidade: o combate travado por todos os clandestinos, últimos aventureiros do nosso século.

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   Há já muito tempo que andava curiosa com este livro. Quando o vi a primeira vez e li o título e o resumo achei-o completamente absurdo e é precisamente isso que o torna um bom livro para se ler num ápice. Simplesmente uma daquelas histórias estupidamente encadeadas, em que um acontecimento é ridiculamente precedido de outro que vem mesmo a calhar, ou não! Mas este livro é isso tudo sem ser, ele próprio, absurdo. Chega a ter um lado fislosófico que é interessante descobrir e reflectir e é impossível não nos "apaixonarmos" pelo indiano azarado e inocente que só quer ser uma pessoa melhor. 

   Se querem um livro ligeiro mas bem disposto, este é, sem dúvida, um deles! 

 

E agora, de volta a Dostoievsky...

That's a new me!

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>Aquele sentimento de orgulho e satisfação própria de quem fez um grande treino. Tenho-o comigo. Tenho-o tido comigo nos últimos treinos. Estou forte. Uns dias mais que outros, é certo, mas estou forte. Em termos de força e resistência atingi um ponto que sempre julguei não ser para a miúda que ficava sempre doente nos dias de educação física. Vejo os resultados, mais do que nunca. Sinto-me forte como nunca senti. Capaz. E acima de tudo sinto tudo isto naturalmente em mim, srm obrigações, mas com um agradável sentimento de simplesmente adorar esta sensação de ser capaz de sofrer, treinar, suar, voltar a treinar e melhorar a cada treino. Gosto deste novo eu. E o meu corpo também!

"O meu nome é Alice", agora o filme

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O problema de lermos um livro antes de vermos um filme é que já sabemos tudo o que vai acontecer e acabamos sempre a pensar "então isto e aquilo que vem no livro, não aparece aqui?". Neste caso não foi excepção; muitos momentos e pormenores desapareceram no filme e algumas coisas foram mesmo alteradas. Vale-nos a Julianne Moore, que está enorme, magnífica, estupenda no seu papel de Alice (and the oscar goes to...) e a temática do filme, que para mim me é extremamente "querida", não só porque é a minha realidade profissional, mas também porque é uma realidade que me assusta tremendamente e este filme consegue assustar-nos, consegue abrir-nos os olhos, consegue mostrar-nos o sofrimento impossível e impensável que é o de saber que aos poucos vamos deixar de ser nós e perder precisamente tudo aquilo que somos. 

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