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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

"Would it help?"

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   No filme "A ponte dos espiões" o espião russo utiliza múltiplas vezes a frase "would it help" em resposta a questões que põem em causa o seu bem-estar ou até mesmo a sua vida. Parece uma frase simples, mas na verdade é uma simples frase a rebentar de significado, importância e lições. "Would it help" é aquilo que todos deveriamos questionar/pensar sempre que a vida nos desafia e nós só conseguimos assumir uma posição negativa perante o facto. Nestas alturas só temos mesmo de nos perguntar: estar assim ajuda? Ou se preferirmos: adianta de alguma coisa?

   As coisas nem sempre correm como desejariamos. Há dias maus. Há dias muito maus. Há momentos de desespero, de dúvida, de tristeza até. Nesses dias, nesses momentos, pensamos em desistir, desesperamos, aborrecemo-nos, levamos os nossos níveis de stress e ansiedade ao máximo, questionamos tudo, perdemos as forças, barafustamos, pensamos o pior e só conseguimos ver a vida pelo prisma  negro da negatividade. É nestes dias, nestes momentos, que nos devemos realmente questionar a nossa atitude ou comportamento: would it help? Mas questionar com toda a nossa força: WOULD IT HELP?

   Não. Um claro e direto não. Não ajuda, não adianta, não resolve, não nada, não, não, não.

   O exercício é simples: sempre que a vida nos puser à prova e as nossas emoções nos estiverem a conduzir para uma espécia de lado negro da força, fazemos a questão "would it help?" e sempre que a resposta for negativa (e se não for sempre, será quase sempr) só temos de respirar fundo, inspirar força, coragem e determinação e seguir em frente, com um sorriso na cara e cheios de tudo aquilo que nos torna capazes de ultrapassarmos tudo. Tudo. 

«Contos de cães e maus lobos», Valter Hugo Mãe

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A escrita encantatória de Valter Hugo Mãe chega ao conto como uma delicadíssima forma de inclusão. Estes contos são para todas as idades e são feitos de uma esperança profunda.

Entre a confiança e o receio, cães e lobos são apenas um símbolo para a ansiedade perante a vida e a fundamental aprendizagem de valores e da capacidade de amar. Entre a confiança e o receio estabelecemos as entregas e a prudência de que precisamos para construir a felicidade.

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   Um daqueles livros que, literalmente, devoramos!!! Ou não estivessemos a falar de Valter Hugo Mãe que, cada vez mais, se afirma como um dos nossos maiores e melhores escritores.

   Este é um livro de contos para adultos, muitos dos quais absolutamente deliciosos, especialmente aqueles que falam de livros. Uma leitura simples, compulsiva e deliciosa!

As coisas mais belas do mundo

Nesse tempo, o meu avô perguntou-me quais seriam as coisas mais belas do mundo. Eu não soube o que dizer. Pensei que poderiam ser o fim do sol, o mar, a rebentação no inverno, a muita chuva, o comportamento dos cristais, a cara das mulheres, o circo, os cães e os lobos, as casas com chaminés. Ele sorriu e quis saber se não haviam de ser a amizade, o amor, a honestidade e a generosidade, o ser-se fiel, educado, o ter-se respeito por cada pessoa. Ponderou se o mais belo do mundo não seria fazer-se o que se sabe e pode para que a vida de todos seja melhor.

Valter Hugo Mãe, "Contos de cães e maus lobos"

Os meus queridos livros

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Pensei: os meus queridos livros. Era o que eu pensava e sentia: os meus queridos livros. Olhava-oes como se estivessem vivos e pudessem sofrer. Como se pudessem também entristecer.

Gostei de colocar a hipótese de os livros serem como bichos. Isso faz deles o que sempre suspeitei: os livros são objectos cardíacos. Pulsam, mudam, têm intenções, prestam atenção. Lidos profundamente, eles estão increvelmente vivos. Escolhem leitores e entregam mais a uns que a outros. Têm uma preferência. São inteligentes e reconhecem a inteligência.

Os livros estão esbugalhados a olhar para nós. Quando os seguramos, páginas abertas, eles também estão esbugalhados a olhar para nós.

Valter Hugo Mãe, "Contos de cães e maus lobos"

Sem rankings. Os melhores, porque sim

Vivemos num mundo competitivo e de competição. É inegável. Será até inevitável. Falsas modéstias à parte, todos nós queremos ser bons no que fazemos, seja em que área da nossa vida for, e ninguém se importa nada em ser "o melhor", até porque ser o melhor é marcar a diferença e o que o mundo não precisa é de gente e acontecimentos que marquem o bem e o bom que a vida pode ser/ter. Até aqui tudo bem, concordo plenamente e também eu gosto de estar nos lugares cimeiros seja do que for. O que me assusta é a necessidade que o mundo tem de criar rankings para tudo. Ok, vamos ser bons, ok, vamos fazer tudo para sermos os melhores, mas porque raio temos depois de expôr tudo isso em tabelas hierarquizadas? Hoje em dia criam-se rankings para tudo! Na instituição onde trabalho, por exemplo, e como temos 12 centros sociais, existem rankings para tudo o que se possa imaginar: para o número de clientes de cada centro, para o rendimento de cada mês, para os débitos de cada centro, para o número de novas admissões, para quem tem mais processos organizados, para quem encomenda mais bolos, para quem leva mais crianças aos passeios... E podíamos ficar aqui a assustar-nos o resto da noite. Esta ideia dos rankings surgiu-me num dia desta semana no qual na ida para o trabalho ouvi a notícia de que vão criar um ranking dos postos de abastecimento. E eu fiquei-me a perguntar porquê que é importante eu saber qual é o pódio das gasolineiras portuguesas, quando só lá ponho as rodas quando a luz da reserva acende é sempre naquela que me está mais próxima ou me oferece um preço mais competitivo, que é sempre variável. Para que servem afinal os rankings? Porquê esta obsessão em pôr um lugar e um número em tudo? Para querer ser melhor? Para nos fazer sonhar e lutar por um lugar no pódio? Ou não será apenas para criar competição, esquecendo valores, vontades, ambições, pessoas...? A vontade de sermos bons ou os melhores tem de ser intrínseca a cada um de nós e não formatada por uma medição, muitas das vezes subjetiva, do quão bom alguém ou algo é comparativamente com tudo o resto ou todos os outros. O valor das pessoas e das coisas está em si mesmo e não num número que nos posiciona numa hierarquia. Não gosto de rankings. Não gosto de ser melhor do que o vizinho. Gosto de ser melhor do que era ontem. Gosto de fazer hoje melhor do que fiz ontem. Independentemente da posição dos outros. image.png

 

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No dia seguinte

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Porque o dia seguinte tem de ser sempre, sempre, em busca das ideias felizes. Porque um dia mau não define uma vida má. Porque um dia de tristeza não transforma a nossa vida numa vida triste. Porque por mais duro que hoje seja, amanhã é um novo dia e é um novo dia para procurarmos aquilo que nos faz felizes.

Voltar à infância com os seus cabelos ruivos

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  Na semana passada soubemos que a "Ana dos cabelos Ruivos" vai voltar em 2017, embora numa versão "menina real", o que logo à partida é garantia de que o regresso nunca chegará nem aos calcanhares da série animada original. 

   Se há coisa que marca a minha infância é esta série. A "Ana dos cabelos ruivos" foi, é e sempre será a minha série preferida de todos os tempos!!! Acho que poucas meninas da minha geração não se recordam desta rapariga desastrada e muito, muito sonhadora e não terão vivido os seus dramas de forma ainda mais intensa do a própria Ana, que era só a miúda mais dramática de todos os tempos! E depois havia a Diana Barros, a sua melhor amiga, que eu achava a menina mais fofa de sempre com aquele vestido amarelo e o cabelo enrolado em duas tranças com dois grandes laçarotes vermelhos. 

   Quando penso na minha infância vejo-me sempre desejosa pelo próximo episódio. Lembro-me de regressar a casa da escola, ansiosa pelo meu lanche, que incluia sempre leite com cereais ou com um pão "queimado nos cantinhos" no fogão, e ainda mais ansiosa por me sentar em frente à televisão a ver os desenhos animados. E lembro-me das manhãs de fim-de-semana, de que já aqui falei, nas quais corria para o sofá, com o meu pequeno-almoço, para ver os desenhos animados. A "Ana dos cabelos ruivos" estava lá, estava sempre lá! A "Ana dos cabelos ruivos" está em toda a minha infância e está até (ela e amiga Diana) em cartinhas e desenhos que fazia para oferecer aos meus pais! 

   Hoje não se fazem desenhos animados como antigamente. Hoje não há magia, não há histórias que façam sonhar as crianças e não há personagens eternas como a Ana. Há uns tempos comecei a rever toda a série, mas nunca terminei. Agora bateu uma saudade tão grande que estou cheia de vontade de voltar à minha infância com a menina dos cabelos vermelhos. Acho que vou já procurar os dvds!!!!

«Vai e põe uma sentinela», Harper Lee

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Jean Louise Finch -  Scout -  a inesquecível heroína de Matar a Cotovia, regressa de Nova Iorque a Maycomb, a sua cidade natal no Alabama, para visitar o pai, Atticus. Decorre o turbulento  período  de meados de 1950, numa nação dividida em torno das dramáticas questões raciais. É com  este pano de fundo que Jean Louise descobre verdades perturbadoras acerca da sua família, da cidade e das pessoas de quem mais gosta, o que a leva a interrogar-se sobre os seus valores e princípios, e a confrontar-se com complexos  problemas de ordem pessoal e política.
Vai e Põe Uma Sentinela, romance inédito de Harper Lee, cujo manuscrito  se havia  perdido mas  descoberto em 2014, foi escrito antes de Matar A Cotovia e apresenta-nos muitos dos personagens dessa mítica obra,  agora vinte anos mais velhos. Um livro magnífico, comovente e de grande fascínio de um dos maiores vultos da ficção contemporânea.

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   Considerado pela crítica literária como um dos melhores livros de 2015, foi a minha escolha para começar o ano. E começamos bem. A história não é nova nem original; já imensos livros e filmes visitaram estas questões raciais na América nos anos 50, mas este livro tem uma "heroína" feminina e cheia de garra e eu simpatizo sempre com romances históricos que nos ensinam um pouco mais sobre a nossa história com personagens femininas marcantes.

   Não conhecia a autora, mas fiquei curiosa para ler o conhecido "Mataram a cotovia", que até foi Pullitzer. 

Tempo

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   "Há tempo para tudo".

   Hoje, como nunca, esta frase parece a maior das mentiras que mentes optimistas e despreocupadas nos podem impingir. Se a vida passa a correr, se as exigências são tantas e demasiadas, se o dia não chega para tantas tarefas, se , se ,se... como é que nos querem fazer acreditar que há tempo para tudo quando vivemos diariamente com aquela sensação de que deixamos tanto por fazer?

   Na minha opinião, isto é muito simples: na vida, há realmente tempo para tudo!

   Façamos nós o que fizermos, pensemos o que pensarmos, um dia terá sempre 24h e 24h dá para muita coisa! Pode não dar para fazer tudo hoje, é um facto, mas muitas 24h juntas dão para tudo o que quisermos! E aqui é que está o segredo: querermos! Ou melhor, saber o que queremos, que passa muito por saber o que é realmente importante, o que é prioritário, o que é urgente, o que podemos deixar para amanhã, ou depois, ou depois, ou até mesmo o que podemos simplesmente deixar passar.

   Uma vida que é vivida em pleno e com gosto é e será sempre uma vida curta demais. O tempo em que fazemos aquilo que gostamos e nos realiza será sempre um tempo que passa a voar. As horas que passamos a cumprir tarefas com as quais não nos identificamos serão sempre insuficientes, não porque realmente o são, mas pelo significado negativo que atribuimos aquela tarefa. Mas o tempo que temos, seja o tempo de vida ou o tempo para cumprirmos tarefas é O NOSSO tempo e cabe-nos a nós e apenas a nós geri-lo da melhor forma possível, porque é um facto e a maioria poderá discordar, mas há realmente tempo para tudo. E nós vamos perceber isso quando aceitarmos que "agora, já, no imediato" não é o único tempo que existe e que importa.

Quando as aparências iludem: desabafo de alguém neuroticamente ansiosa por dentro, só por dentro

  

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 Hoje, numa formação sobre gestão do tempo e do stress, as opiniões foram unánimes no que toca a avaliar-me enquanto pessoa ansiosa ou não: basicamente sou "a calma em pessoa". Dizem que aparento (e atenção, aparento!!, mas as aparências são o que mais contam) uma calma que parece inabalável e que nunca me vêem agitada ou nervosa ou à beira do desespero.

   Pois eu esclareço:

   Sou nervosa? Não, não sou.

   Sou stressada? Não, não sou.

   Alguma vez me viram desesperada e completamente perdida, irada, zangada, a deitar fumo pelos ouvidos? Muito provavelmente, não.

   E agora, a grande questão: sou ansiosa? SIM!! Muito!!! Estupidamente!! Exageradamente! Irracionalmente! Neuroticamente ansiosa. Mas por dentro, para dentro e para mim. Como em muitas outras coisas da vida, exteriorizar a minha ansiedade não é o meu forte, com tudo o de negativo isso acarreta, mas se há coisa que a idade e maturidade me ensinaram a assumir é que sou uma pessoa doentiamente ansiosa e já escrevi sobre isso aqui. Não o mostro, mas cá por dentro é um turbilhão de coisas e emoções que nem sempre é fácil gerir. Tenho dias mais tranquilos que outros, como toda a gente, mas julgo que nunca consigo atingir um estado zero de ansiedade. Tenho demasiada coisa cá dentro, penso demais, guardo demais, individualizo demais, sou excessivamente autosuficiente, preocupo-me demais e demonstro-o de menos e tenho muita dificuldade em lidar com o tempo de que certas coisas natural e logicamente precisam para acontecer. E depois, claro, não sonhando ou idealizando demais (a idade também me ensinou a controlar isto), sou ambiciosa, perfeccionista e quero sempre chegar mais longe e melhor, duvidando muitas vezes das minhas capacidades ou das voltas que o mundo dará até eu conseguir o que quero e mereço.

   Não vivo com medos. Não receio abrir a porta a cada dia e dar de caras com um leão que me ataca, como hoje um colega partilhava acerca da sua ansiedade. Não sou pessismista. Não dramatizo. Racionalizo. Sei que haverá uma solução. Sei que pode melhorar. Sei lidar com adveridades. Sei não fraquejar. Sei muito bem como mostrar que não fraquejo. Sei não desistir. Mas também sei que esta ansiedade escondida cá dentro já faz terrivelmente parte de mim. Sei também que muitas vezes é ela que me move, que me atira para o campo de batalha, que me faz continuar e continuar e continuar. Sei que é por ela que eu nunca páro. Mas sei, e admito, que também é essa maldita ansiedade que tantas vezes me mói demasiado por dentro, me dificulta o sorriso, me entristece o olhar, me torna uma pessoa pior e apaga um pouquinho do meu brilho. E o que mais assusta é sentir que mudar isto que sou é tão, mas tão difícil...

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