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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Sem dieta

Hoje, no balneário do ginásio, duas jovens: "-Sabes como emagreces? Durante uns dias deixas de comer e bebes só batidos. - Batidos de quê? - Sei lá! De frutas e cenas... Mas não podes fazer isto muito tempo porque senão desmaias... Ah! É isto é comer um limão por dia! O limão faz perder bué de calorias! - um limão inteiro? - Sei lá... Se calhar é o sumo... Não sei!" Enquanto existirem estas mentalidades e estas crenças em receitas milagrosas e estapafúrdias não para emagrecer mas para prejudicarem a saúde, haverá muito trabalho a fazer-se no que a educação alimentar diz respeito. Se este tipo de mezinhas efetivamente resultasse, não existiriam os números assustadores de excesso de peso e obesidade que todos os dias aumentam ainda mais. Informem-se. Aprendam. E pensem um bocadinho no quanto podem estar a prejudicar aquilo que mais queriam beneficiar. Não há receitas milagrosas. Ha dedicação e reeducação. E há o adoptar e adaptar de um estilo de vida que ultrapassa todas as dietas, precisamente porque nunca será uma dieta!

O amor é uma casa...

O amor é uma casa com muitos quartos, um que alimenta o amor, outro que o distrai, outro que o limpa, aquele para o vestir, outro que lhe permite descansar, e todos estes quartos podem muito bem ser um espaço para rir ou para escutar ou para contar os nossos segredos ou para ficar amuado ou para nos desculparmos ou para intimidades e, claro, há quartos para os novos membros da casa. O amor é uma cas na qual a canalização nos traz novas emoções gorgolejantes todas as manhãs e os esgotos descarregam as nossas disputas e as janelas claras se abrem para deixar entrar o ar fresco da boa vontade renovada. O amor é uma casa com fundações inbaláveis e um telhado indestrutíve.

 

"As altas montanhas de Portugal", Yann Martel

Histórias com gente dentro (e vida)

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Os dias têm sido de m****, o trabalho testa os meus limites diariamente, há desespero, tensão, desilusão e muito "eu não consigo fazer mais nada para melhorar isto". E de repente conheces alguém que te pede ajuda: tem menos de 50 anos e sofre de esclerose lateral amiotrófica, está aprisionada numa cama e num corpo que teima em não lhe obedecer e sabe, com todas as certezas do mundo, que vai piorar e que não há absolutamente nada a fazer. E é essa mesma pessoa que numa sucessão de dias de m**** te dá tudo aquilo que precisas para não desistir com um simples sorriso e um "Doutora, há quem esteja pior que eu! Apesar de tudo, isto podia ser pior...". Dificilmente poderia ser pior para ela. Mas para mim foi o suficiente para tornar tudo um bocadinho melhor. Mais do que nunca "Vergar mas não quebrar. A força de dentro é muito maior." E obrigada vida pelas pessoas fragilizadas que pões no meu caminho e me ensinam tanto.

«A Amiga Genial». Elena Ferrante

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A Amiga Genial" é a história de um encontro entre duas crianças de um bairro popular nos arredores de Nápoles e da sua amizade adolescente.Elena conhece a sua amiga na primeira classe. Provêm ambas de famílias remediadas. O pai de Elena trabalha como porteiro na câmara municipal, o de Lila Cerullo é sapateiro.Lila é bravia, sagaz, corajosa nas palavras e nas acções. Tem resposta pronta para tudo e age com uma determinação que a pacata e estudiosa Elena inveja.Quando a desajeitada Lila se transforma numa adolescente que fascina os rapazes do bairro, Elena continua a procurar nela a sua inspiração.O percurso de ambas separa-se quando, ao contrário de Lila, Elena continua os estudos liceais e Lila tem de lutar por si e pela sua família no bairro onde vive. Mas a sua amizade prossegue."A Amiga Genial" tem o andamento de uma grande narrativa popular, densa, veloz e desconcertante, ligeira e profunda, mostrando os conflitos familiares e amorosos numa sucessão de episódios que os leitores desejariam que nunca acabasse.

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   Haverá alguém que consiga não adorar este livro? Dúvido! E a parte boa é que, uma vez terminado este, há mais três com que nos deliciarmos (calma, não os vou ler todos de seguida que há tanto que quero ler entretanto!).

   Uma escrita magnífica mas bem simples, que não nos aborrece e que nos transporta direitinhos para o cenário daquela história e nos faz criar a nossa própria Elena e a nossa própria Lila, e até a nossa própria Nápoles!

   Delicioso!

 

Naquele mundo, que também é o nosso...

A 1 de Fevereiro de 2008, o Estado Islâmico do Iraque enviou duas mulheres com síndrome de Down - que tinham sido raptadas anteriormente no al-Ghazl, um popular mercado de animais em Bagdade -, a cujas roupas foram atadas cargas de dinamite e esferas de aço. Às 10.20 da manhã, enquanto o mercado se enchia de famílias à procura de um gato ou um cão, ou que só queriam comprar comida para pássaros, o EII usou um telemóvel para detonar à distância o engenho transportado pela primeira mulher e matar 46 pessoas. Era bem conhecida pelas pessoas, predominantemente xiitas, que vivem nesta zona do sueste de Bagdade como a "senhora maluca" que costumava vender gelados no mercado. Vinte minutos mais tarde, o EII detonou a segunda bomba atada ao corpo de outra mulher com síndrome de Down. Ao todo morreram 91 pessoas na sequência das duas explosões e ficaram feridas várias centenas.

"Império do Medo", Andrew Holsken

"Império do Medo", Andrew Holsken

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>"Em maior ou menor grau, a maioria das pessoas sente-se condenada à morte pelo Estado Islâmico. O adiamento da sentença chega quando voltam a casa e se sentem seguras ao fecharem a porta atrás delas. A alvorada anuncia um novo dia mortal, o regresso ao exterior e ao corredor da morte. (...) Está vivo no subconsciente do seu cérebro [o medo] , mas também há uma parte do seu cérebro que lhe diz que tem de continuar e manter-se vivo. Por isso não pode esconder-se simplesmente em casa porque pode explodir um carro bomba. Você está sempre à espera que um carro-bomba expluda em qualquer rua. O que o impede de explodir nesta ou naquela rua? É sempre bastante aleatório. Então, limita-se a desligar esses sentimentos. Diz apenas para si "Eu não vou morrer hoje. Talvez morra noutra dia qualquer, mas hoje não."

Porque é importante não vivermos na ignorância e abrirmos os olhos para o que se passa à nossa volta.

Naquele mundo, que também é o nosso...

Houve o caso de um xeque que recusou casar as filhas com eles (EII) e por isso foi morto. O povo deste xeque revoltou-se contra Zarqawi e dessa vez este reagiu com uma violência inconcebível: mandou os seus homens raptar o filho mais novo de outro xeque importante, depois esquartejaram-no, cozinharam o corpo e serviram-no ao pai.

(...) A história da criança cozinhada pode parecer implausível, quase um mito urbano, no entanto Zarqawi e os seus homens mataram outros milhares de crianças a partir de 2003 e muitas vezes tomaram-nas activamente como alvos. (...) há bastantes provas irrefutáveis de que o Estado Islâmico crucificou e até decapitou crianças nos territórios sob o seu controlo. (...) conhecera uma mulher curda cujo filho fora capturado por jihadistas em Mossul, no Norte do Iraque, e depois assassinado e triturado. A seguir serviram os restos da vítima com arroz à mãe, que de nada desconfiava, e esta ingeriu uma parte da criança sem saber.

 

"Império do Medo", Andrew Hosken

Desliga-te

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 Numa época em que vivemos cada vez mais conectados esta campanha da Fnac faz todo o sentido.

 Estamos cada vez mais e sempre ligados a coisas a maior parte das vezes abstractas e cada vez menos ligados às pessoas, a nós, aos momentos e àquilo que realmente interessa e faz da vida, vida. Nem de propósito, numa passagem pela Fnac durante o fim-de-semana, alguém ao telemóvel dizia "não sei, não vi, nós temos a regra de ao fim-de-semana não ligar a internet". Parece banal, pode até parecer rídiculo, mas quantos de nós não desesperariam ao pensar sequer em passar um fim-de-semana sem internet? Posso arriscar um "todos"?

 Desligar é cada vez mais difícil, principalmente quando o acesso ao mundo está num simples carregar de botão ou num esfregar de dedo num ecrã. Num instante, tudo que queremos, sonhamos ou desconhecemos está bem à frente dos nossos olhos, num ecrã. E isto enquanto a verdadeira vida nos passa ao lado, porque os nossos olhos e a nossa mente estão ocupados com aquilo que nos chega virtualmente sabe-se lá bem de onde. 

 Estamos permanentemente ligados a um mundo que não é o nosso (mas que às vezes até gostavamos que fosse) e esquecemo-nos de valorizar o que o nosso mundo real tem para nos oferecer. Parece mais fácil o refúgio de uma ligação de internet que nos mostra só o que queremos, que nos distrai de preocupações, que nos ocupa tempos mortos, que até nos ensina e dá respostas e informa (é um facto!). Mas enquanto nos ligamos em rede esquecemo-nos que as pessoas e as coisas palpáveis e vividas é que são a rede que nos abrandará a queda, a rede que estará lá para nos receber e proteger quando realmente precisarmos, a rede que nos reconfortará, nos abraçará, nos sorrirá, nos sercará as lágrimas...

  Porque o tempo passa a uma velocidade de fibra óptica, liga-te mais a ti e aos teus e a tudo aquilo que essas ligações seguras têm para te oferecer. É isso que te faz feliz. E quando estiveres feliz, partilha uma foto nas redes sociais! Só mesmo para mostrares a quem ainda não se desligou que estar desligado é a melhor forma de nos ligarmos às coisas boas da vida!

 

(Esta mensagem também é para mim!)

Naquele mundo, que também é o nosso...

Num incidente, o Estado Islâmico do Iraque decapitou quatro membros da tribo Salman, de Qaim, mas não deixou as famílias recolherem os corpos. Por fim, passados dez dias, os jihadistas cederam, mas antes disso armadilharam os cadáveres com TNT. Quando os familiares chegaram de manhã para recolher os corpos já em adiantado estado de decomposição, os homens do EII detonaram os exploxivos, mataram mais oito pessoas e feriram muitas outras. 

 

"Império do Medo", Andrew Hosken

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