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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Liberdade

 

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  Nós, que crescemos e vivemos num tempo livre e muitas vezes até sem regras, esquecemo-nos demasiadas vezes do quão importante é essa coisa chamada liberdade, em qualquer uma das suas vertentes. Da liberdade de expressão à liberdade de pensamento e acção, importa não esquecer os sortudos que somos por podermos escolher a vida que queremos viver, a história que queremos contar. Mais do que homenagear ou lembrar quem lutou pela nossa liberdade, foquemo-nos em fazer essa luta valer a pena, todos os dias, para cada um de nós. Viver uma vida plena e que faça jus à nossa essência é a melhor forma de o fazermos. Aproveitar esta passagem por cá para espalhar coisas boas e fazer o bem, porque também somos livres no amor e na pegada afetiva que deixamos no mundo. A liberdade dos sentimentos e dos afetos é talvez dos maiores tesouros que possuimos, por isso, de que estamos à espera para amar a liberdade com amor, pela vida, pelos nossos, pelos outros e, acima de tudo, por nós?

   Que na vossa vida haja sempre liberdade para serem felizes!

Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.

(Simone de Beauvoir)

 

Ler: Rapariga em Guerra, Sara Novic

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 Uma saga de guerra, um relato da passagem à idade adulta, uma história de amor e de memória, Rapariga em Guerra percorre todas estas facetas e revela-se um romance de estreia ao mesmo tempo perturbador e cheio de esperança, escrito com a força da verdade. Zagreb, 1991. Ana Juric é uma menina de dez anos com um espírito descontraído, que vive com a sua família na capital da Croácia. Mas, nesse ano, a Jugoslávia é abalada pela guerra civil, destruindo a infância idílica de Ana. A paz do dia a dia é manchada pelo racionamento, pelos constantes raids aéreos e os jogos de futebol são substituídos pelo fogo das armas. Os vizinhos começam a desconfiar uns dos outros e a sensação de segurança começa a desvanecer-se. Quando a guerra lhe bate à porta, Ana tem de encontrar um novo caminho num mundo perigoso.

Nova Iorque, 2001. Ana é agora uma estudante universitária em Manhattan. Apesar de todas as tentativas para deixar o passado para trás, não consegue escapar às recordações de guerra e aos segredos que guarda até dos que lhe são mais próximos. Perseguida pelos acontecimentos que lhe roubaram a família para sempre, regressa à Croácia depois de uma década de ausência, na esperança de fazer as pazes com o lugar a que um dia chamou casa. Enquanto enfrenta o passado, procura reconciliar-se com a história difícil do seu país e com os acontecimentos que lhe interromperam a infância, há tantos anos. Avançando e recuando no tempo, este livro é um retrato franco e generoso de um país devastado pela guerra, mostrando-nos, com uma escrita brilhante, a impossibilidade de separar a história de um país e a história do indivíduo.

Sara Novic revela destemidamente o impacto da guerra numa menina e o seu legado em todos nós. É a estreia de uma escritora que olhou para o passado recente e encontrou uma história que ressoa ainda hoje.

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   A sinopse deste livro já diz quase tudo o que podemos esperar. É um livro de guerra, mais um livro sobre a guerra, se assim o preferirmos, que é um tema que se me agradou, apesar de começar a cansar um pouco. Este, felizmente, foge à habitual 1ª e 2ª guerras mundiais, o que é o seu principal ponto positivo. De resto, é um livro simples e previsível: guerra, crianças perdidas, familias separadas, morte, partidas, traumas e regressos.

"Só somos felizes quando já não sentimos os sapatos nos pés

"Eu, quando olho para as coisas quero que elas me sejam familiares, como o meu tio e o meu marido, como o pão que se come às refeições. Quero deitar-me sempre com o mesmo homem, com os mesmos lábios. Quero que os lençóis de hoje me pareçam os lençóis de ontem, mesmo que os bordados sejam completamente diferentes. Não quero que os beijos que recebo sejam novos, quero que sejam velhos, quero que sejam os de sempre. Não me quero sobressaltar como quando era jovem. Uma pessoa só pode ter paz quando está ao pé das mesmas coisas, quando nem repara nelas, porque elas já fazem parte de si, como se as tivesse comido e mastigado e engolido e agora fossem carne da sua carne e sangue do seu sangue. Só somos felizes quando já não sentimos os sapatos nos pés." Afonso Cruz, O Pintor debaixo do Lava-loiças

Que esta semana vos traga muitos momentos em que não sentem os sapatos nos pés.

Na minha cozinha: Bolo de Alfarroba, Aveia e Maçã

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Precisamos de:

  • 4 colheres de sopa de farinha de alfarroba
  • 2 chávenas de farinha de aveia (ou trigo integral, espelta, arroz...o que preferirem)
  • 1/4 chávena de amido de milho
  • 2 colheres de chá de canela
  • 1 colher de chá de fermento
  • 1 pitada de curcuma (ou gengibre)
  • 2 ovos
  • 1/2 chávena de bebida vegetal (usei de arroz, sem adição de açucar)
  • 3/4 maçãs raladas

(A receita original do blog "A Pitada do Pai" leva uma pitada de sal, 1/2 chávena de cajus ou castanha do brasil, azeite/óleo de côco e um adoçante a gosto, ingredientes que no meu caso retirei)

 

E é so fazer assim:

  • Misturar os ingredientes sólidos numa taça;
  • Ralar as maçãs com a varinha mágica e misturar com os ovos e a bebida vegetal noutra taça;
  • Misturar tudo;
  • Colocar numa forma do tipo "bolo inglês" e levar ao forno

Deliciem-se!!!!

Ler: O Pintor Debaixo do Lava-Loiças, Afonso Cruz

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A liberdade, muitas vezes, acaba por sobreviver graças a espaços tão apertados quanto o lava-loiças de um fotógrafo. Esta é a história, baseada num episódio real (passado com os avós do autor), de um pintor eslovaco que nasceu no final do século XIX, no império Austro- Húngaro, que emigrou para os EUA e voltou a Bratislava e que, por causa do nazismo, teve de fugir para debaixo de um lava-loiças.

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   Que Afonso Cruz é um dos melhores escritores nacionais já todos os apreciadores de literatura o sabem. O que eu não sei se todos sabem é a preciosidade que é este livro!

   Não há propriamente uma "história normal", mas há uma personagem adorável, suficientemente melancólica para nos fascinar desde a primeira página, porque é exatamente aí que percebemos que este livro vai transbordar todas as nossas medidas e expectativas. É tão bom, tão cheio de coisas boas, tão cheio de vida sofrida mas vivida, tão repleto de reflexões deliciosas e tão regado com aquele cheirinho de "hum, Saramago podia ter escrito isto" que, além de ser recomendado pelo Plano Nacional de Leitura deveria ser recomendado e obrigatório na vida literária de todos nós!

   Por favor, devorem-no!

Escorrega

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"O escorrega ensina-nos que um pequeno, muito pequeno, momento de prazer exige que subamos escadas. O esforço para ser feliz é muito maior que aquilo que desfrutamos. É isso que nos diz o escorrega. Não é por acaso que todos nós somos educados com eles." #afonsocruz

O futuro não existe

o futuro não existe, como todos sabemos. O futuro será sempre uma coisa a provar. A única coisa que todos nós vemos é o presente. O futuro, bem como o passado, não passam de memórias e previsões. Coisas que não têm existência senão dentro de nós. Porém, até os maiores céticos creem no futuro. Como se sele existisse realmente, como se existisse fora de nós. É uma crença coletiva, apesar de apenas vermos o presente. Mas intuimos, o que abre o espectro da nossa percepção. Se podemos crer em algo que nunca vimos, será que não podemos acreditar em várias outras coisas que nunca vimos?

Um cético dirá que é muito simples: o dia de amanhã acontecerá porque tem acontecido desde sempre. Mas é o erro, o famoso erro, do indutivismo.

(...)

Não está provado que o dia de amnhã seja sempre o seguimento do dia de hoje. Tem acontecido, mas nada nos garante que não deixe de acontecer.

Afonso Cruz, O Pintor Debaixo do Lava - Loiças

Ler: O coração é o último a morrer, Margaret Atwood

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Charmaine e Stan estão desesperados: sobrevivem de pequenos trabalhos menores e vivem no carro. Portanto, quando veem um anúncio a Consiliência, uma «experiência social» que oferece empregos estáveis e casa própria, inscrevem-se imediatamente. A única coisa que têm de fazer em troca é ceder a sua liberdade mês sim, mês não, trocando a sua casa por uma cela da prisão. Não tarda, porém, que Stan e Charmaine, sem o saberem um do outro, comecem a desenvolver obsessões apaixonadas pelos seus «Alternantes», o casal que ocupa a sua casa quando estão na prisão. E assim mergulham num pesadelo de desconfiança, culpa e desejo.

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   Mais um livro que foi uma agradável surpresa para mim descobrir. Há aqui um cheirinho de George Orwell com a idealização/criação de um mundo alternativo e aparentemente perfeito, mas que como seria de esperar está carregadinho de imperfeições e terrores, fazendo-nos preferir a dureza do mundo real do que a ilusão deste mundo perfeitamente falso.

   Espreitem, que este é daqueles que vale bem a pena.

Kicking some asses (ou não e de como isso é ainda melhor)

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(Não se deixem enganar pela forma como este post vai começar. É uma profunda reflexão sobre a vida. Prometo!) Uma das coisas que sempre me agradou nas aulas de Body Combat foi a possibilidade de, mais do que noutras aulas, exorcisarmos as nossas frustrações e raivas acumuladas naqueles socos e pontapés esquizofrénicos, é certo, mas muito reconfortantes. Na última aula, a professora gritou o clássico "imagina a cara daquela pessoa que mais vos chateia à vossa frente e dá-lhe com força". Eu sou pessoa que gosta de treinar pra valer e por isso imaginei com muita força a cara que estava ali à minha frente e... não consegui parar de sorrir quando percebi a resposta. Nada. Nenhuma. Continuei a ver apenas e só as costas da colega que treinava à minha frente. E foi ali, e é aqui que se isto se torna a profunda e séria reflexão sobre a vida, numa aula de Body Combat, ao som de "Work it out " dos Netsky (bom som, by the way), a dar murros esquizofrénicos com muito power, que eu percebi que neste momento não há nada nem ninguém que me ponha fora de mim, que me roube o sorriso, ou que me faça ter vontade de espancar alguém e ainda o atirar de um penhasco abaixo. Pode parecer banal, mas já perceberam a importância real e o peso de nos sentirmos genuinamente bem com a nossa vida? Quantas vezes o conseguimos? Quantas pessoas o conseguem? Durante quanto tempo conseguimos viver nesta plenitude? Não devemos aproveitar ao máximo cada momento em que nos sentimos cheios de nós e de vida? Eu sei que tudo muda num repente. Eu sei que amanhã é incerto. Eu sei que isto não é um estado permanente. Mas parar 1segundo que seja para perceber que neste momento a vida que vivemos nos enche a alma e o coração e que, mesmo nos dias mais cinzentos-pérola, conseguimos gerir os problemas e as emoções de forma a não deixarmos que isso afete o nosso bem-estar e o nosso sorriso dá-nos esperança de que afinal isto de viver pode realmente ter coisas muito boas. Conclusão: não encontrei cara para os meus socos, mas "soquei" na mesma com muita garra e determinação, assim só para afastar possíveis ladrões de vidas (e ficar com uns braços e uns abdominais ainda mais fortes!).