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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Uma pirâmide alimentar que vale a pena

A Nutrition Australia publicou recentemente uma nova pirâmide alimentar que é uma absoluta delícia e cheia de alimentos bons.

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   Assim à primeira vista apetece-nos sublinhar logo a inclusão de alimentos como a aveia, o tofu, a soja, a quinoa ou o cuscus e, uma grande, enorme, salva de palmas, a completa irradicação açúcar e do sal, que segundo esta pirâmide, já estão naturalmente presentes nos alimentos e que por isso não precisam de ser acrescentados. Também de louvar, a saída de todas as gorduras saturadas (adeus, adeus manteigas!!!).

    Explorando um pouquinho esta maravilha, 70% daquilo que comemos ao longo de um dia deve ser fruta, vegetais, leguminosas e cereais. E de entre os cereais devemos privilegiar os integrais – o arroz e massa integrais, as aveias e a quinoa (quem não sabia já isto?). E para substituir o sal, devemos temperar os nossos cozinhados com ervas aromáticas (e já agora, canela para adoçar os nossos "doces"). Há ainda espaço para as bebidas alternativas ao leite, desde que sem adição de açucares e com um teor reduzido de gordura, assim como preferência por lacticínios magros. De resto, está aqui tudo de bom e que nos faz bem: água, fruta, legumes, leguminosas, lacticinios, carnes e peixes e alternativas vegan, ovos, frutos secos, cereais e lá no topo, as gorduras boas, pois destas precisamos!

   Perante isto, será assim tão difícil acabarmos com as dietas e adoptarmos de uma vez um estilo de vida saudável, começando já por aquilo que levamos à boca?

   Cuidem-se!!!

Ler: O Deslumbre de Cecilia Fluss, João Tordo

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Aos catorze anos, Matias Fluss é um adolescente preocupado com três coisas: o sexo, um tio enlouquecido e as fábulas budistas. Vive com a mãe e a irmã mais velha, Cecilia, numa espécie de ninho onde lambe as feridas da juventude: a primeira paixão, as dúvidas existenciais, os conflitos de afirmação. Sempre que sente o copo a transbordar, refugia-se na cabana isolada do tio Elias.

Cedo, contudo, a inocência lhe será arrancada. Ao virar da esquina, encontra-se o golpe mais duro da sua vida: o desaparecimento súbito de Cecilia que, afundada numa paixão por um homem desconhecido, é vista pela última vez a saltar de uma ponte.

Muito mais tarde, Matias será obrigado a revisitar a dor, quando a sua pacata vida de professor universitário é interrompida por uma carta vinda das sombras do passado, lançando a suspeita sobre o que aconteceu realmente à sua irmã — sem saber ainda que regressar ao passado poderá significar, também, resgatar-se a si mesmo.

No final desta «trilogia dos lugares sem nome», iniciada com O luto de Elias Gro, João Tordo explora, através de personagens únicas e universais, numa geografia singular, os temas da memória e do afecto, do amor e da desolação, da vida terrena e espiritual, procurando aquilo que com mais força nos liga aos outros e a nós próprios.

 

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João Tordo é um dos grandes escritores portugueses. Está sem dúvidas no meu top de preferências, mas esta trilogia não foi propriamente aquilo que mais gostei de ler dele. Todos os três livros foram demasiado pesados, melancólicos, cinzentos, carregados de personagens tristes, infelizes e depressivas...tudo isto deve ser dificílimo de escrever, de imaginar sequer, mas também torna a leitura demasiado introspectiva e por vezes saturante de tanta coisa negativa que carrega. Este Deslumbre de Cecilia Fluss não é excepção. Há tristeza, melancolia, depressão e um quê de demência que nos deixa pesadões no final da leitura. Não é um livro para agradar a toda a gente, isto é certo, mas reconhece totalmente o génio de João Tordo.  

Na minha cozinha: bolo de aveia, banana e cenoura

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Vamos precisar de:

  • 1 banana média
  • 1 cenoura média
  • 100g de aveia em flocos
  • 50g farinha de aveia
  • 1c. chá fermento
  • Canela a gosto
  • 2 ovos
  • 100 ml de leite magro ou bebida vegetal

E é só fazer assim:

  • Esmagar a banana e juntar a cenoura ralada;
  • Juntar os ovos e leite e mexer tudo;
  • Acrescentar a aveia, a farinha de aveia, o fermento e a canela a gosto;
  • Misturar tudo muito bem;
  • Colocar numa forma de silicone do tipo bolo inglês e levar ao forno.

Simples e delicioso, sem qualquer adoçante adicionado!

Relativizar, para uma vida mais fácil de ser vivida

   No início do mês fomos a um concerto dos The Gift na Casa da Música (fantástico, como sempre, by the way!!!). Ao regressarmos ao carro fomos surpreendidos por um vidro partido. Toda a alegria e satisfação de uma noite bem passada a dois foi imediatamente esquecida e substituida pela surpresa, pelo desânimo e pela raiva, sobretudo por parte do meu Mr. Big, que lhe viu roubados o computador profissional, discos externos, pens e cadernos carregados de informação e trabalho. Ele insultou, disparatou, vociferou, amaldiçoou e centralizou toda a sua energia e pensamentos para aquele acontecimento negativo, sobrevalorizando-o, digo eu agora.

   Saimos de casa animados, divertimo-nos imenso durante o concerto, acabamos a noite (ou começamos o dia seguinte!) na esquadra e a fazer telefonemas para linhas de atendimento de bancos e afins para cancelar acessos a contas e senhas. Regressamos a casa. Deitamo-nos na cama. Dormimos pouco. Acordamos e seguimos com a nossa vida, ele bem mais devagar. Hoje, menos de 1 mês depois, já não falamos disso.

   Há uns dias centenas de pessoas foram assistir a um concerto da Ariana Grande na Arena de Manchester. Divertiram-se imenso, cantaram, dançaram, aproveitaram o melhor da vida. No final foram surpreendidos por um bombista suícida. Muitas pessoas não regressaram a casa nessa noite. Muitas pessoas acordaram no dia seguinte numa cama de hospital e ainda não puderam seguir com as suas vidas.

   22 pessoas nunca mais regressarão às suas casas...

  

   A vida pode ser mesmo isto: num momento estamos aos saltos e aos berros num concerto e no momento seguinte estamos de rastos ou nem sequer estamos. Como se não bastasse uma vida que consegue ser tão surpreendentemente fantástica de ser vivida como devastadora e cruel, ainda temos criaturas que vivem para matar, e da forma mais cruel possível. Nós perdemos um vidro e uma data de material importante. Eles perderam a vida. Posto assim, só temos que nos envergonhar por qualquer desanimo ou insatisfação com a vida que nos partiu um vidro. Podia ter sido tão pior.

   Pensar no poderia ter sido, mais do que amaldiçoar o que foi, é um exercício que devemos ser capazes de fazer sempre que algo nos corre menos bem. É um daqueles exercícios que me obrigo a fazer sempre e no qual me sinto orgulhosamente bem treinada. Naquela noite do vidro partido, fartei-me de repetir para uma pessoa que eu sei que não me ouvia, "deixa para lá, podia ter sido pior, estamos aqui, estamos bem, os nossos estão bem, deixa para lá, já passou...". Provavelmente ele já não me podia ouvir, mas a realidade era aquela! Podia realmente ter sido pior. Podia ter sido pior. É isto que temos de ser capazes de pensar. Porque podiamos simplesmente já cá não estar para pensar no que podia ter sido...

   A vida é tão curta, tão cheia de ratoeiras, tão cheia de provações e gente má, para quê tornar tudo ainda mais pesado? Estamos cá para viver, não para atirar as mãos ao céu e lamentar. Estamos cá para viver. Enquanto nos deixarem.

 

(Que todas as vítimas da maldade humana possam um dia encontrar o descanso e a paz merecidas. E que quem por cá fica saiba viver uma vida que merece ser vivida.)

Não deixes...

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Não deixes que termine o dia sem teres crescido um pouco, sem teres sido feliz, sem teres aumentado os teus sonhos. Não te deixes vencer pelo desalento. Não permitas que alguém retire o direito de te expressares, que é quase um dever. Não abandones as ânsias de fazer da tua vida algo extraordinário. Não deixes de acreditar que as palavras e a poesia podem mudar o mundo. Aconteça o que acontecer a nossa essência ficará intacta. Somos seres cheios de paixão. A vida é deserto e oásis. Derruba-nos, ensina-nos, converte-nos em protagonistas de nossa própria história. Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua: tu podes tocar uma estrofe. Não deixes nunca de sonhar, porque os sonhos tornam o homem livre. Walt Whitman

É Portugal!!!

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Cara Europa,

É a primeira vez que peço o livro de reclamações. Uma vez na Worten comprei um desumidificador que não desumidificava mas tive vergonha. Desta vez é mais grave: desconfio ter em mãos um país europeu com defeito.

Foi-me prometido Portugal, um país mediterrâneo com clima simpático mas que, desde que Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador, apenas conseguiu estar na bocas do mundo quando um ousado jovem de skate foi trend no 9GAG por gritar Sai da frente Guedes.

Deve ter havido um engano. O resto da Europa está a funcionar normalmente, na mediana: franceses andam entretidos com Le Pen, ingleses andam entretidos com Brexit e espanhóis continuam pouco entretidos por não entrar nas anedotas do português, do inglês e do francês.

Por cá, estamos imparáveis. Somos campeões da Europa de futebol. Temos o melhor jogador do mundo em futebol, futebol de salão, futebol de praia e desconfio que se houvesse futebol de pomar, com duas nespereiras a fazer de baliza, o melhor do mundo também era nosso.

Algo está mal. Desconfio que nos foi dado um país em segunda-mão, porque os exemplos de virtude já não são só com o desporto que se joga com o pé.

Vencemos a Eurovisão. Organizámos o maior evento de empreendedorismo da Europa. O NOS Alive foi eleito um dos melhores festivais da Europa. A Forbes deu um shout-out ao Vhils. Temos faculdades portuguesas a liderar o ranking do Financial Times. Até o pastel de nata, que era só nosso, decidimos exportar para o resto da Europa só para poder dizer que mesmo assim o nosso é que é o melhor da Europa.

Desconfio que temos o país fora-de-prazo. O nosso estado de graça caducava 3 dias depois do pontapé do Eder mas 10 meses depois ainda não tem bolor.

Todos os dias sai mais um artigo no The Guardian a dizer que Lisboa é a cidade mais cool da Europa, que o Porto é o epicentro da cultura, que o Algarve tem os melhores pores-do-sol, por-dos-sóis, pores-dos-sóis e eu continuo sem saber colocar o plural em palavras com hífen.

Não sei como funciona a vossa política de devoluções, mas via com agrado uma troca por Bulgária ou Croácia.

Eu só pedi Portugal, e deram-me por engano o melhor país da Europa. [Texto de Guilherme Geirinhas, publicado no site Informa+]

Áreas de serviço (sim, um post dedicado a elas!)

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Gosto de áreas de serviço. Especialmente quando são sinónimo de férias ou passeio. Gosto de áreas de serviço cheias de gente. Das filas para a casa de banho e para o café. De espreitar as revistas e comprar umas quantas a pensar nos dias que vou passar sem fazer nada. Gosto de espreitar os doces que se vendem e os gelados, apesar de não comer nenhum. Gosto de ver os brinquedos que vendem e as supostas iguarias típicas da zona. Gosto sobretudo de ver as pessoas de sorriso no rosto e de lhes adivinhar o destino, enquanto abrem malas do carro apinhadas de bagagem e lancheiras mais ou menos saudáveis, não fosse viajar com a merenda atras uma característica tão portuguesa. Gosto de lhes ver as roupas leves, o visual descontraído de quem não quer saber de nada, o corpo relaxado pela ausência de compromissos, a mente focada nos quilómetros que faltam para o merecido descanso, seja de uma semana ou de um fim-de-semana apenas. Gosto de áreas de serviço tanto como gosto de aeroportos. Porque são uma espécie de "ponte" entre uma vida de horários e rigidez de compromissos e obrigações e a outra maravilhosa parte da vida que é merecida e que deveria ser permitida viver a toda a gente: a vida que vivemos para ser gozada e aproveitada junto de quem nos faz feliz. Gosto de áreas de serviço. Ponto. E mal posso esperar por poder parar numa, nessa espécie de ponte entre a vida e o melhor da vida.

Na minha cozinha: muffins de pêssego e laranja

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 Vamos precisar de:

  • 2 pêssegos pequenos descascados
  • 1 laranja descascada
  • 3 scoops de farinha de arroz (ou qualquer outra a gosto)
  • 1 c.café de fermento
  • canela a gosto
  • 1 ovo
  • 1/3 chávena de leite magro sem lactose ou bebida vegetal (caso a massa fique demasiado compacta)

E é só fazer assim:

  • Misturar tudo num robô de cozinha; colocar em formas individuais e levar ao forno.

O bem que Salvador Sobral fez ao país

Não vou escrever sobre o Salvador Sobral ou a sua música, afinal gostos não se discutem, música cada um ouve a que gosta e acima de tudo, já chega de posts e mais posts sobre o rapaz e aquilo que ele canta.

Portugal ganhou pela primeira vez o Festival Eurovisão da Canção. Isto é que interessa. Não interessa se foi o Salvador, a Luísa, o Zeca Afonso ou o Quim Barreiros. Foi Portugal quem venceu o Festival Eurovisão da Canção. É a importância deste reconhecimento internacional que importa para um país como o nosso, que apesar de já ter descoberto mundos, vive há demasiados anos na sombra e na pequenez do "só de nós ninguém quer saber".

Portugal tem mostrado ao mundo que existe e que sabe o que faz. Não nos faltam exemplos: temos um nobel da literatura, temos o melhor jogador de futebol (e de futebol de salão) do mundo, fomos campeões da Europa, temos a cidade eleita o melhor destino europeu, temos das melhores praias do mundo, temos cérebros fantásticos a produzir conhecimento, temos Emmys... independentemente dos gostos pessoais ou do fato de considerarmos justo ou não cada título que temos conquistado, o que estes prémios e reconhecimentos nos têm de ensinar é que nós, portugueses, sabemos fazer e sabemos fazer muito bem. O Presidente da República felicitou Salvador Sobral dizendo que "quando somos muito bons, somos os melhores", e eu acrescento que quando somos muito bons e acreditamos no que valemos, fazemos diferente, e somos os melhores. E é só isto que interessa: nós, que não estamos (ou não estavamos!) habituados a ganhar, sabemos ser os melhores.

Salvador Sobral cantou que talvez pudesse amar pelos dois. Eu cá acho que cada conquista de um Português é um forma de amor, não pelos dois, mas por todos nós, portugueses, os melhores em tanto.  

Nós somos assim...

Nós somos assim, cheios de pressa de barrar a manteiga, de dar conselhos, de mudar uma porta de sítio para reconfigurar a geometria doméstica. Como toda a gente, temos planos, e são eles as âncoras que jogamos rente ao futuro, para nos movermos à força de braços para lá. Os mais novos, é claro, têm planos feitos da mesma imprestável merda, mas envernizam-nos com uma camada sonhada de grandiosidade que consiste em chegar a chefe de repartição ou em comprar uma casa maior. Na verdade, todos os sonhos são rídiculos e é o rídiculo que nos move, mas os velhos riem-se dos novoos e os novos riem das crianças , e o riso é ntergeracionalmente estanque, e é isso que mantém o circo a funcionar em continuo, sem que ninguém dê pela marosca e peça o dinheiro de volta ou se converta, interiormente e de forma radical, à anarquia misant´rópica ou ao ateísmo militante.

Autismo, Valério Romão

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