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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Ler: Atos Humanos, Han Kang

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Lembram-se da "Vegeteriana"? Um livro forte, carnal e diferente de tudo o que já tinhamos lido? Han Kang voltou, com um romance que não é romance, de tão cheio de realidade que está. Este é dos cruéis. Dos humanamente cruéis. E dolorosos. E duros.

 

É possível testemunhar que me enfiaram repetidamente na vagina uma régua de madeira com trinta centímentros, até à parede superior do útero? Que forçaram o colo do meu útero com a coronha de uma espingarda? Que como a hemorragia não parava e eu entrei em choque, tiveram de me levar para o hospital para receber uma transfusão? Que continuei a perder sangue durante os dois anos seguintes e que se formou um coágulo numa das minhas trompas que me deixou para sempre a impossibilidade de ter filhos? É possível testemunhar que fiquei com uma aversão patológica a qualquer contacto físico, principalmente com homens? Que o simples fato de os lábios de alguém tocarem ao de leve os meus, de as suas mãos passarem pelo meu rosto, e até de um olhar casual subir pelas minhas pernas no verão era como se estivesse a ser cauterizada com um ferro em brasa? É possível testemunhar que acabei por desprezar o meu corpo, a matéria física de que sou feita? Que destruá voluntariamente qualquer manifestação de carinho ou de afeti cuja intensidade fosse mais do que conseguia aguentar e fugia? Para um sítio mais frio, um sítio mais seguro. Só para continuar viva.

Comunicado

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Meu querido abacate, tu sabes que eu te adoro, de toda e qualquer forma, ao natural, no pão, no iogurte, na salada, ou como quer que seja, não fosses tu um gorduroso alimento da moda, do bom, do bem e do fit. Acontece que, vá lá o diabo ou quem quer que seja que gere o além dos abananares saber porquê, me causas umas dores de estômago brutais menos de 10min depois de te ingerir e que ficam para todo o dia. E como se isto não chegasse, às vezes também há direito a manifestação intestinal pouco simpática. Eu bem tentei, tu sabes que tentei e insisti e gostava mesmo de perceber o porquê de não sermos compatíveis, mas hoje, a metade de ti que comi ao pequeno almoço foi a nossa última vez. Definitivamente. Sei que me vai custar mais a mim do que a ti, sei que nem vais sentir a minha falta pois há mais quem te adore, mas na vida há que reconhecer quando as coisas não estão bem e claramente as coisas entre nós não estão a funcionar. Por isso, em meu nome e em nome do meu estômago, adeus. Nem sequer é um até já. É um adeus. Um sofrido e sentido adeus. 😢🥑 Já agora, alguém me consegue explicar o porquê desta intolerância do meu estômago ao abacate?

Atualizando as minhas leituras de Agosto

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Estamos em 2016 e no mundo de Tom Barren a tecnologia solucionou os grandes problemas da humanidade: não há guerra, nem pobreza, nem abacates pouco maduros. Infelizmente, Tom não é um homem feliz. Perdeu a rapariga dos seus sonhos. E o que é que uma pessoa faz quando está de coração partido e depara com uma máquina do tempo? Faz uma estupidez.

Agora Tom dá por si numa realidade paralela aterradora (que nós reconhecemos logo como sendo o nosso 2016) e só pensa em corrigir o erro e voltar para casa. Mas é então que descobre uma versão encantadora da sua família, da sua carreira e de uma mulher que pode muito bem ser a mulher da sua vida. Tem agora de enfrentar uma escolha impossível. Regressar para a sua vida perfeita, mas pouco emocionante, ou permanecer na nossa realidade, um mundo caótico, mas onde terá ao seu lado a sua alma gémea. À procura da resposta, Tom é levado numa viagem pelo tempo e pelo espaço, tentando perceber quem é de facto e qual será o seu futuro.

Cheio de humor e emoção, um livro inteligente e caloroso que é uma poderosa história de vida, de perdas e de amor.

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Este livro surpreendeu-me logo desde a primeira página devido ao tema que aborda, totalmente futurista e do domínio do imaginário. Viagens no tempo...tão "simples" quanto isto. Viagens no tempo e uma história de amor no tempo e uma personagem principal masculina que anda para trás e para a frente e que tem vários "eus". Em certas partes não é um livro muito apelativo, porque tenta explicar demasiado essa possibilidade das viagens no tempo, mas no geral é um bom livro. Diferente. Diferente.

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A jovem Anna recusa-se a comer e, apesar disso, sobrevive mês após mês, aparentemente sem graves consequências físicas. Um milagre, dizem. Mas quando Lib, uma jovem e cética enfermeira, é contratada para vigiar a menina noite e dia, os acontecimentos seguem um diferente rumo: Anna começa a definhar perante a passividade de todos e a impotência de Lib. E assim se adensa o mistério à volta daquela pobre família de agricultores que parece envolta num cenário de mentiras, promessas e segredos. Prisioneira da linguagem da fé, será Ana, afinal, vítima daqueles que mais ama? Um drama intenso sobre os perversos caminhos do fundamentalismo, mas também sobre como o amor pode vencer o mal nas suas mais diversas formas. 

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Aviso já: este é dos bons!

Da mesma autora de "O quarto de Jack", outro livro absolutamente delicioso, voltamos a uma criança como personagem principal, mas desta vez uma criança que se recusa a alimentar-se. É sobretudo uma excelente visão de como a fé se pode tornar algo doentio e louco e de que as nossas convicções fazem tudo por nós. De bom e de fatal.

Bom. Muito bom mesmo.

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Mantido em perfeito estado de conservação pelas águas glaciais do mar do Norte, repescado por uma traineira e depois descongelado, Napoleão Bonaparte regressa à vida no momento dos atentados jihadistas de Paris, mesmo a tempo de salvar o mundo… Desde François Hollande até às bailarinas de cancã do Moulin Rouge, ninguém ficará indiferente!

A Europa do século XXI vive assolada pelo medo, que não conhece fronteiras e que se respira em Paris como um pouco por todo o lado. Será mais difícil ao Imperador habituar-se a este novo paradigma do que à recém-descoberta Coca-Cola Light, delicioso champanhe negro, que não só não lhe tolda o raciocínio como faz ainda maravilhas à sua célebre úlcera; mas será em direção a Raqqa, a capital do autoproclamado Estado Islâmico, que o seu Novo Grande Exército irá marchar.

Romain Puértolas reage aos tempos sombrios, que são os nossos, com uma generosa dose de humor e esperança, num livro que é uma aventura mas também um desafio: não ceder ao medo e não esquecer que a palavra e a gargalhada são as armas mais eficazes contra toda e qualquer violência.

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Resumindo: e se Napoleão Bonaparte voltasse e acabasse de vez com o Estado Islâmico sem derramar uma ponta de sangue? Era bom não era? Assim simples, mas com muito humor e boa disposiçao...Era! E este livro é uma delícia, tal como o era o anterior livro do mesmo autor "A incrível viagem do faquir que ficou preso num armário do IKEA".

Uma excelente opção para uma leitura ligeira e mas que nos prende desde a primeira página!

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Na primeira semana do primeiro mês do primeiro ano da segunda metade do século XX, ao protagonista, que também faz as vezes de narrador, é dado o nome de Hajime, que significa «início». Filho único de uma normal família japonesa, Hajime vive numa província um pouco sonolenta, como normalmente todas as províncias o são. Nos seus tempos de rapazinho faz amizade com Shimamoto, com quem reparte interesses pela leitura e pela música. Juntos, têm por hábito escutar a colecção de discos do pai dela, sobretudo «South of the Border, West of the Sun», tema de Nat King Cole que dá título ao romance.
Mas o destino faz com que os dois companheiros de escola sejam obrigados a separar-se. Os anos passam, Hajime segue a sua vida. A lembrança de Shimamoto, porém, permanece viva, tanto como aquilo que poderia ter sido como aquilo que não foi. De um dia para o outro, vinte anos mais tarde, Shimamoto reaparece certa noite na vida de Hajime. Para além de ser uma mulher de grande beleza e rara intensidade, a sua simples presença encontra-se envolta em mistério. Da noite para o dia, Hajime vê-se catapultado para o passado, colocando tudo o que tem, todo o seu presente em risco.

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Não dá para fugir, volto sempre a Murakami, pelo menos enquanto tiver livros para ler!

Possivelmente dos Murakami que mais gostei. Bem simples, sem grandes fantasias tão típicas no escritor, uma possível história de amor se assim lhe quisermos chamar, mas acima de tudo o relato da vida de Hajime, personagem principal.

Á semelhança de todos os restantes, este não é um grande livro, mas dá vontade de o ler e se calhar é "só" esse o segredo de Murakami: escrever algo que não é inesquecível mas que não conseguimos deixar de ler.

 

Ir é o melhor remédio: Feiras Novas, Ponte de Lima

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Não sou pessoa de festas populares ou romarias ou outros festejos do género. Esse espírito "popular" e do povo não encaixa com a minha personalidade, muito pouco dada a confusões e aglomerados de gente, regados com músicas e ambientes que não têm nada com que eu me identifique. As Feiras Novas em Ponte de Lima, uma das maiores e mais conhecidas romarias do Norte do país, são uma excepção.

Há alguns anos fomos lá parar por curiosidade, mais para conhecer a terra do que propriamente a festa, mas a verdade é que gostamos daquilo e prometemos voltar. Como por norma estou de férias e fora nesta altura, só este ano conseguimos cumprir a promessa.

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 Já diz a música que "quem não conhece o Minho não conhece Portugal" e, de fato, em poucos lugares Portugal é tão tradicionalmente português como no Minho e, principalmente, numa romaria do Minho. Por ali respira-se "ser português" em cada canto. Milhares de pessoas nas ruas a falarem alto e dizerem palavrões (inevitavelmente português e do norte isto!), música tradicional portuguesa (e não a tradicional música pimba!), concertinas, muitas concertinas, ranchos, enchidos, queijos, presuntos, pão, vinho, muito vinho, barraquinhas a vender de tudo, tascas a rebentar pelas costuras, pessoas a comerem na rua à porta, carrosséis, cheiro a farturas e pipocas e em cada canto um grupo de pessoas totalmente desconhecidas até aquele momento a cantarem e tocarem "à desgarrada". É este espírito tão português, que difere tanto daquilo que eu sou mas que gosto muito de conhecer e sentir, que me faz voltar a Ponte de Lima nesta altura do ano.

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 E porque nestas alturas não lugar para esquisitices e dietas, para entrarmos completamente no espírito, há que jantar numa das tascas mais conhecida de Ponte de Lima, onde não se serve nada que não seja frito e onde matei saudades de uma patanisca de bacalhau, que não comia há anos e que estava uma maravilha!

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Festas à parte, existem tantos outros motivos para visitar Ponte de Lima e o principal é ser mais uma bonita terra do norte de Portugal. Por isso, com festa ou sem festa, vale a pena passearem-se por Ponte de Lima e deixarem-se cativar pelo rio Lima e as suas belas margens.

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