Vivemos num mundo de excessiva valorização do que é material. Não é novidade nenhuma isto; o dinheiro comando o mundo moderno e, por isso, ter tornou-se muito mais importante que ser. Mas também hoje, mais do que nunca, assistimos a fortes incentivos à valorização do "não material". O desprender dos bens materias está na moda, os retiros espirituais em Bali estão na moda (e custam balúrdios, by the way, só para contrabalanças as coisas), o yoga e toda a sua filosofia de bem com a vida está na moda (nada contra, o yoga é provavelmente dos hábitos passados que abandonei de que mais falta sinto!), a meditação está na moda, vender a roupa que já não usamos nas redes sociais está na moda... ou seja, há uma forte corrente no sentido de nos ensinar a viver com menos, mas a viver mais.
Eu gosto de ter. Ou de poder ter aquilo que gostaria de ter. Não sou excessivamente materialista, sou relativamente poupada, não sonho com marcas ou smartphones de última geração, mas gosto de ter as minhas coisas, os meus caprichos. Gosto de poder comprar uma peça de roupa que gosto, gosto de poder esbanjar/investir pequenas fortunas em livros e na minha alimentação "diferente", gosto de ir ali ao site da Ryanair e marcar uma viagem de um dia para o outro (posso fazer uma pausa para?). Gosto. Ponto. E não me envergonho. Felizmente a vida e a idade (maldita idade que tem as costas largas para tudo!) têm me ensinado a, não me armando em fundamentalista, valorizar muitos mais momentos do que coisas, afinal, são os momentos que vivemos, sejam eles bons ou menos bons, que nos tornam pessoa e que fazem esta passagem por cá valer realmente a pena.
Ora e este discurso toda sem nada de novo para quê? Por isto: hoje fui informada pela chefia que, como forma de reconhecimento pelo meu bom trabalho e pela forma positiva como agarrei o desafio que me foi lançado de assumir funções de coordenação há mais de 2 anos, o meu ordenado será aumentado (calma, ainda não vou poder fazer um retiro espiritual em Bali).
Todos nós gostamos de ser reconhecidos pelo esforço e dedicação diárias nas nossas funções, certo? Eu costumo dizer que o meu maior reconhecimento vem do feedback que vou recebendo dos meus clientes, idosos e crianças, e do bom ambiente de trabalho que consigo ter com toda a equipa que coordeno. E de fato tem de ser mesmo isto a alimentar-nos a alma diariamente. Mas o reconhecimento que vem de quem está a cima de nós também é igualmente importante. Fundamental até! Felizmente posso dizer que tenho tido diversos momentos em que fui superiormente reconhecida pelo meu trabalho, alguns deles públicos até, o que alimenta ainda mais a nossa auto-estima. Não tenho vergonha de o dizer, nem o faço com sentido de gabarolas. Eu faço o meu trabalho o melhor que posso e sei. Nem todos os dias são iguais, nem todos os dias estamos com a mesma capacidade, nem todos os dias sou o exemplo do bom profissional. Mas todos os dias sou o meu melhor. Ter um idoso a dizer "toma lá um beijinho que tu és um amor" é bom. Ter um familiar de um idoso dizer "obrigada por tudo o que fizeram pelo meu pai" é bom. Ter uma mãe no final do ano letivo a dizer "obrigada pela forma como sempre educaram o meu filho" é bom. Ter uma equipa com quem almoço diariamente e com quem partilho momentos de verdadeira galhofa mas que também se sente à vontade para desabafar comigo problemas pessoais é bom. Mas ouvir do presidente do conselho de administração dizer "os bons resultados deste centro devem-se ao excelente trabalho de quem dirige diariamente esta equipa e este serviço" ou "você agarrou os desafios que lhe lançamos e superou as expetativas de todo o conselho de administração" também é muito bom. E ser aumentada como forma de reconhecimento por tudo isto é bom. É muito bom! Hoje eu estou feliz por isso. Sem vergonhas. Sem falsas modéstias.
Se é isto que me vai arrancar da cama amanhã para mais um dia de trabalho? Também é! Afinal não podemos esquecer que cada gesto de reconhecimento, material ou humano, tem acima de tudo de ser um elemento motivador e o combustível que nos faz querer ser ainda mais e melhor. Fazer aquilo que gostamos e chegar ao final do dia com aquela sensação deliciosa de missão cumprida tem de ser aquilo que nos move, mas, venha quem vier, o dinheiro também nos move. Tudo nesta vida tem um valor. Tudo. Cada um de nós também o tem. E sabe muito bem saber que a partir de 1 de Setembro o meu valor vai ser superior ao de hoje!
(atendendo à temática, achei que uma foto tirada à porta do Casino de Tróia, encaixava bem aqui...)