São os sentimentos que os fazem crescer
A S. tem 8 anos e é umas das "minhas meninas". Está comigo há 2 anos e confesso que nutro um certo "favoritismo" por ela, já que é uma das pouquíssimas crianças que é verdadeiramente criança, muito embora tanta inocência e mimo acabem por prejudicar a sua aprendizagem.
A S., na 3ª feira, portou-se mal. Fez uma birra de todo o tamanho, a pior coisa que podem fazer quando tentam entrar em conflito comigo. Eu alertei-a duas vezes, ela não cedeu. Eu não a castiguei. Levantei-me e deixei-a sozinha, não sem antes a informar de que não estava zangada com ela, mas sim desiludida e triste, porque os amigos não têm comportamentos daqueles.
No dia seguinte, a S. chegou com os olhos a brilharem, sorriu para mim e esperou o beijinho. Eu disse-lhe "Boa tarde" e continuei o meu trabalho. Rondou-me o resto da tarde e eu falei com ela só o estritamente necessário.
Ontem, antes de sair, a S. veio ter comigo e disse "Desculpas-me? Eu mereço! E prometo que não volta a acontecer. Se eu fizer outra vez fitas deixo de ser o teu caracol e eu gosto tanto de ser o teu caracol". Selámos o compromisso com um beijinho de amigas. Enquanto corria para a porta, a S. gritou "Sou o teu caracol, não sou? Eeeehhhhhh...".
Hoje, ao sair, vejo-a a discutir com a mãe enquanto aguardavam pelo sinal verde para os peões. Ouvi palavras como "Mas eu sou um caracol! Já sou outra vez o caracol da Prof. Na, já somos amigas outra vez".
Talvez haja quem me ache mázinha e cruel, eu chamo-lhe educação pela verdade. Um castigo pouco faria. Mexer-lhe com as emoções deu resultado. A S. percebeu que errou. E, mais importante, demonstrou que a nossa relação tem importância para ela. Para mim, é a melhor lição que ela poderia ter aprendido.