Um dia assim
Já tinha saudades de um dia assim. Agitado, completo, totalmente ocupado.
Já tinha saudades de uma bela noite de insónias. De adormecer às 4 e meia da manhã a saber que daí a menos de 8horas o despertador ia tocar. Já tinha saudades de escolher a roupa adequada para parecer uma psicóloga e não uma menina, de sair de casa a correr para entrar num Seminário sobre Cuidados de Saúde Primários e ouvir coisas interessantes e enriquecedoras. Já tinha saudades de vir a casa almoçar, arrumar a cozinha, fazer a cama e correr de novo para os compromissos. De me preocupar com as horas e com o trânsito quando tenho um menino que julga que a Terra é o Planeta Azul porque a maior parte da sua população é água à minha espera, ainda que esse mesmo menino não aparece á hora marcada mas nos ache bonita, que o menino seguinte se tenha recusado a falar fosse o que fosse comigo, porque afinal não é maluco e por isso não tem de ir à psicóloga e que todos os outros meninos gritem, corram e ofereçam porrada a outros mais indefesos com a cabeça de um pónei. Já tinha saudades de caminhar para o carro e ligar ao namorado - "Já saí. Vens ter lá a casa?" e à mãe - "Olha, afinal vou mais cedo para casa". Já tinha saudades de conduzir e sentir a cabeça a latejar de cansaço. De chegar a casa, pousar a mala e sair para jantar fora com a melhor companhia de todos os dias desde há 3 anos para cá (ainda que o tenha visto a desperdiçar um salário mínimo nacional numa PDA xpto). E quando finalmente pensamos que a cama está já tão perto é sempre bom ouvir o pai a dizer "Filhinha podes preparar-me uns documentos para amanhã?". Sim posso! Posso isso e muito mais, porque o melhor de tudo é chegar à cama e sentir que o dia de hoje nos realizou.