Velhos tempos, velhas mentes
De entre as muitas conversas que tenho com as minhas utentes idosas, há um tema que alguma frequência acaba por vir à baila: a violência doméstica. Antes de continuar é preciso não esquecer de enquadrar todos os locais onde exerço: bairros sociais. E tratando-se de utentes idosas, podemos acrescentar bairros sociais de há muitos anos atrás.
Quando as palavras fogem para a violência doméstica, a mesma é quase sempre tratada com a maior das naturalidades, sem o pudor ou a vergonha de que normalmente se reveste. Aquelas senhoras lamentam ter passado por ela, mas nunca lamentam o marido que tiveram e que as levou a essa triste passagem. Muitas vezes chegam mesmo a transmitir uma tal adoração e amor pelo dito cujo, ao ponto de dizerem coisas como "batia-me, mas pôr-me pisada nunca pôs, lá nisso ele tinha muito cuidado", que a dada altura já não sei se o que mais me incomoda é o facto de ter existido violência, se o facto de para elas isso ser a coisa mais normal do mundo.
Na verdade, com tanto que tenho visto e ouvido, começo a achar que já nada me choca e já nada me incomoda.