Quando o cérebro nos rouba um ente querido
«Só quando cheguei a casa notei que não vertera uma lágrima. Apenas os meus complxos de culpa me impediam de reconhecer o óbvio: o que sentia não era tristeza, mas alívio. Isto pode parecer - e é-o - difícil de admitir, mas é o que sucede a quem tem pais com doenças psíquicas prolongadas. Os onze anos, em que assitira a uma mente brilhante deteriorando-se, haviam-me conduzido ao desespero. Não esquecera que ela tinha tentado domesticar-me, que em ocasiões em que eu estava frágil me ferira, que fora demasiado dogmática para me aceitar como sou, mas os nossos conflitos nunca me impediram de a admirar e, quem sabe, de a amar.»
"A Morte", Maria Filomena Mónica