«Apercebi-me de que não tenho ambição. Não posso ter. Tudo quanto quero é sentir-me normal. Viver como toda a gente, com uma experiência a assentar noutra experiência, com cada dia a dar forma ao dia seguinte. Quero crescer, aprender coisas e aprender com as coisas. Ali, na casa de banho, pensei na minha velhice. Tentei imaginar como irá ser. Ainda acordarei, com os meus setenta ou oitenta anos, a julgar-me no início de vida? Acordarei sem fazer ideia de que os meus ossos estão velhos, as articulações rígidas e pesadas? Não consigo imaginar como aguentarei quando descobrir que a minha vida já passou, que já aconteceu, e que não tenho nada para mostrar do que fiz. Não tenho nenhuma reserva de recordações preciosas, nenhuma riqueza de experiência, nenhuma sabedoria acumulada para legar. Quem somos nós, senão uma acumulação das nossas memórias? Como me sentirei, quando olhar para um espelho e vir o reflexo da minha avó?»
"Antes de adormecer", J. L. Watson