É o mundo que se deixa ver
«Nós não esperamos. Esperam-nos coisas e pessoas; novidade e aventuras. A morte espera por nós. Nós sabemos que ela lá está mas é uma perda de tempo passar a vida à espera dela.
Estando atentos e abertos, raparamos mais nas peqeunas maravilhas e desgraças que nos rodeiam: as caras das pessoas, o que dizem, como reagem, os insectos, os passarinhos, os restos de azulejos, as plantas que conseguem nascer nas falhas de cimento.
Quando nos tornamos espectadores, levanta-se um espectáculo à nossa frente. Em vez de intervir, de apressar, de tentar resolver, é melhor deixarmo-nos ir com a corrente.
As coisas importantes são aquelas de que vamos ter saudades quando deixarmos de as ter. As mais simples são as mais importantes: poder andar, poder ler o dia inteiro, ter companhia, haver quem goste de nós.
(...)
Em vez de nos queixarmos do que vemos e repetrimos o que preferiamos ver, podemos usar os olhos para olhar, para ver o muito ou o pouco que ali está. É o mundo que se deixa ver. Está à mostra. Não tem escolha. A escolha é nossa.
(...)
O luxo é estar cá e passar-se tudo como se não existíssemos. É possível tentar alterar o mundo e deixar uma pequena marca, que pouco durará. Mas gasta muita energia. Vivemos num mundo onde há muita coisa que já está feita. O que falta fazer, comparando com o que já se fez, é importante mas pouco.»
"Como é linda a puta da vida", MEC