A (in)utilidade do sofrimento
Megan Fox
O sofrimento é intrínseco à condição humana. Uns de forma mais intensa do que outros, todos acabam por o vivenciar. O sofrimento tem múltiplas formas de expressão e múltiplas fontes. É sempre subjectivo, na causa e na(s) consequência(s). É humanamente necessário ao crescimento pessoal, à mudança, à aprendizagem, porque representa um período de crise, de dor, de desespero, de reflexão e tudo o que nos faça pensar faz-nos mudar. Preferencialmente, para melhor. Mas o sofrimento é também extremamente inspirador. Todos os grandes feitos artísticos têm por base momentos de profundo sofrimento. Fingido ou real. As músicas que saltam para os tops são aquelas que cantam amores perdidos, ilusões desfeitas, perdas insubstituíveis. Os best sellers literários são aqueles que contam amores impossíveis, sofridos, mas com finais sempre felizes e de sonho. Os filmes que enchem salas de cinema são aqueles que nos comovem até à pontinha dos pés e que fazem chorar as pedras da calçada. O ballet dança sofrimento a cada passo. A ópera grita sofrimento (mas que raio percebes tu de ballet e ópera?). As reportagens jornalísticas que ganham prémios retratam histórias de sofrimento, com ou sem finais felizes. E é o sofrimento que inspira tudo isto, que vende tudo isto e que nos prende a tudo isto. Vivemos aquele sofrimento como se fosse o nosso e comparamos sofrimentos, ora positiva, ora negativamente: "Como posso queixar-me da minha vida perante tudo isto?" ou então "Isto comparado com a minha vida não é nada".
Perante tudo isto, como podemos ignorar o sofrimento? Como podemos negá-lo. Está na nossa vida desde sempre e para sempre. Vivido ou sentido. Visto, lido, ouvido...está em nós. E enche-nos o ego. A alma. Inspira-nos a sentir e a criar. A criar sentimentos, emoções e vida. Para nós e para os outros. Promove crescimento e mudança. Em nós e nos outros. É útil. Para nós e para os outros.