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1001 pequenos nadas...

...que são tudo, ou apenas esboços da essência de uma vida entre as gentes e as coisas, captados pelo olhar e pela mente livre, curiosa e contemplativa. Por tudo isto e tudo o resto: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

1001 pequenos nadas...

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Aviso a todos os fâs do nosso nobel

Todos os livros de Saramago, no Jumbo, com 50% de desconto imediato.
Imperdível!
Para quem, como eu, já os tem quase todos, é a altura ideal para procurar aqueles menos conhecidos e adquiri-los por um preço fantástico (Viagem a Portuga, por 9€, já cá canta). Para quem ainda está a começar a viajar por Saramago, é uma excelente oportunidade para enriquecer a vossa biblioteca!
Não percam!

As horas

«Que horas são, É uma pergunta que sempre se faz e sempre tem resposta, saber as horas, distraem-se as pessoas a pensar no tempo que ainda falta ou já passou, e ditas as horas que são ninguém mais pensa nisso, foi uma necessidade de interromper qualquer coisa ou pôr em movimento o que estava parado (...)

JSaramago 

«Levantado do Chão», José Saramago

«A transformação social. A contestação. Personagens em diálogos. As cruentas desigualdades sociais. Surgem as perguntas proibidas. Vai-se adquirindo consciência e espaço, para que tudo se levante do chão. Um livro composto por 34 capítulos. No 17.º está a tortura e a morte de Germano Santos Vidigal. Germano, o nome que significa irmão, o homem da lança. Apesar de vencido, o sacrifício da sua vida indica o caminho. «Já o encontraram. Levam-no dois guardas, para onde quer que nos voltemos não se vê outra coisa, levam-no da praça, à saída da porta do sector seis juntam-se mais dois, e agora parece mesmo de propósito, é tudo a subir, como se estivéssemos a ver uma fita sobre a vida de Cristo, lá em cima é o calvário, estes são os centuriões de bota rija e guerreiro suor, levam as lanças engatilhadas, está um calor de sufocar, alto». As mulheres são também chamadas à primeira linha das decisões neste belo romance de Saramago. O diálogo monossilábico entre marido e mulher da família Mau-Tempo vai-se alterando. Interessante observar uma narrativa que vai da submissão ao sentido de libertação, através de gerações.»

 (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)

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   E assim termino mais um livro do nosso mui nobre Nobel da literatura. Custou-me bastante entrar no ritmo de leitura deste livro, que achei bem mais complexo que as suas obras mais recentes. Se me perguntarem se gostei, claro que gostei, é Saramago, como posso não gostar? Se me perguntarem, recomendas, respondo que recomendo apenas para quem já conhece grande parte da obra de Saramago, caso contrário corre o risco de não querer ler mais nenhum. Não está de todo na minha lista de favoritos, mas não me podia escapar.

   A partir de agora começa a ficar verdadeiramente complicado encontrar mais livros de Saramago para ler. Diria que os "best of" já estão todos cá em casa e mesmo nas livrarias começo a não encontrar nenhum dos seus livros menos falados...

...o dia que é, mais o dia que foi...

«Mais acertado será então dizer que cada dia é o dia que é, mais o dia que foi, e que os dois juntos é que são o de amanhã, até uma criança deveria saber estas coisas simples, mas há quem cuide de partir os dias como se cortasse cascas de melancia para dar a porcos, quanto mais pequenos os bocados, maior a ilusão da eternidade, por isso é que os porcos dizem, Oh Deus dos porcos, quando será que matamos a fome.»

JSaramago, Levantado do Chão 

Pára, não gires...

 
«A gente vai falando para passar o tempo, ou para não deixar que ele passe, é um modo de pôr-lhe a mão no peito e dizer, ou suplicar, não andes, não te movas, se dás esse passo pisas-me, que mal eu te fiz. É também como baixar-me, pôr a mão na terra e dizer-lhe, Pára, não gires, ainda quero ver o sol.»
Levantado do chão, JSaramago
 

O mundo...

«O mundo, com todo este peso, esta bola sem começo nem fim, coberta de mares e de terras, toda esfaqueada de rios, ribeiros e regatos, a escorrer a aguazinha clara que vai e volta e é sempre a mesma, suspensa nas nuvens ou escondida nas nascentes por baixo das grandes lajes subterrâneas, o mundo que parece uma brutidão aos tombos no céu, ou silencioso pião como um dia o hão-de ver os astronautas e já podemos ir antecipando, o mundo é, visto de Monte Lavre, uma coisa delicada, um relogiozito que só pode aguentar um tanto de corda e nem mais uma volta, e se põe a tremer, a palpitar, se um dedo grosso se aproxima da roda balanceira, se vai roçar, mesmo de leve, a mola do cabelo, ansiosa como um coração.»

Levantado do Chão, JSaramago 

«Terra do Pecado», José Saramago

   Deste livro, que é de 1947 e o primeiro a ser escrito por Saramago e que antecedeu aquela interrupção literária, só há uma coisa a dizer: para quem conhece as obras de Saramago, pelo menos "as mais recentes", ficamos com a nítida sensação de que não estamos a ler um livro de José Saramago, nada nele é Saramago. Nada. Ou talvez uma coisa: a facilidade com que o lemos e nos embrenhamos na história. É tal a normalidade deste enredo que facilmente nos esquecemos que este autor é um Nobel da Literatura. Ainda assim, para um livro escrito nos anos 40 está bastante actual e moderno para a época. Para quem gosta de Saramago, não há como escapar.

«Todos os nomes», José Saramago

 

O protagonista é um homem de meia idade, funcionário inferior do Arquivo do Registo Civil. Este funcionário cultiva a pequena mania de coleccionar notícias de jornais e revistas sobre gente célebre. Um dia  reconhece a falta, nas suas colecções, de informações exactas sobre o nascimento  (data, naturalidade, nome dos pais, etc.) dessas pessoas. Dedica-se portanto a copiar os respectivos dados das fichas que se encontram no arquivo. Casualmente, a ficha de uma pessoa comum (uma mulher) mistura-se com outras que estás copiando. O súbito contraste entre o que é conhecido e o que é desconhecido faz surgir nele a necessidade de conhecer a vida dessa mulher. Começa assim uma busca, a procura do outro.

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   Mais um livro do meu querido José Saramago e mais um que não desilude e de muito fácil leitura. A história desenrola-se facilmente e de forma muito leve, ao ponto de nos prender às suas páginas sem nos cansar com longos discursos ou descrições que maçam mais do que informam. Sem dúvida, um dos que vai para a lista dos favoritos.

 

   E agora, uma pausa de Saraamgo e abrimos um livro que me desperta muita curiosidade: "A manhã do mundo", de Pedro Guilherme-Moreira.  

«...não é o um, mas o dois...»

 

 

   «Vou explicar-lhe uma coisa, Diga, Começarei por lhe perguntar se sabe quantas são as pessoas que existem num casamento, Duas, o homem e a mulher, Não senhor, no casamento existem três pessoas, há a mulher, há o homem, e há o que chamo a terceira pessoa, a mais importante, a pessoa que é constituída pelo homem e a mulher juntos, Nunca tinha pensado nisso, Se um dos dois comete adultério, por exemplo, o mais ofendido, o que recebe o golpe mais fundo, por muito incrível que isto lhe pareça, não é o outro, mas esse outro que é o casal, não é o um, mas o dois, E pode-se viver realmente com esse um feito de dois, a mim já me custa viver comigo mesmo, O mais comum no casamento é ver-se o homem ou a mulher, ou ambos, cada um por seu lado, a querer destruir esse terceiro que eles são, esse que resiste, esse que quer sobreviver seja como for, É uma aritmética demasiado complicada para mim, Case-se, arranje uma mulher, e depois me dirá (...)»

 

JSaramago, "Todos os nomes"