Os meus queridos livros
Pensei: os meus queridos livros. Era o que eu pensava e sentia: os meus queridos livros. Olhava-oes como se estivessem vivos e pudessem sofrer. Como se pudessem também entristecer.
Gostei de colocar a hipótese de os livros serem como bichos. Isso faz deles o que sempre suspeitei: os livros são objectos cardíacos. Pulsam, mudam, têm intenções, prestam atenção. Lidos profundamente, eles estão increvelmente vivos. Escolhem leitores e entregam mais a uns que a outros. Têm uma preferência. São inteligentes e reconhecem a inteligência.
Os livros estão esbugalhados a olhar para nós. Quando os seguramos, páginas abertas, eles também estão esbugalhados a olhar para nós.
Valter Hugo Mãe, "Contos de cães e maus lobos"