Há Amor
Entre os japoneses é considerado inconveniente dizer-se que se ama alguém. A manifestação de emoções é rara e nem sempre bem encarada na retidão exigida à personalidade japonesa. Os relacionamentos afetivos e amorosos são mais distantes e mais formais, vividos por pessoas não propriamente "frias", mas mais reservadas e sem grandes manifestações físicas públicas, por exemplo beijos ou mãos dadas. Ao ler o "O Reino do Meio" de José Rodrigues dos Santos, o escritor faz referência precisamente a esta característica deste povo, escrevendo que entre casais apaixonados o tradicional "amo-te" é substituído por um "Há Amor". Ora eu que não sou pessoa de "amo-tes" nem de grandes manifestações amorosas (yep,casca dura!) acho este "há amor" algo absolutamente delicioso e cheio de sentimentos e emoções e tudo e tudo. O "amo-te" banalizou-se. A carga emocional que uma simples palavra como esta poderia e deveria ter perdeu-se a partir do momento que a vemos estampada em tudo quanto é imagem, mensagem ou almofada do Ikea. O "amo-te" deveria ser forte, fazer estremecer por dentro, abalar qualquer convicção. Mas não. O "amo-te" aligeirou-se e tornou-se um "I love you": fica bem em qualquer lado! Mas apesar de disto, o amor, aquele puro e pra valer, ainda é tudo e um "há amor" pode trazer tudo o que o amor que se quer pôr em palavras pode trazer. Porque quando se ama, seja de que forma de amor for, há amor. E é só isto que interessa, que haja amor! Sempre. A cada dia, em todos os momentos, mais que se amem, que haja amor! Porque mesmo naqueles instantes mais negros em que o "amo-te" parece que não faz sentido nem encaixa, continua a haver amor. E enquanto houver amor, vale a pena. Amo-te é momentâneo. É aqui e agora. Há amor não tem tempo, não se encerra, não se acaba, não tem hífens. E além disso tudo, a vida é boa quando há amor!